Relembre a história de Kevin Windham e viaje no tempo por (quase) duas décadas de supercross

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Em 2010, sua última temporada realmente forte – Foto: Annjahleena Marie TT @AnnJahLeena

 

O BRMX pede licença aos amantes de motocross e “anti-futebol” para introduzir este texto com uma frase célebre de Paulo Roberto Falcão, um dos maiores jogadores de futebol da história do Brasil.

“Jogador morre duas vezes. A primeira delas é quando se aposenta.”

Deve ser muito parecido para piloto de motocross. Começam crianças e param jovens. Geralmente, não têm aptidão para mais nada a não ser pilotar. Vivem sob pressão, treinos diários, regime alimentar rígido. Vida tumultuada, viagens, acertos de motor e suspensão, uma pista diferente a cada fim de semana. Mas tudo, de repente, some quando alguém como Kevin Windham, aos 34 anos, diz “chega”.

No sábado do dia 19 de janeiro de 2013, Kdub (apelido de Kevin Windham) disse “chega”. Pendurou as botas depois de 207 corridas no supercross, 18 vitórias em Main Events, 75 pódios e 19 anos no esporte profissional (quatro na 125cc 2T).

Jamais foi campeão na principal categoria do supercross ou do motocross norte-americano. Foi campeão da “Lites” quando ainda se competia com motos dois tempos, em 1996 e 97. E ganhou o Motocross das Nações de 2005 ao lado de Ricky Carmichael e Ivan Tedesco, em solo francês.

Correu no MXoN do Brasil em 1999, em Idaiatuba, São Paulo, e foi o melhor norte-americano daquele fim de semana (RC e Mike LaRocco, hoje chefe da equipe GEICO Honda, eram seus companheiros).

Windham completará 35 anos em 28 de fevereiro. Fã de futebol americano e filmes de comédia, nasceu em Baton Rouge, no estado da Luisiana. É casado e pai de quatro filhos (três meninas e um menino que quer ser piloto de motocross).

– Estava falando com Ryan Villopoto e ele me perguntou: “qual é o tamanho de sua gana?”. Isso foi como um clique. Uma luz apareceu. Eu não estava no ponto de poder brigar por vitória, que era o que eu queria. Então, o que eu faria? Rezaria por uma corrida na lama? Não sou deste tipo – disse Kevin, logo após anunciar a aposentaria dentro do Angel Stadium lotado.

– Queria que a aposentadoria acontecesse perto da minha casa, ou que meus amigos pudessem estar por perto. Já imaginava que não iria para a vigésima temporada em 2014 (que era o plano inicial) – complementou.

E assim, no dia da corrida em Anaheim 2, no sábado passado, Windham voltou do treino para o box e começou a mudar de roupa. As pessoas estranharam, porque ele nunca fazia isso. Quando perguntaram o porque, ele foi sumário.

– Pra mim, chega.

 

Imagens da carreira de Kevin Windham

 

 

Resumo da carreira ano a ano

1994
Se tornou profissional na metade da temporada, pilotando Kawasaki. No mesmo ano, após grande performance, assinou com a Yamaha.

1995
Quinto colocado da 125cc 2T – Costa Leste. Conquistou cinco pódios.

1996
Ganhou o título do lado Oeste do Supercross na 125cc 2T com seis vitórias. No motocross, ganhou quatro corridas e terminou como vice-campeão, atrás de Steve Lamson.

1997
Conquistou o segundo título da 125cc lado Oeste. Além disso, fez sua estreia na 250cc 2T com uma vitória no Main Event de Charlotte, na Carolina do Norte.

1998
Primeiro ano dedicado exclusivamente a principal categoria, neste caso a 250cc 2T. Terminou em quarto no supercross. No fim do ano, trocou a Yamaha pela Honda para a temporada 1999.

1999
Foi vice-campeão do motocross, atrás do sulafricano Greg Albertyn. Windham, Albertyn e Sebastién Tortelli travaram grandes batalhas nesta que foi considereada uma das temporadas mais disputadas da década do MX estadunidense.

