Ernesto Fonseca é o tipo de pessoa instantaneamente amável, que faz com que todos se sintam seus melhores amigos desde sempre, mesmo que o tenham conhecido recentemente. É por esse motivo que pessoas como Robert e Debbie Pastrana (pais de Travis Pastrana) o convidaram, há mais de 20 anos, para treinar com seu filho.
Foi por isso também que a Yamaha o escolheu para ir ao Japão desenvolver sua nova YZ250F e ser um dos primeiros pilotos a competir com ela. E foi por esse mesmo motivo que a equipe oficial de fábrica da Honda honrou seu contrato com ele até 2007, mesmo depois de Fonseca sofrer uma grave lesão em março de 2006, que encerrou prematuramente sua carreira.
Fonseca tem um senso de humor que faz todos ao seu redor rirem. Travis Pastrana lembra particularmente do raciocínio rápido do costa-riquenho. Em meados dos anos 90, Fonseca passou os invernos no motorhome da família Pastrana no Tall Pines RV Resort em Brooksville, Flórida. Eles correram e treinaram em Croom e outras pistas de motocross. Fonseca é dois anos mais velho, então para Pastrana, filho único, era como ter um irmão mais velho por perto.
Enquanto Fonseca era ferozmente competitivo na pista, fora dela Pastrana disse que o amigo era extremamente educado e gentil, sempre usando “senhor” e “senhora” para se dirigir aos adultos. Aos 13 anos, Fonseca viajou sozinho para os Estados Unidos, e para quem o conhecia ficava evidente que ele recebeu uma ótima criação.
– Ele era muito modesto e humilde – diz Pastrana.
Anos depois, Fonseca fez amizade com o construtor de motores da equipe oficial de fábrica da Honda nos Estados Unidos, Alex Ewing. Ewing havia desenvolvido um problema com alcoolismo, gastava muito dinheiro pagando dívidas nos bares e comprando brinquedos para os filhos. Fonseca notou e fez algumas perguntas. A brincadeira parou, as conversas ficaram sérias e a empatia era real.
– Ele queria que eu fosse uma versão melhor de mim mesmo. Ele estava me dizendo para crescer. Eu acho que ele sabia que eu precisava disso. Mesmo que eu não tenha mudado naquele momento, alguém perguntou e tentou me ajudar. Eu tinha um bom amigo por perto para me apoiar – diz Ewing.
Atualmente faz apenas dois anos que Ewing está sóbrio e livre de dívidas. Hoje ele mora na Carolina do Norte e recentemente deu a boa notícia por telefone para o seu velho amigo, que respondeu:
– Estou tão feliz por você.
Os problemas vêm e vão, mas os apelidos ficam para sempre. Para os fãs americanos do motocross, Fonseca ficou conhecido como The Fonz. A indústria carinhosamente o conhece como Ernie. Amigos íntimos têm apelidos pessoais para ele: Carmichael o chama de Soft (suave), Ramsey se refere a ele como Fuzz (algo parecido com suave) e para os quase cinco milhões de habitantes da Costa Rica, ele é El Lobito (o pequeno lobo em espanhol, uma alusão ao apelido de seu padrasto, que é conhecido como El Lobo).
O começo de tudo
Ernesto Rodriguez Fonseca nasceu em 1981 e foi criado em Heredia, uma província da Costa Rica 11 quilômetros a oeste do centro da capital San José. Criado por sua mãe, Catalina Rodriguez, e seu padrasto, Edwin Lobo, ele jogou futebol na juventude e pilotou uma moto pela primeira vez quando tinha 5 anos, uma Honda QR50.
A comunidade de motocross da Costa Rica é pequena e Fonseca estima que talvez 350 pilotos estejam filiados à federação do país, o Moto Club da Costa Rica. As motos são caras – uma Honda CRF450R 2015 custa U$ 10.000 dólares – e as pistas são ruins se comparadas com os padrões dos Estados Unidos. Como a Costa Rica tem duas estações, chuvosa e seca, as condições ideais de pilotagem raramente existem.
