Wolfgang Srb, presidente de Motocross da Federação Internacional de Motociclismo – FIM – fala sobre o futuro do MX

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Lincon Duarte, Carlinhos Romagnolli, Giusepe Luongo e Wolfgang Srb – Foto: Youthstream

O presidente da Comissão de Motocross (CMS) da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), o austríaco Wolfgang Srb, completou duas décadas no controle do motocross internacional em 2013.

A Revista britânica OTOR, parceira do BRMX, conversou com o dirigente e ouviu suas opiniões sobre vários assuntos do nosso esporte, passando por motos dois e quatro tempo, motocross e supercross, as mudanças para o futuro, entre outros. Confira!

Mundial de Motocross cada vez mais globalizado

Este é um processo
que está acontecendo, e não é algo da noite para o dia. A direção é
clara e todos têm de se adaptar: equipes, pilotos, mecânicos, todo
mundo.

A FIM defende totalmente a ideia de ter um verdadeiro
campeonato mundial, (com etapas) em quantos continentes forem possíveis.
Isto acontecerá naturalmente, e todos terão tempo para se acostumar com
isso. Claro que quando saímos da Europa, adoro ver pilotos locais, do
próprio país competindo, e nós devemos ser como quando ‘o circo chega à
cidade’, as pessoas querem ver nossos ‘artistas’ atuando.

É
sobre isso que conversamos com as federações de todo o mundo. Estamos
numa boa posição porque o motocross é um esporte básico, então – ainda
bem – temos pilotos jovens em todos os lugares. Um Grande Prêmio é
sempre um processo trabalhoso. Às vezes nós sentamos, depois de uma
grande reunião, e temos de nos lembrar que aquilo é um projeto de três,
cinco anos. Nós sentamos com a Youthstream – empresa promotora do
Mundial – para conversar sobre onde poderíamos desenvolver nossos jovens
pilotos para ficarem aptos a correr. Essa cooperação que temos com a
FIM europeia e os nossos campeonatos (MXGP) subiu tremendamente o nível e
fez os garotos estarem prontos para dar o próximo passo.

A volta das dois tempos

Fiquei feliz com isso porque os construtores têm carburadores, engenheiros e protótipos de dois tempos, quatro tempos e de energia alternativa, e então conseguem desenvolver tudo isso e fornecer essa variedade. É nosso trabalho fazer isso acontecer, e não estabelecer nenhum limite ou restrição. É tudo sobre carbiração, e se eles estão desenvolvendo dois tempos agora, nós pensaremos daqui a alguns anos “nossa”… Quando elas poderão ser muito mais limpas e eficientes.

Sei de vários circuitos que foram fechados por causa do barulho, mas nenhum deles foi fechado em função de emissões (poluentes). O barulho das quatro tempos criou problemas para nós e para as vizinhanças de pistas, e essa é a realidade.

Sobre a FIM “empurrar” as dois tempos

Isso veio do motocross, do rally e do mercado. Se todo mundo vai em uma direção, de algum modo você tem que seguir. Depois da nossa última reunião, a FIM falou com os fabricantes europeus e japoneses para encontrar um balanço e uma direção, e isso é um trabalho para nosso pessoal da parte técnica e da comissão técnica. De qualquer forma, foi anunciado que isso vai continuar e que nós vamos fazer isso. Qual é a realidade? Você pode perguntar para dez pessoas e conseguir dez opiniões diferentes sobre o que vai acontecer!

Estrutura, competição europeia e os novos eventos, como a Honda 150

Estou feliz com o crescimento do interesse dos construtores no esporte. Sim, eles já tinham participado, mas vejo isso crescendo mais, e pessoas como Roger Harvey (gerente da Honda Europeia Off-Road) que está fazendo muito barulho e se esforçando para conseguir mais coisas. Isso é importante para o nosso crescimento e eu adoro. Acho que todo mundo pode achar um lugar no nosso esporte, seja com dois ou quatro tempos.

450 muito fortes?

