O presidente da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo) concedeu entrevista ao BRMX na quarta-feira, 10. Firmo Henrique Alves fez um balanço de 2012 e falou de alguns planos para 2013, ano que ele promete um Campeonato Brasileiro de Motocross mais bem elaborado e executado.
Nesta quinta-feira, 11, você lê as primeiras dez respostas do presidente. Na sexta-feira, 12, as outras dez. Contas da CBM, Motocross das Nações, Copa das Federação, parceria com a Romagnolli, transmissão do Brasileiro na TV, entre outras pautas são os assuntos. Algumas questões, porém, Alves preferiu protelar a resposta até dia 13 de dezembro, quando a CBM realizará uma festa de encerramento de 2012 e divulgará o regulamento e locais das provas do Brasileiro de Motocross 2013.
Leia, salve, e cobre as ações no futuro!
BRMX: Como o senhor avalia o Campeonato Brasileiro de Motocross 2012? O que foi bom e o que deixou a desejar?
Firmo Alves: Fiz o máximo com o pouco que tinha. Mesmo com todas as dificuldades, mostramos que temos competência para fazer um grande campeonato. Cumprimos com todas as promessas feitas (etapas, locais e categorias). Apesar das condições que assumi a CBM (sem equipe, sem veículos, sem equipamentos, dívidas e sem sede), consegui manter um nível técnico e promocional bastante elevado. Sou perfeccionista. Jamais irei me contentar, portanto creio que muita coisa deve melhorar e isso as pessoas irão começar a ver a partir de 2013.
Capacitamos um grande número de pessoas pela Federação Internacional de Motociclismo – FIM –, e isso não acontecia antes. Hoje temos uma boa equipe técnica de trabalho, adquirimos uma série de equipamentos novos, temos um local de trabalho estruturado e iremos adquirir veículos novos para o ano seguinte.
Penso que um dos grandes saltos para 2013 será o grande investimento em mídia que faremos. Isso trará um retorno direto aos nossos patrocinadores e dos pilotos.
BRMX: A CBM já divulgou que o Brasileiro de Motocross 2013 terá transmissão pela TV. Isso está confirmado? Qual é o canal? Quais provas e quais categorias? Explique melhor essa transmissão, por favor.
Firmo Alves: A transmissão ao vivo é uma realidade para 2013. Mas os detalhes serão divulgados somente no lançamento oficial do campeonato, no dia 13 de dezembro. O que posso adiantar é que a segunda bateria da MX1 será transmitida pela TV, ao vivo. Todo o restante do campeonato será transmitido pela CBMTV.
BRMX: Em 2012 tivemos o calendário anunciado com bastante antecedência, porém, no decorrer no ano, houve alteração em local de prova. A que se deve isso e como a CBM vai fazer para não repetir esse problema em 2013?
Firmo Alves: Pela primeira vez na história da entidade foi divulgado um calendário antes do final do ano, e faremos o mesmo esse ano. Lançaremos o calendário oficial de todas as modalidades na Festa dos Campeões em São Paulo, no dia 13 de dezembro. As mudanças feitas no ano passado foram em função das três primeiras etapas do nosso campeonato confrontarem com as datas da Liga (Superliga Brasil de Motocross) e como a alegação da Promotora (Romagnolli Promoções e Eventos) era de que não poderia ser alterado em função do contrato com a TV, para não prejudicarmos os pilotos, fizemos várias alterações. Nós divulgaremos esse ano com antecedência novamente com o objetivo de ajudar os pilotos a se programarem, facilitar a vida dos competidores. Porém, podem ocorrer casos extremos e de força maior em que as mudanças serão necessárias, mas não é a intenção da CBM.
BRMX: Já tem um calendário de provas (datas e locais) pré-definido para 2013? Qual seria?
Firmo Alves: Já existe um pré-calendário com datas e locais definidos, mas faremos o lançamento do calendário oficial definitivo somente no dia 13 de dezembro. Por enquanto iremos divulgar apenas as datas. A competição terá no mínimo oito etapas, e começará em abril.