No início dos anos 90, uma grande oportunidade se materializou para os pilotos mais talentosos da época. O importador de filmes Kodak da Costa Rica era fã de motocross e fundou uma equipe para apoiar jovens pilotos. Fonseca foi um dos atletas convidados.
– Meus pais nunca foram ricos. Sem esse patrocinador, eu jamais teria chegado onde cheguei.
Em 1992, usando equipamentos amarelo neon da marca Sinisalo com logotipos vermelhos da Kodak, um contingente de costarriquenhos desembarcou na Flórida, para a 21ª edição do Olympic Winter Motocross (Mini Os), uma das mais tradicionais competições amadoras dos Estados Unidos.
Fonseca (listado como Ernesto Rodriguez nos resultados) venceu 5 das 7 baterias da categoria 65cc para pilotos com idade entre 7 e 11 anos, derrotando nomes como Ivan Tedesco, Jeff Gibson e Jonathan Shimp.
Fonseca encontrou maneiras de voltar sempre aos Estados Unidos. Ele conheceu benfeitores que queriam ajudá-lo: a família Pastrana, Scott Taylor, o ex-campeão Johnny O’Mara, e a loja Beach Sportcycles Yamaha, entre outros.
– Eu apenas aproveitei a oportunidade. Quando você é bom em alguma coisa, há pessoas que querem ajudá-lo – diz ele.
Ele voou de um lado para o outro, da Costa Rica para os Estados Unidos, para competir em eventos selecionados, fazendo malabarismos com os trabalhos escolares e, de alguma forma, mantendo seu talento no ritmo de seus concorrentes na América, que tinham acesso a melhores pistas e competições mais rápidas e de nível mais equilibrado.
Ao mesmo tempo em que acumulou títulos no motocross profissional da Costa Rica e da América Latina, ele conquistou quatro títulos no Loretta Lynn e em muitos outros grandes eventos amadores dos Estados Unidos. No final de 1998, Fonseca assinou com a Yamaha of Troy um contrato de U$ 30.000 dólares, mais U$500 dólares mensais para pagar o aluguel do quarto que ocupava na casa do mecânico Kenny Germain.
O primeiro (e surpreendente) título no AMA Supercross
Em 1999, Nick Wey, na época piloto da equipe Pro Circuit Kawasaki, era o favorito ao título na categoria 125cc costa Leste do AMA Supercross. Carmichael havia subido para a categoria 250cc e Wey estava em sua segunda temporada. Ninguém, nem mesmo o próprio Fonseca, esperava que ele fosse campeão (como de fato aconteceu) dominando o campeonato, derrotando o favorito Wey. Fonseca era mais do que apenas um piloto habilidoso; ele estudou, fez perguntas e, em suma, era o piloto dos sonhos de um chefe de equipe.
– Ele é ansioso para aprender. Quando todos os outros pilotos estão por aí, de boa, ele faz perguntas, assiste corridas, presta atenção em detalhes diferentes – disse Erik Kehoe, chefe da Yamaha of Troy, para a revista Cycle News, em 1999.
Naquele ano, Fonseca venceu as quatro primeiras corridas – algo que nenhum piloto da categoria 125cc (agora 250SX) conseguiu fazer desde que a classe estreou no campeonato, em 1985. Eddie Warren (1985), Damon Bradshaw (1989) e Trey Canard (2008) chegaram perto, mas venceram apenas as três primeiras rodadas. Fonseca tinha 17 anos, estava longe de casa, aprendendo uma segunda língua e vivendo um sonho.
– Quando as corridas começaram, tudo ficou mais fácil. Eu ficaria feliz em terminar no top 5, mas trabalhei duro para vencer e adorei o processo. Parecia um sonho.
Carmichael e Fonseca passaram a treinar juntos na Flórida no verão de 1999. O AMA Motocross daquele ano foi difícil para Fonseca, que em nenhuma única corrida conseguiu alcançar o top 5, mas Carmichael gostou da sua história de vida. Embora Carmichael sempre tenha sido vigilante com os segredos dos seus treinos ao longo dos seus 10 anos de carreira, ele e o garoto da Costa Rica permaneceram muito próximos, sempre treinando juntos.
