Nesta terça-feira, 4 de dezembro, o site da revista americana Motocross Action Magazine publicou uma longa entrevista com o alemão Ken Roczen.
Neste bate-papo, Roczen fez um apanhado geral de toda a sua carreira nos Estados Unidos, desde que subiu para a categoria 450 no AMA Supercross e AMA Motocross, relembrando os momentos mais marcantes (bons e ruins), além de projetar suas expectativas para a temporada 2019.
Confira a seguir a tradução na íntegra, vale a pena a leitura!
Ken, você subiu para a categoria 450 sem nunca despontar na 250 antes. Por que?
Eu sempre subi cedo para as categorias maiores. Nunca fui o tipo de piloto que, por mais que pudesse, fica muito tempo numa categoria menor. Sempre quis subir rápido para as categorias maiores e tentar chegar ao topo delas. Desde que cheguei na 450 estou tentando dar o meu melhor.
Em seu primeiro ano na 450 você venceu duas etapas do AMA Supercross e conseguiu alguns pódios…
Sim, minha primeira temporada de 450 no supercross foi muito boa. Venci logo em minha primeira corrida, em Anaheim 1. Acho que poderia ter terminado o campeonato em segundo ou terceiro.
E nesta mesma temporada, em 2014, você foi campeão do AMA Motocross na 450…
Sim, foi absolutamente ótimo e mais fácil do que o supercross, porque tenho mais experiência no motocross. Até hoje é assim, treinei motocross durante toda a minha vida.
Foi difícil correr pela equipe KTM tendo um piloto como Ryan Dungey de companheiro de equipe?
Não, me adaptei bem com isso. Acho que foi mais difícil para ele, porque eu havia acabado de subir da categoria 250. Ele era o piloto número um da equipe, então acho que foi mais difícil para ele lidar comigo do que eu com ele. Eu não tinha nada a perder e apenas andava o melhor que podia. Sou um pouco mais relaxado e despreocupado, enquanto que ele é mais sério.
A maioria dos chefes de equipe não acha uma boa ideia ter dois favoritos ao título na mesma equipe. O que você acha disso?
Olha, eu tenho Cole Seely como meu companheiro de equipe na Honda e ele não é um cara desleixado. Se ele foi contratado por uma equipe oficial de fábrica, é porque é um bom piloto, não é qualquer um.
Depois de ser campeão do AMA Motocross na 450 em 2014, por que você escolheu trocar a KTM pela Suzuki?
Meu agente, Steve Astephen, estava analisando todas as oportunidades, e me convenceu a experimentar algo novo. Já estava com a KTM há muito tempo e eu realmente queria voltar para a Suzuki, porque anteriormente eu havia tido sucesso com eles na categoria MX2 do Mundial de Motocross.
Mas o seu primeiro ano de Suzuki não foi como você planejava…
Não, não foi, mas nós nunca desistimos e viramos o jogo em 2016. Fiquei super feliz com a minha moto de 2016, mas não posso dizer o mesmo da moto que pilotei em 2015.
Você foi para a RCH Suzuki por que Ricky Carmichael era sócio da equipe? O que motivou você a assinar com a equipe?
Não, não mesmo. Ricky não estava tão envolvido como dizem, muito menos no que diz respeito aos treinos de moto. Tenho um bom relacionamento com ele e com Carey Hart e não culpo nenhum dos dois pela falta de envolvimento. Ricky está aposentado, aproveitando a vida longe do esporte. Ele não influenciou em nada a minha ida para a RCH Suzuki. Não tomei essa decisão só porque ele era sócio da equipe.
Mas você chegou a falar muitas vezes com Ricky e Carey?
Mais com Carey do que com Ricky, porque eu e Carey tínhamos o mesmo agente e ele estava sempre por perto. Mas Carey também é um cara mais ocupado com a família dele. Quem fazia as coisas acontecer na RCH Suzuki era Kyle Bentley, Oscar Wirdeman, os caras da KYB e eu.
Até sua ida para a RCH Suzuki seu pai te ajudava em tudo. Por que ele se afastou?
Porque eu estava crescendo. Você sabe como é. Foi bom ele ter me ajudado dos 18 aos 21 anos. Mas nós estávamos vivendo sob o mesmo teto 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias ao ano. Isso já estava demais. Eu decidi que precisávamos nos separar um pouco. Precisávamos redefinir nossas vidas e foi isso que aconteceu.
Depois de vencer o AMA Motocross 450 em 2016 pela Suzuki, você foi para a Honda e rompeu com seu treinador pessoal, Aldon Baker. Foi um novo começo?
Eu não gostava do programa de treinamento do Aldon. Não gostava de ser controlado. Aldon e eu temos personalidades completamente diferentes. Discordei de muitas coisas que ele fazia e no final acabamos rompendo o trabalho. Eu não queria continuar seguindo o programa dele e ser infeliz. Não me arrependo dessa decisão. Acho que o trabalho dele não era para mim. Sei que os pilotos que treinam com ele normalmente se tornam campeões, mas eu realmente não me importo. Cheguei muito forte na temporada 2017, mas infelizmente sofri com as lesões. Agora estou tentando recuperar o ritmo de antes. Mal posso esperar pela temporada 2019.
