E aí galera! Há algum tempo atrás estreei minha coluna pessoal aqui no BRMX. Nas duas primeiras edições relatei como foram as viagens que fiz, na companhia do meu pai, para assistir rodadas do AMA Supercross, em 2011 e 2014, um sonho que eu alimentava desde a infância (se você ainda não viu, leia aqui e aqui).
Hoje quero compartilhar com vocês como surgiu a minha paixão pelo motocross, afinal de contas, se estou dizendo que viajar para os Estados Unidos para assistir o AMA Supercross era um sonho de infância, então é claro que tudo começou ainda na minha infância.
Também quero aproveitar a oportunidade para contar mais sobre a carreira do meu pai (meu principal influenciador) que foi piloto de Enduro de Regularidade, Enduro FIM e Cross Country entre o final da década de 80 e a primeira metade dos anos 90, além de ter sido um dos pioneiros das trilhas e enduros aqui na Serra Gaúcha.
Carreira do meu pai
Meu pai, que também se chama Renato Dalzochio (sim, meu último nome é Júnior) começou a andar de moto quando tinha 18 anos, em 1981. Na época sua paixão pelas motos off-road surgiu quando ele foi assistir rodadas do Brasileiro de Motocross aqui no Rio Grande (se não me engano na região de Porto Alegre, mais precisamente em Novo Hamburgo). Logo o gaúcho Pedro Bernardo Raymundo, o “Moronguinho”, se tornou seu maior ídolo (ele guarda até hoje os pôsteres que comprou dele naquela época).
Posteriormente ele improvisou um circuito numa propriedade particular que meu avô tinha comprou uma Yamaha e passou a “imitar” o Moronguinho na pista (kkkk).
Sua primeira competição também foi a primeira realizada aqui na cidade onde moramos, Farroupilha. No dia 6 de dezembro de 1986, o Moto Clube Farroupilha realizou uma prova de Trial (aquela em que os participantes devem transpor obstáculos sem colocar os pés no chão), reunindo pilotos de diversas cidades do Estado.
Os pilotos foram divididos em duas categorias: A e B. Cada piloto tinha direito a duas apresentações individuais no circuito de obstáculos, sendo que os cinco melhores se classificavam para a final de sua respectiva categoria, numa última apresentação individual, que definiria o pódio da competição, tanto na categoria A como na categoria B.
Após uma apresentação horrível na primeira bateria e outra mais ou menos na segunda, meu pai garantiu a quinta e última vaga para a final da categoria A. Na grande final, apresentação impecável, o que rendeu uma vitória logo na sua primeira competição profissional.
Para dar uma resumida: em 1988 (ano que eu nasci) meu pai foi vice-campeão gaúcho de Enduro de Regularidade na categoria Estreante, com direito à vitória no tradicional Enduro dos Pampas, prova que na época era válida pelo Brasileiro de Enduro de Regularidade e reunia pilotos de diversas partes do país, largando a meia-noite na cidade de Bento Gonçalves e chegando na beira-mar da praia de Tramandaí por volta das 18h (550 km e 18 horas de enduro!).
Em 1989 sagrou-se campeão gaúcho de Enduro de Regularidade na categoria Novatos. Em 1991, venceu o Enduro Nacional dos Vinhedos (outra prova disputada aqui na Serra Gaúcha que na época era válida pelo Brasileiro de Enduro de Regularidade) na categoria Graduados (atual categoria Sênior). Em 1993, foi 2º colocado no Enduro Nacional dos Vinhedos, também na categoria Sênior.
Entre 1995 e 1997, meu pai experimentou um período de inatividade das trilhas e dos enduros, voltando em 1998, no Campeonato Gaúcho de Enduro FIM (sua estreia na modalidade). Em 1999, após 5 anos sem participar de uma prova de enduro de regularidade, voltou a disputar o Enduro Nacional dos Vinhedos, terminando em 5º lugar na categoria Sênior (com direito à vitória no terceiro e último dia).