– Eu realmente fiquei admirado com isso. Em qualquer esporte, muitos atletas desistem na primeira dificuldade. Ele nunca desistiu e sempre esteve aberto às oportunidades. Ele acreditou em si mesmo desde o início – diz Carmichael.
Lesão em 2000 e bicampeonato em 2001
Na temporada 2000, uma lesão no ombro esquerdo e uma concussão, sofridas no AMA Supercross tiraram Fonseca da disputa pelo resto da temporada. Em 2001, ele garantiu o bicampeonato na categoria 125cc costa Leste do AMA Supercross ao vencer 5 das 7 rodadas do campeonato.
Em 2002 ele subiu para a categoria 250cc (hoje 450) e assinou contrato com a equipe oficial de fábrica da Honda, juntando-se novamente ao seu velho amigo Carmichael. Estreou na abertura do AMA Supercross 2002 em Anaheim, finalizando em 3º.
Embora nunca tenha vencido uma corrida na categoria principal (tanto no supercross como no motocross), esteve no pódio 18 vezes ao longo de quatro temporadas como piloto da Honda, finalizando em 3º no AMA Supercross 2003 e no AMA Motocross 2005, na época sendo um dos poucos pilotos que ainda competia de 250cc dois-tempos.
Na primeira rodada do AMA Supercross 2006 em Anaheim, Fonseca foi até seu mecânico Jason Haines e disse:
– Acho que é hora de me aposentar. Sinto-me como se estivesse numa luta!
Ele estava competindo pela primeira vez com uma 450 quatro-tempos e tentava encontrar harmonia entre o poder explosivo da moto e sua técnica de pilotagem suave.
– Eu não estava mais me divertindo – diz ele, hoje em dia.
Foi um sentimento que começou meses antes, ainda na pré-temporada. Em Anaheim as coisas melhoraram, com Fonseca se classificando bem e liderando as quatro primeiras voltas do Main Event. Mas o desconforto permanecia.
– Eu sentia que algo estava errado.
Na quinta volta, mesmo com 3 segundos de vantagem sobre Chad Reed, Carmichael e James Stewart, Fonseca caiu; e terminou em 6º. As corridas seguintes foram ainda piores: 7º, 6º, 17º, 7º e 9º, esta última terminando atrás do aposentado Rei do Supercross Jeremy McGrath.
Fonseca tinha 24 anos na época, mas já pensava no pós-carreira. Seu contrato com a Honda terminava no final da temporada 2007 e, depois disso, ele queria ser um distribuidor Oakley na Costa Rica, algo para o qual já estava se preparando, planejando e economizando.
– Sabia que estava chegando ao fim. Eu estava treinando muito, sem conseguir resultados. Quando você já se acostumou a ser competitivo, isso afeta você – diz ele.
O acidente fatídico
No dia 7 de março de 2006, uma terça-feira, Fonseca estava treinando para a rodada de Daytona do AMA Supercross numa pista particular em Murrieta, na Califórnia. Pista que ele havia alugado com seu companheiro de equipe, Andrew Short. Pagaram U$ 10.000 dólares para ter acesso ilimitado ao local no período que compreende o supercross, entre janeiro e maio.
Na última volta daquele treino, ainda tentando encontrar sua melhor performance, Fonseca errou o penúltimo salto numa sessão de encaixes. A moto deu um soco de traseira e ele foi ejetado por cima do guidão. Alex Ewing estava a quatro metros de distância e testemunhou o acidente. Levou apenas alguns passos apressados para Ewing se aproximar, mas a violenta queda que ele viu não o preparou para o que Fonseca disse logo em seguida:
– Eu não quero acabar numa cadeira de rodas! Eu já caí um milhão de vezes, mas nunca me senti assim!