Lembro de uma reunião sobre a qual agora ninguém quer falar. Recebi um e-mail – acho que em 2006 ou 2007 – dos chefes das equipes de ponta, incluindo uma americana, e eles me diziam que as 450 estavam fora de controle, muito potentes e agressivas, e que nós precisávamos fazer algo e diminuir a capacidade.

Isso aconteceu um pouco depois da reunião, e eu acho que essas pessoas foram lembradas por suas equipes para ‘permanecerem caladas’, porém a partir desta conversa as 350 foram desenvolvidas. Para correr com uma 450 e ir até o limite… Quem realmente pode usar toda força e potência? Quem ‘brincaria’ com isso? Não muitos, porque a moto é pesada.

Mas isso é um ciclo. Lembro-me de quando tínhamos a famosa 500cc ‘Red’, durante a era do Geboers, e assim por diante, e isso nunca acaba. Para alguns, essas motos eram uma religião, mas a moda sempre muda quando os engenheiros trabalham para fazer elas melhores e mais rápidas. Contudo, você chega a um nível (de desenvolvimento) que se torna exagerado. Acho que chegaremos a um ponto, no futuro, no qual veremos uma redução, e não há nada de errado nisso.

Não deveria ser um caso de ‘450 para sempre’. Nós queremos a melhor moto com o melhor desempenho que o maior número de pilotos possa correr do início ao fim. Esse seria o meu sonho: seja com 350, 300, 200, não me importo.

Cairoli já utiliza uma moto \”mais fraca\”, a KTM 350 – Foto: Youthstream

Mudanças nas regras e tempo para adaptação

Esse período que os construtores japoneses e os outros querem é o correto. Nós podemos mudar um pouco as regras esportivas, como reduzir a bateria de 35 para 30 minutos em 2014, por exemplo. Mas quando chegamos às mudanças técnicas, é justo que falemos com eles – a MSMA (Associação Esportiva dos Fabricantes de Motocicletas) – e entender seu tempo para desenvolvimento. Mas o que eu não quero é que essas coisas sejam adiadas, adiadas e adiadas. Algo como três anos, tudo bem.

Gate “vazio” na MX1 e o retorno dos fãs

Notei que estavam faltando muitos pilotos no GP da República Tcheca. Não havia 40 pilotos que pudessem realmente correr na 450. Nós sabíamos disso.

Por outro lado, um gate cheio sempre é um gate cheio, isso é óbvio, e a impressão que isso dá é importante, mesmo que só seis ou sete pilotos tenham chances, e outros 15 que tenham menos chances, e o resto que só estão lá.

É algo diferente. Se tivessem 40 eu ficaria feliz. Não devemos esquecer dos fãs, porque eles pagam para ver a corrida e talvez eles torçam para o cara que está na 27ª posição, porque ele pode ser o cara da cidade onde a corrida está acontecendo.

Não há nada de errado com isso. Nessa semana nós perdemos alguns pilotos e diminuímos de 27 para 22. Imagino que vamos receber alguns tweets e mensagens. Adoraria ver o gate de trinta pilotos cheio em 2014.

Show global = mais ajuda para as equipes?

Isso também foi discutido na última reunião com as marcas e eu penso que vai existir ajuda para 20 pilotos em cada categoria. Giuseppe (Luongo, Presidente da Youthstream) sabe disso. Ele não pode simplesmente trazer um pequeno número de pilotos para um grande prêmio no exterior.

Não são os cinco times de ponta que necessariamente precisam de dinheiro. São os pilotos que ficam em 12º, 15º, 20º que precisam de ajuda. Meu entendimento é que hoje todos recebem a mesma assistência, e o primeiro colocado não ganha mais dinheiro. Giuseppe sabe muito bem que há uma necessidade por mais suporte, e eu confio que ele fará isso.

Mudanças nos eventos MXGP para alcançar novos públicos

Apoio totalmente, porque isso significa progresso. Os anos 60 e 70 acabaram. Os tempos de Namur, de certa forma, acabaram. Os dias de acampar na floresta em Namur acabaram, e começaram acontecer coisas diferentes.