1ª Etapa – 7 de abril
2ª Etapa – 5 de maio
3ª Etapa – 2 de junho
4ª Etapa – 7 de julho
5ª Etapa – 4 de agosto
6ª Etapa – 1º de setembro
7ª Etapa – 6 de outubro
8ª Etapa – 20 de outubro
BRMX: Em 2012 se viu um campeonato com poucos pilotos no gate, principalmente nas categorias MX1 e MX2, as principais da competição. Na MX1, por exemplo, apenas oito pilotos fizeram todas as provas. O que a CBM pensa em fazer para encher o gate em 2013?
Firmo Alves: Os motivos são vários, citarei os principais: nos últimos anos o preço da motocicleta dobrou; embora o Brasil seja grande, não há espaço para dois campeonatos similares. Isso desgastou demais a todos os pilotos; a CBM vinha caindo no descrédito pela forma como o antigo gestor a estava administrando; patrocinadores importantes saíram do campeonato e da CBM.
Agora, adotamos medidas importantes para a reversão desse quadro: estarei pessoalmente empenhado para que a Lei de Isenção seja regulamentada pela Receita Federal ainda esse ano, o que irá proporcionar uma redução no custo das peças, equipamentos e das motocicletas. Outro fator é que, com campeonato único, o custo de participação do piloto irá diminuir drasticamente. E com o novo modelo de gestão implantado, saneando a entidade, ouvindo e respeitando a todos os pilotos, tratando com seriedade os nossos patrocinadores, gerindo a entidade com transparência financeira e administrativa e capacitando os técnicos da CBM em suas áreas específicas, tenho certeza que a partir de 2013 retomaremos a confiança de todos. A consequência será o aumento do número de pilotos, de patrocinadores e de público.
BRMX: Uma das melhores etapas do Brasileiro MX 2012 aconteceu em Aracaju, capital do Sergipe. Lá tivemos público, cobertura da mídia local, box com acesso para os torcedores, etc. Em compensação, tivemos provas em cidades do interior, distantes e de difícil acesso para a maioria dos participantes, como Nova Alvorada do Sul, Sorriso e Dourados, enquanto São Paulo, o maior centro do país, ficou fora do calendário. Por que fazer provas nestes locais e não priorizar as capitais? Isso influenciou no baixo número de pilotos?
Firmo Alves: Devido ao grande espaço ocupado por um motódromo, no mundo inteiro a maioria das provas de motocross é em cidades bem pequenas e do interior. Cito como exemplo Lommel (Nações 2012) e San Jean de Angely (Nações 2011), e salvo engano, boa parte das etapas do mundial de MX também acontece em cidades interioranas, isso acontece por várias razões.
No Brasil não poderia ser diferente. Em todas as nossas provas tivemos pontos positivos e negativos. O que quero eliminar são os pontos negativos de todas elas e implantar o positivo em todas. Embora Sorriso seja distante do sul do país, é a única prova que acontece no centro do Brasil. Lá foi uma das provas mais bem organizadas de todas as etapas e o motódromo é um dos mais estruturados do Brasil. Nova Alvorada e Dourados ficam a uma distância aproximada de 250 km dos estados de São Paulo e Paraná, no centro-sul do País, que é a região que mais concentra pilotos, portanto não são cidades de difícil acesso. As duas tiveram toda a infraestrutura necessária para um grande evento.
A determinação de um local não influencia a não participação de um piloto. A decisão de participação é tomada pelas condições pessoais e não pela cidade. Infelizmente a CBM não pode simplesmente apontar um local e ir lá realizar uma prova. O local de uma prova é determinado principalmente pelas condições que a federação local e o promotor local da etapa oferecem de infraestrutura mínima necessária.
Geralmente, nas poucas capitais que têm pistas, elas se localizam na periferia ou sítios particulares, com raras exceções, não se têm um notódromo em um local próximo ao centro, o que dificulta o acesso do público, o box é pequeno e sem estrutura. O meu desejo é de realizar provas nos grandes centros sim, estou trabalhando para isso. Quero que a CBM volte a realizar provas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
BRMX: Sabemos que os campeonatos estaduais de motocross são organizados por suas federações, que têm responsabilidade total sobre essas provas. Porém, em 2012 vimos muitos campeonatos parados, com provas esporádicas, deixando os pilotos órfãos de competições regionais. A CBM não poderia intervir para melhorar este cenário? Isso não seria uma forma de fomentar e capacitar pilotos para participarem do Brasileiro de MX?