Para Ewing, foi como um soco no estômago. Fonseca não podia se mexer nem se levantar. Mesmo assim ele conseguiu se manter calmo e telefonou, primeiro para a esposa de Fonseca, Carolina, e depois chamou o socorro médico.
– Eu não estava com muito medo, mas fiquei em choque – diz Fonseca.
Ele não sentia nada dos mamilos para baixo e isso continua assim até hoje. O que ele sentiu foi uma sensação de queimação. Quando seu corpo começou a tremer, seu treinador, Michael Johnson, tentou acalmá-lo suavemente com as mãos.
Nesse momento Fonseca gritou; o toque o fez sentir como se estivesse pegando fogo. Ele foi levado ao Centro Médico do Condado de Riverside; lá foi constatada uma lesão na coluna cervical, com comprometimento neurológico.
A medula espinhal humana consiste em 33 vértebras empilhadas umas sobre as outras como blocos de construção. Elas são divididas em quatro seções de cima para baixo: cervical, torácica, lombar e sacral. A região cervical compreende sete vértebras, sendo a C1 a mais próxima da cabeça.
A medula espinhal é protegida pela coluna vertebral, que abriga os pares de nervos que se ramificam através das aberturas e transmitem sinais e informações do cérebro para o resto do corpo (por exemplo, sensação, movimento, respiração).
O trauma na coluna vertebral de Fonseca foi, na verdade, um par de lesões, assim como a maioria das lesões na coluna: danos ósseos, ligamentares e nervosos. De acordo com o Dr. Paul Reiman – ele não era o cirurgião, mas supervisionou e se comunicou com Fonseca e sua família – a quinta vértebra cervical de Fonseca (C5) se deslocou 100% sobre a sexta (C6), causando uma abrupta flexão do pescoço no peito. Seus nervos abaixo da C5 foram comprimidos.
– Ao redor de cada nervo, há um revestimento chamado mielina. É como se fosse um revestimento plástico em torno de um fio de cobre. Esse revestimento foi rompido. Os nervos estavam tão esticados que sua continuidade, embora ainda estivesse lá, era essencialmente não funcional – explica Reiman.
O nervo da quinta vértebra (C5) de Fonseca está intacto, o que lhe dá a capacidade de flexionar os cotovelos e estender os pulsos, além de movimentar os dedos. O movimento dos ombros também está bom.
Fonseca diz que sua mão direita funciona melhor que a esquerda. Ele tem muito pouca aderência, mas pode lidar com objetos leves de até 1 kg. Ele digita e envia textos com os polegares e dirige um Mercedes SUV na Costa Rica equipado com controles manuais. Categoricamente, ele é tetraplégico e precisa de cuidados diários em tempo parcial.
Quando Fonseca foi operado em Riverside, a anestesia foi local e ele estava conversando durante a cirurgia. Quando saiu, contraiu pneumonia e teve que ser entubado. Por seis semanas, ele esteve na UTI usando um ventilador com traqueostomia.
Além de lidar com a paralisia e aprender a usar o movimento que lhe restava, o único método de comunicação de Fonseca era um quadro de alfabeto, que exigia que ele soletrasse palavras tocando em letras – uma tarefa incessantemente frustrante.
Ewing, que passou quatro dias e noites dormindo na sala de espera do hospital e pendurado em todas as notícias sobre seu amigo, lembra-se da primeira “conversa”. Lenta e deliberadamente, Fonseca bateu nas letras do quadro, ficando cada vez mais frustrado com o tempo que levava para dizer o que estava em sua mente.
Ewing interrompeu:
– Você está tentando dizer filho da puta? – perguntou.
É a maneira favorita de Fonseca de iniciar uma frase quando ele está irritado ou tentando entender algo.
Apesar de tantas perdas, sua inteligência e personalidade ainda eram fortes.
– Você tem que aprender a lidar com isso, não existe outra alternativa. Ou você desiste e se decepciona, ou se esforça para se acostumar com isso. Não é segredo para ninguém que estar em uma cadeira de rodas não é divertido. Tive tempos bons e difíceis – diz Fonseca.