As coisas se desenvolvem. Os anos 70 foram sensacionais, os anos 80 também. Um carro nos anos 70 era sensacional, mas ninguém gostaria de dirigi-lo hoje. Tivemos bons tempos no motocross, mas não devemos viver no passado.

Porém, uma coisa marcante sobre Lausitzring (GP da Alemanha em 2014), e eu falei disso numa reunião dias atrás, é que os fãs de motocross não gostam de ficar sentados nas arquibancadas por oito horas. Isso não é motocross. A distância é muito grande e eles não enxergam os pilotos.

Nossos fãs devem ficar mais próximos (da pista) e as arquibancadas não são boas para nós porque nós queremos criar alguma atmosfera. A pista estava boa, mas 60 ou 70 metros de distância do público não é uma boa distância, e espero que eles levem isso em consideração.

Distância entre arquibancadas e pista desagrada Srb – Foto: Youthstream

Passando uma boa mensagem adiante

Para fazer isso, precisaríamos da ajuda de nossos garotos, nossas estrelas. Se falarmos disso as pessoas pensam ‘bem, do que mais eles vão falar!?’. O que eu gostaria de ver eram os pilotos e as equipes grandes com um discurso positivo, já que os fãs confiam neles.

Eles não confiam em nós quando Giuseppe ou eu falamos sobre o show. Isso é algo que eu realmente admiro sobre os americanos. “Eles são tão positivos, e nunca vão falar nada ruim sobre o campeonato deles”. De vez em quando eles exageram, como quando eles falam sobre ter 70 patrocinadores, mas você já ouviu um americano sendo negativo numa declaração para a imprensa?

Precisamos aprender a fazer isto, e os gerentes das equipes podem ajudar. Com as portas fechadas podemos falar sobre qualquer coisa, mas quando falamos destas coisas para o público e para a imprensa, é horrível… Então nós temos que superar isso.

Os ‘atores principais’ tem de levar a mensagem adiante. Quando um piloto como Tommy Searle diz ‘hoje foi uma grande corrida, venha ver mais em Matterley’, os fãs vão acreditar nisso e eu adoraria ver mais declarações assim.

Se algo está errado nós vamos até o escritório, fechamos a porta, conversamos e vemos no que podemos melhorar. Eu acho injusto o jeito com que Giuseppe é tratado às vezes nas redes sociais, e penso ‘como você pode escrever isso, você não sabe nada?’. O cara (Giuseppe) ainda é um fã. Ele foi um piloto, não tão bom, bateu forte e depois disso começou a viajar com seu carro para a Finlândia e outros lugares, e assim ele começou. A maioria das pessoas tem uma imagem negativa dele, e eu acho injusto.

Supercross, motocross em estádios e o futuro do esporte

Você não deve descartar nenhuma possibilidade, e as coisas não ficam iguais para sempre. Talvez a ideia de ir para estádios seja boa.

Discutimos o plano de fazer corridas em estádios de futebol e construir a pista na parte de dentro e de fora do estádio. Precisamos tomar cuidado para não fazer uma cópia do Supercross. Não podemos e não vamos.

Se uma mudança no esporte for feita, o mais importante é administrar e controlar esta mudança. As coisas vão acontecer. Como o motocross será em 2020? Ninguém sabe. O esporte continuará sendo grande e o homem será sempre mais importante que a máquina, o que torna nosso esporte tão verdadeiro e real.

É algo especial e de se orgulhar que os garotos trabalhem muito para correr, e você não pode comprar um título. Nós não devemos descartar nenhuma ideia, e eu diria que estamos tendo reuniões e conversas muito interessantes com a Youthstream.

Queremos que o motocross fique maior, melhor e global, e é só uma questão de encontrar objetivos comuns. O que hoje pode parecer uma ideia maluca, em três ou quatro anos pode ser algo gigante para o esporte. Temos a mente aberta.