A Honda tem a reputação de ser uma super corporação. Você, por outro lado, é mais livre de preocupações. Você se sente confuso na Honda?
É o seguinte: eu simplesmente digo o que todo mundo está pensando. Às vezes isso me faz parecer o “bad boy”, mas eu realmente não me importo. Eu ouvi essas mesmas coisas sobre a Honda antes de assinar com eles, mas não é essa a experiência que eu estou tendo. Eles são super descontraídos. Eu realmente gosto do ambiente e, dito isso, acho que quando uma equipe contrata alguém, eles meio que sabem o que estão recebendo, entendeu?
Você sente muita pressão na equipe Honda?
Conforme você melhora, você obtém contratos maiores. Isso definitivamente vem com o fato de que eu não posso ser desleixado. Eu não posso afrouxar, nem quero. Eu não posso simplesmente fazer o meu trabalho e sobreviver. A Honda realmente quer fazer alguma coisa! Eles querem vitórias, querem ganhar campeonatos e eu também. Estamos comprometidos um com o outro. Infelizmente, eu tive um monte de lesões ruins, mas sinto que estamos de volta aos trilhos e avançando. Eu nunca vou desistir. Ainda acredito que vamos conquistar campeonatos. É isso que a Honda quer e é isso que eu quero.
Parece que sempre que uma equipe contrata um piloto, logo em seguida eles tentam imediatamente transformá-lo num piloto corporativo…
Eles não podem me mudar muito. Eu sinto que quando você me contrata, eu venho com a minha personalidade e é isso. Creio muito em ter equilíbrio na vida. Correr no motocross é o que eu faço, mas não é quem eu sou ou pretendo ser depois que eu me aposentar. Essa será uma vida diferente. Adoro sair com os meus amigos. Adoro sair com a minha família. Adoro fazer outras coisas na vida além de disputar corridas de motocross.
Você acompanha o Mundial de Motocross desde que disputou sua última temporada, em 2011?
Acompanho um pouco. Acho que Tony Cairoli fez em 2018 sua melhor temporada em termos de pilotagem, mas Jeffrey Herlings está em outro nível. Eu não assisto todas as corridas o tempo todo, mas foi uma temporada interessante.
Como foi a recuperação da grave lesão que você sofreu no braço em 2017?
Essa foi a primeira vez que fiquei longe do motocross por tanto tempo. Honestamente, foi um alívio nem sempre estar em movimento, sempre treinando. Agora eu aprecio muito as pequenas coisas depois de ter passado por estes momentos sombrios.
Alívio no motocross?
Como posso colocar melhor em palavras? Eu parei de me preocupar com o quão bem eu vou andar, porque no final, quando você faz todo o trabalho, você deve ir lá e se divertir. Quando você está preparado, não há muito que possa dar errado. Desde a minha lesão, não duvido mais de mim mesmo. Eu aprecio ser feliz e poder desfrutar do motocross. Durante o AMA Motocross 2018 eu estava me divertindo – e foi aí que meus bons resultados vieram.
Foi difícil ver uma luz no final do túnel depois de sofrer aquela lesão catastrófica?
Houve alguma negatividade, porque sinto que foi três vezes mais difícil recuperar a minha forma física. Fiquei sentado no sofá por um longo tempo. Ficar tanto tempo fora e depois recomeçar os treinos foi muito difícil. Eu estava tanto tempo afastado depois de meses e meses sem andar, mas sabia que teria que voltar às pistas. A percepção de que você não vai conseguir voltar ao mesmo ritmo de antes é assustadora.
E no meio de tudo isso você ainda encontrou o amor…
Sim, encontrei o que eu nunca pensei que encontraria. Eu não era contra o casamento, mas na Alemanha ninguém se casa mais. Meus pais não eram casados e era algo que eu realmente nunca quis fazer – até que encontrei Courtney. Ela, junto com meu cachorro, tem sido a coisa mais positiva em todo esse processo. Quando você tem um braço engessado, há muitas coisas que você não pode fazer por si mesmo. Courtney estava lá quando ninguém mais estava. Eu agradeço a ela por me manter com uma atitude positiva.
O que você achou da Honda ter feito uma réplica da sua CRF450 WORKS Edition?
Isso foi incrível. É a primeira vez que a Honda faz algo assim, sou super agradecido, achei ótimo. Eu realmente, realmente, espero – e é meu maior desejo – colocar a moto vermelha no topo do pódio em todos os campeonatos no ano que vem.
Você tem planos de voltar para a Alemanha um dia?
Eu me tornarei um cidadão dos Estados Unidos e, como a Alemanha não permite a dupla cidadania, a partir de agora vou viver como um americano.