Ainda em 1999, foi 3º colocado no Campeonato Gaúcho de Enduro FIM, na categoria Importadas 4 tempos. A última competição oficial disputada por meu pai foi uma etapa do Campeonato Gaúcho de Cross Country de 2005, realizada aqui em Farroupilha. Ele foi o 3º colocado na categoria Over 40. Em quase 20 anos de carreira, foram quase 100 troféus conquistados.
Além disso, ainda nos tempos de enduro de regularidade, lá no início de sua carreira, ele disputou duas edições do tradicional Enduro da Independência, 1988 e 1989.
O vídeo abaixo é uma filmagem caseira (editada e postada por mim) de uma etapa do Gaúcho de Enduro de Regularidade de 1994, disputada na cidade de São Francisco de Paula (o tradicional Enduro de São Chico).
Meu pai é o número 11, ficou em 3º lugar na categoria Sênior. Criei este canal no Youtube, chamado “Enduro 90s”, com a intenção de postar vídeos dos enduros de antigamente aqui no RS, e assim pretendo seguir fazendo (uma forma de preservar a memória do esporte).
Enduro de São Chico 1994
Minha paixão por motos off-road
Como vocês devem ter percebido, nasci na melhor fase da carreira do meu pai como piloto de enduro (kkkk). E como eu já havia citado nas duas colunas em que falei das viagens para assistir o AMA Supercross, minha paixão pelo esporte obviamente foi por influência dele.
Meus primeiros anos de vida se resumiram a minha mãe acompanhando meu pai nas etapas do Gaúcho de Enduro Regularidade, nos finais de semana, e eu no colo dela, com ela levando junto tudo que era necessário para cuidar de mim: mamadeira, fraldas, comida, etc. E mesmo antes disso, quando ainda estava grávida de mim, ela já acompanhava ele nos enduros.
No meu aniversário de 1 ano ganhei uma motoca de presente. Quando eu tinha 3 anos, meu pai adaptou uma mini planilha de enduro de regularidade nela, só para dar mais realidade a minha imaginação quando eu brincava que estava participando de uma prova (kkkk).
Praticamente cresci vendo meu pai disputar de provas de enduro de regularidade, mas a lembrança mais marcante que tenho dessa época são as participações dele no Enduro dos Vinhedos, pois era o enduro mais famoso aqui na Serra Gaúcha (por muitos anos o maior do Rio Grande do Sul e eleito pela maioria dos pilotos o melhor e mais difícil do Brasil).
Assistir a chegada do Vinhedos (incluindo meu pai) era um dos “eventos anuais obrigatórios” mais divertidos daquela época (kkk).
Com 4 anos ganhei minha primeira bicicleta. Com 5, meu pai tentou me ensinar a andar com uma motinho de 50cc, mas fiquei com medo e arreguei (kkkk). Só fui criar coragem de dar as primeiras aceleradas (com uma 50cc) quando eu tinha 11 anos.
Nesse período, a partir dos 7 anos de idade, descobri a série de filmes VHS “Terrafirma”, estrelada pelo Rei do Supercross Jeremy Mcgrath. Logo Mcgrath tornou-se meu grande ídolo (assim como o Moronguinho tinha sido o ídolo do meu pai) e passei a acompanhar os resultados do AMA Supercross e AMA Motocross pela revista Dirt Action (que como vocês devem saber, existe até hoje).
Como TV por assinatura naquela época era praticamente um artigo de luxo, só comecei a assistir as rodadas do AMA Supercross quando eu tinha 12 anos, em 2001, na casa dos meus avós (as corridas passavam na ESPN). E detalhe, como eu já estava enjoado de assistir os VHS dos enduros de antigamente que meu pai participava, comecei a gravar estas corridas no vídeo cassete do meu avô.
Aprendi a andar de moto com 14 anos, com uma DT 200 emprestada por um amigo do meu pai. Nessa época meu pai tinha uma Suzuki DR 350cc 4 tempos, modelo 1997, ou seja, aprender a andar com uma moto dessas seria complicado. Mas depois de várias andadas com a DT 200, já confiante e tendo pegado o jeito da coisa, passei a pilotar a DR do meu pai.
