Memorial, é claro, tem a ver com memória. É para isto que o prédio no número 2245 da avenida Calistrato Müller Sales, que dá acesso a cidade de Laguna, em Santa Catarina, se apresenta mais belo e importante que as outras edificações.
Lá estão utensílios que lembram a carreira de João Paulino da Silva Júnior, o Marronzinho, tricampeão brasileiro de motocross, 18 vezes campeão catarinense, campeão da Superliga, campeão paranaense, campeão de tantas outras copas regionais.
Nesta quarta-feira, 26, o universo do motocross nacional lamenta um ano sem o atleta, que morreu após uma queda em um treino rotineiro, nesta mesma data, em 2012.
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Ontem, uma terça-feira nublada, a sobrinha de Marronzinho, Bruna da Silva, abriu as portas do Memorial com um belo sorriso no rosto para receber o BRMX.
Entramos após observar que na frente há um decorado pequeno jardim. Bruna liga a TV e dá play numa sequência de vídeos que mostram cenas da história do tio nas pistas.
Com Marronzinho falando ao fundo, observamos. A sala é pequena. Deve ter cerca de 50 metros quadrados. Bruna informa que ali era antes um espaço para Marronzinho guardar, mexer, arrumar suas motos de competição. Agora as paredes estão forradas de prateleiras, e nelas mais de 350 troféus dispostos, organizados por competição.
À esquerda da porta de entrada está o primeiro conquistado por Marronzinho, de um minicross realizado em 1990 na cidade de Governador Celsom Ramos, no bairro de Palmas, Santa Catarina. Mais adiante, ao fundo, o último de primeiro lugar em competições nacionais, conquistado na inauguração da pista do Beto Carrero, em Penha – veja o vídeo no final da página.
Dois expositores de vidro estão assentados no meio da sala. Neles, objetos como um boné do tempo que era piloto da Suzuki J. Toledo, com uma mensagem para sua mãe. Ou então as ataduras que ele usava nas mãos, por baixo das luvas. E capacetes, crachás de piloto filiado à CBM e à FCM. E placas de homenagens. E mais troféus.
No fundo, ao lado de alguns quadros – entre eles uma foto de Marronzinho ao lado de Jeremy McGrath – está uma Yamaha YZ 450F, igual a utilizada no ano passado, quando competiu pela equipe do Grupo Geração, de Florianópolis. Há também um manequim vestido com sua camisa, calça, bota, capacete, luvas e óculos. E uma minimotocross Honda, que era do seu filho, lembrando a dele quando começou a correr com oito anos de idade.
De repente, o pai de Marronzinho, que mora e tem uma oficina do outro lado da rua, em frente, aparece na porta. A imagem dele é a imagem do filho. Impossível separá-los. Impossível não engasgar.
Pergunto se está tudo bem.
– Bem nunca mais. O mundo ficou cinza para mim. Enfiei a cabeça no trabalho tentando me agarrar em alguma coisa. A esperança que eu tenho é de um dia encontrar ele de novo.
A alegria de seu Marrom é ver as pessoas visitando o local, mantendo seu filho vivo na lembrança.
Vale lembrar que o Memorial foi idealizado por Antonio Carlos de Souza, o “Preto”, que é amigo da família e contou com apoio dos patrocinadores e de autoridades locais para ser realizado. A intenção é ir complementando a peça com mais utensílios.
Será sempre um prazer voltar lá.
:: Imagens da vitória do Marronzinho em Penha, pela Superliga
* Colaboração: Christine Wesendonk