O difícil recomeço
Fonseca levou mais de oito anos para se comprometer a ser atleta novamente, e David Bailey, outro ex-piloto tetraplégico, relembrou o quão difícil era para ele se adaptar. A função neurológica de Bailey está comprometida na quarta e na quinta vértebra torácica (T4 E T5), mas sua mobilidade e força lhe permitiram treinar e vencer a categoria de cadeira de rodas do Mundial de Ironman em 2000.
Sua mobilidade é muito maior que a de Fonseca, mas essa é a parte difícil para um atleta em cadeira de rodas: suas habilidades variam muito, não há concorrentes suficientes para justificar uma categoria para cada nível de mobilidade.
Quando é hora de os atletas serem classificados, cabe a um comitê e a um médico decidir o destino de cada um. Existem poucos concorrentes no nível neurológico exato de Fonseca e ele é mais ativo do que outros, com comprometimento semelhante na mobilidade. Por causa das variações, as classificações se tornam um conjunto misto de habilidades.
Bailey é um ex-campeão do AMA Supercross e AMA Motocross que ficou tetraplégico em 1987. Sua analogia para entender as mobilidades de cada atleta nesta situação é imaginar um Main Event do AMA Supercross com 22 pilotos. Todos os atletas têm diferentes níveis de habilidade.
Mas o que os fãs não podem ver assistindo na televisão ou em seus assentos é que um piloto não tem freio dianteiro; outro não tem uma alavanca de câmbio ou embreagem ou óleo suficiente em sua suspensão, ou ele tem um motor de ciclomotor em sua moto. Essa é a situação do concorrente em cadeira de rodas, mesmo no nível Ironman; para os desinformados, parece que todos são iguais na hora da largada. Mas internamente eles estão lidando com circunstâncias muito diferentes.
– Nessa balança resultado x esforço, não achei que Ernesto Fonesca ficaria satisfeito, mas ele mostrou que eu estava errado – diz Bailey, sobre o desempenho de Fonseca nas corridas de cadeiras de rodas.
Bailey e Fonseca começaram a trabalhar juntos em 2009, quando se conheceram no L.A. Fitness; Fonseca queria mostrar a Bailey o que ele poderia fazer na piscina. Bailey não pôde deixar de pensar:
– Como isso vai funcionar?
Ele demonstrou como nadar usando os punhos; Fonseca fez algumas perguntas e mergulhou.
– Ele é divertido de ensinar, porque faz boas perguntas e depois silenciosamente vai para casa e treina aquilo. Você não terá notícias dele ou irá ler no Facebook que ele foi e fez um treino de triatlo – diz Bailey.
O apoio à Fonseca em 2006 foi enorme. A comunidade do motocross acampou na sala de espera em Riverside durante as primeiras seis semanas de recuperação. Nathan Ramsey instalou seu motorhome no estacionamento para que a família de Fonseca pudesse ficar mais confortável e mais próxima do filho.
No hospital, Fonseca mostrou a determinação e a ética que o tornaram um dos melhores atletas de motocross do mundo, tentando recuperar seus movimentos o mais rápido possível. Uma parte do seu corpo queria descansar. Ele treinara a vida inteira, mas sabia que precisava aproveitar as primeiras sessões de reabilitação. Não houve ganhos significativos, mas ele descobriu como se fortalecer usando o que tinha.
Em agosto de 2007, veio o momento mais difícil. Ele e sua esposa, Carolina, estavam casados há menos de dois anos, mas estavam tendo dificuldades. A vida deles era tudo, menos normal e Fonseca sentiu que Carolina estava depressiva.
– Eu não conseguia entender como uma pessoa saudável poderia estar deprimida – diz ele.
Ele disse que Carolina ficou bem imediatamente nos meses seguintes à lesão e lidou numa boa com tudo. Depois do primeiro ano, ela começou a parecer cansada.
– Ela precisava descansar. Talvez não foi fácil lidar comigo. Eu sempre fui muito duro com as pessoas ao meu redor e comigo mesmo. Eu disse que ela já havia feito o suficiente por mim. E ela optou pelo divórcio, em março de 2008 – conta Fonseca.