Dos 14 aos 18 anos, todos os finais de semana meu pai me levava na pista de motocross da cidade para dar umas aceleradas, algo que sempre fiz como hobby, nunca com pretensões profissionais (e também nada de técnicas profissionais de pilotagem na pista, meu pai nunca foi piloto de motocross e a moto era de trilha, então nos divertíamos do nosso jeito, na raça e na coragem mesmo kkkk).
Apenas em 2007, quando eu tinha 18 anos, disputei uma corrida de motocross amador aqui em Farroupilha. Como a moto era uma DR 350cc, me inscrevi na categoria Trilheiros da Serra, finalizando em 8º lugar entre os 19 inscritos na categoria.
Posteriormente a esta corrida tive que parar com o motocross por recomendação médica. Tenho escoliose na coluna vertebral, problema que descobri quando tinha 10 anos e a pratica do motocross poderia agravá-lo.
A evolução nas transmissões do AMA Supercross
Em 2006 a forma de acompanhar o AMA Supercross mudou. Passei a madrugar na frente do PC para escutar a transmissão das corridas ao vivo via web rádio no site oficial da competição e acompanhar o “living time” (cronometragem) em tempo real.
Nessa época o Youtube ainda era uma novidade na internet, portanto, vídeos das corridas, somente “pedaços” e isso quando alguém resolvia postar. A partir de 2007 começou a febre dos DVDs piratas, já que muita gente baixava as corridas via Emule e depois vendia aos interessados na internet.
Lembro-me que comprei todas as rodadas de todas as temporadas do AMA Supercross e AMA Motocross entre 2007 e 2011, quem me vendia era um cara de Goiás (impossível lembrar o nome).
A partir de 2012 as corridas passaram a ser publicadas no Youtube (que já estava mais popularizado) e a era dos DVDs foi definitivamente encerrada. Nessa mesma época, em 2013, começaram as transmissões ao vivo em vídeo que conhecemos hoje, primeiro em sites piratas, e depois, a partir de 2015, no site oficial do campeonato.
De piloto (amador) a colunista
Vou evitar falar das viagens que fiz com meu pai para assistir o AMA Supercross porque já relatei isso nas duas primeiras edições desta coluna. Quero encerrar falando brevemente do meu trabalho ligado ao jornalismo do motocross.
Ser repórter de motocross foi a maneira que encontrei de me manter próximo do esporte que tanto amo, já que, pelos motivos citados anteriormente, tive que deixar de praticá-lo. Também sempre gostei de ler e escrever e enxerguei nisso uma oportunidade.
Do final de 2006 até abril de 2013, trabalhei para o site Mundocross, do meu grande amigo (in memorian) Jorge Soares, que foi quem me abriu as portas nesta profissão, dando a primeira oportunidade que tive.
De abril de 2013 a abril de 2018, fui editor do meu próprio site, o Cross Clube Brasil (que vocês com certeza devem ter conhecido, mas que hoje já não está mais no ar), e desde abril de 2018 uni forças ao Mau e ao BRMX, levando até vocês todas as notícias, fotos, vídeos, reportagens e entrevistas sobre AMA Supercross e AMA Motocross, Mundial de Motocross e Motocross das Nações.
Nestes quase 15 anos, foram muitas coberturas in loco, dentre as mais marcantes destaco: Brasileiro e Gaúcho de Motocross, AMA Supercross, Mundial de Motocross (GP Brasil no Beto Carrero), Brasileiro e Gaúcho de Enduro FIM e Copa Minas Gerais de Motocross.
Em todas elas, fiz amizades que duram até hoje e vivi momentos que jamais vou esquecer. Momentos de muito trabalho, é verdade, mas também muitos momentos engraçados e divertidos, com incontáveis risadas.
Por hoje é isso pessoal, espero que tenham gostado da minha história pessoal e das histórias sobre a carreira do meu pai como piloto de enduro. Na próxima coluna quero contar mais sobre a história do enduro de regularidade aqui no Rio Grande do Sul. Embora a minha paixão seja o motocross, tenho um carinho especial pelo enduro (especialmente o regularidade), pois foi através desta modalidade que fui “picado” por este universo tão viciante que é o das motos off-road.