Aliás, o ano de 1999 foi muito especial para Kdub. Naquela temporada, o Mundial de MX teve seu GP norte-americano disputado em Budd’s Creek. Como na maioria das vezes, os pilotos da elite estadunidense optaram por NÃO participar do evento. Stefan Everts, o grande nome do Mundial na época, deu entrevistas insinuando que os americanos eram covardes por isso. Windham se ofendeu e tomou a decisão de participar do GP apenas três dias antes da corrida. Foi lá e venceu Everts. O fato foi tão emblemático que Windham guardou a moto daquele dia em sua sala de troféus.

A história de 1999 de Kevin Windham também passa pelo Brasil, e coincidentemente tem o “troco” de Stefan Everts nessa história. Naquele ano, o Motocross das Nações aconteceu em Indaiatuba, São Paulo. Windham fazia parte do time dos EUA ao lado de Ricky Carmichael e Mike LaRocco. Windham foi o melhor dos três, mas foi Everts quem ganhou as corridas (e a Itália foi campeã com Andrea Bartolini em um grande dia, além de Alessio Chiodi em grande fase, e Claudio Federici sendo consistente).

2000
Ano de estreia de Ricky Carmichael na 250, o que dificultou muito as coisas para Windham desta temporada em diante. Perdeu o título do MX para ele, e o do SX para “o Rei” Jeremy McGrath.

2001
Mudou novamente de moto, agora para a Suzuki. Conseguiu fazer frente a RC em algumas corridas, mas títulos que são bons, nada.

2002
Chegou-se a falar que Kdub se aposentaria em 2002 após seguidas lesões e um tombo incrível em Atlanta. Mas, isso só aconteceria 11 anos mais tarde.

2003
Se ausentou do supercross para cuidar da família e sua recém-nascida filha. Voltou no motocross, agora na Honda, já com discurso de que queria apenas se divertir com o esporte. Foi vice-campeão.

2004
Era a chance para Kevin Windham e todos os outros venceram o SX (Carmichael estava fora por causa de uma lesão no joelho). Mas, apesar de Kdub vencer cinco etapas, perdeu o campeonato para Chad Reed.

2005
No ano em que seu mecânico (Jonathan) se suicidou antes do início da temporada, Kdub ganhou o MXoN ao lado de RC e Ivan Tedesco, na França. Terminou o AMA SX em terceiro (atrás de RC e Chad Reed, mas à frente de Bubba).

2006
Perdeu quase todo SX por causa de um braço quebrado. No MX, foi vice-campeão mais uma vez.

2007
Carmichael estava fora do SX outra vez, mas foi James “Bubba” Stewart que se deu bem em 2007, vencendo o AMA SX. Windham foi quarto, atrás de Bubba, Reed e Tim Ferry. No MX teve altos e baixos, e terminou em quinto.

2008
Mais uma vez bateu na trave, perdendo o título para Chad Reed, mesmo ganhando quatro corridas.

2009
Ano ruim, recheado de maus resultados e quedas.

Ao lado de Villopoto, em 2013 – Foto: Annjahleena Marie

2010
Chegou a ganhar duas corridas do alto de seus 32 anos e, com isso, ganhou mais dois anos de contrato com a GEICO Honda ao final da temporada.

2011
Terminou o SX em sétimo e correu apenas uma parte das corridas do motocross.

2012
O fim da carreira estava próximo, apenas de alguns bons resultados e uma queda muito grave no fim da temporada do SX, em Houston, que lhe tirou do restante da temporada.

2013
Correu as duas primeiras etapas do AMA SX. Fez décimo em A1 e 11º em Phoenix. Em A2, treinou e anunciou sua aposentadoria antes do Main Event, em frente a mais de 37 mil fãs.

* As duas fotos desta matéria são de Annjahleena Marie, fotógrafa estadunidense que desde a etapa de Ahaneim 2 colabora voluntariamente com o BRMX. Sigam ela no Twitter@AnnJahLeena.

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