Firmo Alves: Eu gostaria muito de ver todos os estados e federações fomentando todas as modalidades esportivas e mais o mototurismo. O Brasil é um país continental, culturalmente diversificado. Por conta da Lei Pelé, que garante a soberania das entidades desportivas/federações, intervir seria ilegal. Quero me dedicar a incentivar a evolução dos campeonatos estaduais. Realizamos esse ano dois seminários técnicos internacionais ministrados pela FIM, aberto a todas as pessoas que trabalham com motociclismo no Brasil. Você nunca irá ter bons alunos se não tiver bons professores e é nessa linha que quero influenciar e mudar a cultura do motociclismo Brasileiro.
No motocross tem algumas pessoas que são pessimistas achando que vai dar errado o que ainda nem começou. Eu sempre fui otimista e acredito que a CBM, as federações, os nossos pilotos podem dar certo e irão dar certo. Ao longo dos meus quatro anos trabalharei para ir mudando essa cultura pessimista que assola algumas pessoas no motocross.
BRMX: O senhor esteve no MXoN realizado em Lommel, na Bélgica. Que lições o senhor traz de lá? O que o senhor viu lá que vai ser adaptado para o BrasileiroMX?
Firmo Alves: Muitas, mas temos uma realidade técnica, promocional e cultural. Lommel é uma prova tradicional e o Nações é o maior evento de motocross do mundo. Creio que a mudança principal deverá ser nas pistas do Brasil. Só assim teremos condições de melhorar a nossa participação nas provas internacionais. Quanto a parte cultural e promocional das provas de mundiais, isso deverá ser alterado ao longo do tempo. A cultura de um povo deve ser respeitada e não se muda da noite para o dia.
BRMX: Falando em MXoN, a escolha do time brasileiro neste ano foi polêmica. O senhor chegou a anunciar um plano (em entrevista ao BRMX) que previa um mês e meio de treinamento específico dos pilotos para esta competição, com patrocinador que não interferisse nos patrocinadores pessoais, etc. A CBM chegou a indicar os selecionados, mas acabaram indo pilotos escolhidos por um grupo de investidores privados. Quais lições foram tomadas? A CBM tem um projeto para fazer o Brasil participar do MXoN com seus melhores pilotos de fato em 2013?
Firmo Alves: Pela primeira vez na história criei uma forma do piloto poder ir ao Nações com seu próprio mérito, sem interferência política e nem comercial, conforme a sua classificação no campeonato e com o seu próprio patrocínio.
Antes, se o piloto quisesse ir, teria que aceitar o patrocínio imposto ou nem era convocado. O que se fazia anteriormente era viabilizar um patrocinador com seus pilotos. Eu nunca mudei o que disse. Fiz o comunicado oficial três meses antes, convocando os melhores pilotos ranqueados e disse naquela ocasião que caso o mesmo não se viabilizasse, por motivo técnico, pessoal, financeiro ou de saúde, convocaríamos o próximo da fila, sem interferência política ou financeira de ninguém.
E assim o fizemos. Fomos convocando a todos, mas infelizmente se extinguiu o prazo e tivemos que fechar com um grupo de patrocinadores e pilotos. O ideal seria um projeto bancado pelo Ministério do Esporte, porém, hoje, o nome da CBM ainda está na inadimplência por conta de má prestação de contas anteriores. Creio que isso será resolvido até no começo do próximo ano.
De qualquer modo, para os pilotos que foram, aproveito para dar os meus parabéns. Toda a equipe lutou muito até o final e para esses novos pilotos foi um grande aprendizado, que será transmitido aos demais. Vale lembrar que é muito difícil participar do Nações. De todos os países da América, somente os EUA, Brasil e Venezuela estavam presentes. Países importantes como Chile, Argentina, México e Canadá não foram. O que quero dizer é que só de termos a oportunidade de irmos já é uma grande vitória. Um dos meus objetivos principais para 2013 é a participação do Brasil nos Nações.
Entrevistas:
>>> Firmo Alves: o futuro do motocross brasileiro – Parte 1
>>> Firmo Alves: o futuro do motocross brasileiro – Parte 2