A inesgotável perseverança; dando a volta por cima
De 2006 a 2014, Fonseca trabalhou em vários cargos na Answer, Oakley e Troy Lee Designs nos Estados Unidos e na Costa Rica. Seis anos após o acidente, ainda não estava claro para onde ele estava indo com sua vida ou quais eram seus objetivos. Por volta do final de 2012, ele começou a formar uma rotina, exercitando-se mais.
Antes disso, ele começou a namorar novamente. Em 2014, conheceu Laurens Molina, uma atleta da Costa Rica que nasceu sem ossos nas pernas. Quando Fonseca começou a aparecer nas pistas de corrida com uma cadeira de rodas adaptada para a prática esportiva, a imprensa da Costa Rica imediatamente noticiou:
– Lobito está de volta!
– Tive a sensação de que era capaz de fazer as coisas. Isso me deu uma nova expectativa. Eu gostaria de ter feito isso mais cedo e ter aprendido mais sobre isso ao invés de perder tanto tempo. Mas é fácil dizer isso agora; Eu também precisava desse tempo. Competir novamente tem sido mais difícil do que eu esperava. Realmente não sabia no que estava me metendo, mas estou gostando – explica Fonseca.
Seu maior choque ocorreu no outono de 2015, quando viajou ao Japão para competir em uma maratona. Ele pensou que estava pronto, mas na verdade não estava. Ele havia completado maratonas treinando em uma pista de corrida oval, mas as variáveis nas ruas públicas são diferentes e, depois de 13 quilômetros, foi determinado que ele não estava alcançando o ritmo de quatro minutos por quilômetro necessários para continuar.
Enquanto esteve no Japão, ele se encontrou com os engenheiros da Honda, que tiraram suas medidas para moldar uma nova cadeira de corrida. Recentemente ele recebeu ela, que é feita de carbono e alumínio e pesa 6kg – 2 kg mais leve que sua cadeira antiga – e vale U$ 6.000 dólares.
Os bons relacionamentos que ele construiu em suas viagens de desenvolvimento de motos ao Japão, entre 2000 e 2006, ainda estão valendo a pena. Se ele continuar a melhorar e avançar, a Honda prometeu equipá-lo com uma cadeira feita totalmente de carbono, que vale U$ 22.000 dólares, o equivalente a uma moto da equipe oficial de fábrica.
Bailey tem tentado repassar algumas das técnicas e dicas de eficiência que ele desenvolveu. Ele está sentado em uma cadeira de rodas há mais tempo do que Fonseca. Quando ele trabalha com um novo atleta, ele sabe primeiro observar e ver quais são as habilidades; então, um plano pode ser elaborado em torno disso.
– Eu deixo a parte do esforço com os atletas. O planejamento é o meu ponto mais forte – explica Bailey.
Fonseca tem sido muito acolhedor e Bailey acredita que ele pode ser competitivo, mesmo que suas limitações atrapalhem.
– O que mais gosto nele é que ele não reclama e está sempre tentando melhorar – e sempre com um sorriso no rosto! Ele me faz pensar se estou fazendo tudo o que posso fazer por ele – acrescenta Bailey.
Fonseca completou sete triatlos na distância sprint (700 metros de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de atletismo) e está determinado a encarar uma maratona mais competitiva. E está disposto a fazer o que for necessário para isso. Nos verões de 1999 e 2003, ele se jogou de cabeça no programa de treinamento de Carmichael.
Ele ficava tão cansado que adormecia no trajeto de 30 minutos de sua casa para a pista. Olhando para trás, talvez esse sofrimento estivesse lhe preparando para algo muito mais difícil em sua vida, mais tarde.
Há 25 anos, quando ele era um garoto na Costa Rica assistindo às corridas do AMA Supercross na TV, Fonseca era uma criança com um sonho impossível, considerando suas chances e oportunidades. Nesse sentido, ele já sabe como superar dificuldades e vencer na vida.