Shaun White fala da importância do treinador na vida do piloto de motocross

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Shaun White na segunda etapa do Brasileiro MX – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Aos 28 anos de idade ele carrega uma experiência de respeito. Ao lado do pai, Russell White, trabalhou com Ezra Lusk, Sebastien Tortelli, Tyla Rattray, Rui Gonçalves, entre outros. Da mesma “escola” de Aldon Baker, o também sul-africano Shaun White tem conquistado espaço e confiança entre atletas brasileiros.

Desde o ano passado, ele auxilia Jean Ramos e Gustavo Pessoa a escalarem degraus para fazer frente aos estrangeiros que chegaram para disputar os campeonatos no Brasil. Neste mês de julho, está em terras tupiniquins para um trabalho intensivo com os pilotos da Honda Mobil e IMS Racing – Paulo Alberto, Adam Chatfield, Hector Assunção -, além de iniciar um programa com Enzo Lopes.

Gentil, educado e de bom humor, Shaun White conversou com o BRMX durante a segunda etapa do Brasileiro de Motocross 2015, em Paty do Alferes, Rio de Janeiro. Falou de seu trabalho e do quanto é importante um atleta levar uma vida regrada. Confira abaixo!

 

BRMX: Como você começou?
Shaun White: Meu pai tem uma academia na África do Sul, uma das maiores do país. E nós treinamos atletas de todos os esportes, desde ciclismo, natação, até enduro e motocross. Iniciei com ele, principalmente quando ele foi fazer trabalhos fora da África do Sul, 12 anos atrás, com a Chevy Kawasaki e o piloto Ezra Lusk (um dos poucos a fazer frente a Jeremy McGrath no AMA Supercross). Eu tinha 16 anos. Em 2008, treinamos o Tyla Rattray e ele foi campeão mundial na MX2. Também trabalhamos com Sebastien Tortelli, Rui Gonçalves, Josh Coppins.

Como você veio parar no Brasil?
Shaun White: Vim com o Joaquim Rodrigues (em 2012 e 2013), pois já conhecia ele de trabalhos na Europa. Depois, a Honda me contratou para trabalhar com Adam Chatfield, Paulo Alberto e Julien Bill (em 2014). E também comecei a treinar o Gustavo Pessoa e o Jean Ramos (no segundo semestre de 2014).

Seu pai ainda trabalha?
Shaun White: Sim, mas provavelmente vai se aposentar no fim deste ano. Já está nisso há muito tempo e já trabalhou muito para a Red Bull, Monster Energy, já deu palestras ao redor do mundo, tem quase 60 anos e ainda pilota, ainda anda de mountainbike, e ainda é mais forte que eu.

Você pilota?
Shaun White: Eu pilotava. Me lesionei muito, e na África do Sul é muito difícil ser um piloto profissional, não há muito dinheiro para o motocross lá, você precisa ser seu próprio patrocinador. Por isso, parti para o trabalho de treinador, que posso desenvolver ao redor do mundo.

O motocross é seu principal trabalho?
Shaun White: Quando estou na África do Sul, treino todos os tipos de atletas na academia do meu pai. Mas fora, sim, é meu principal trabalho.

Você se graduou ou o conhecimento vem todo do teu pai?
Shaun White: Fiz a escola normal (completou o segundo grau) e aprendi tudo sobre nutrição e treinamento com meu pai, que inclusive já escreveu muitos artigos sobre o assunto, até para companhias de suplementos. Onze anos com ele foi uma verdadeira escola.

 

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Russell White, pai e mentor de Shaun – Foto: Russell Academy

 

Como funciona seu trabalho?
Shaun White: Bom, motocross é um esporte difícil, um dos mais difíceis do mundo. Faço um programa completo para o piloto, com o que ele come, suplementos que deve tomar, medicamentos, tudo. O treino tem duas ou três tarefas diárias, uma de manhã, uma de tarde e uma ao anoitecer, e fizemos de segunda à sexta, dependendo também se vai ter corrida ou não no fim de semana. É importante ter também a recuperação e o descanso.

Não é apenas em cima da moto…
Shaun White: Não, cuido de tudo, desde o preparo físico até o preparo mental, da alimentação e da pista, da parte técnica também.

Como fazer um trabalho mental?
Shaun White: É muita motivação e autoconfiança. Alguns pilotos conseguem ser muito rápidos na pista, mas não têm autoconfiança suficiente para as corridas. Então eu trabalho isso com ele, detectando os problemas e relembrando quem eles são, porque estão ali, como eles treinaram para aquilo, e que estão prontos para a corrida.

Conhecemos Aldon Baker por causa da fama que fez com Ricky Carmichael e Ryan Villopoto. Ele também é sul-africano. Vocês se conhecem? O programa de treinos é parecido?
Shaun White: Nossos programas são quase iguais porque meu pai e Aldon já se conheciam na África do Sul. Eles começaram a trabalhar ao mesmo tempo. Muitos dos programas são iguais. Mas depende muito da região e do objetivo do piloto. Os pilotos do Brasil, focados no Brasileiro de Motocross, não serão treinados tão intensamente como os dos Estados Unidos, onde as corridas são diferentes, mais explosivas, e mais frequentes. Se um brasileiro for para os EUA, terá que treinar ainda mais forte.

 

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Bike sempre presente nos treinamentos – Foto: Russell Academy

 

Você não passa o ano inteiro no Brasil, então como mantém o trabalho com Jean Ramos e Gustavo Pessoa, por exemplo?
Shaun White: Todos os meus pilotos estão no meu programa. Primeiro eu mostro pessoalmente para eles como fazer, depois que eu viajo, continuo em contato, enviando os programas para eles cumprirem todos os dias. E eles precisam falar comigo, me contar o que eles fizeram, como foi.

No Brasil são poucas corridas por ano, cinco de Arena Cross e seis de motocross, mais algumas regionais. Como trabalhar neste ritmo?
Shaun White: O que atrapalha bastante no Brasil são as mudanças de datas e o fato do arenacross e o motocross aconteceram ao mesmo tempo. É difícil conciliar os dois, mas tentamos balancear. No começo do ano, é treinamento de base, muitas horas de treino, e quando chegam as corridas, mudamos para velocidade.

Férias e folgas são importantes?
Shaun White: Sim. Devem ter dias de folga. Toda semana tem que ter um dia de folga, e naquele dia eles podem até comer pizza. Se você treinar demais constantemente, vai estourar. No fim da temporada, é bom ter algumas semanas de folga.

Acompanhando um curso do Sebastien Tortelli, percebi que ele falava muito para os pilotos pensarem na pista, durante a pilotagem, traçando metas, objetivos e estratégias, inclusive pensando onde iriam descansar em determinado trecho do circuito. É possível e necessário ensinar isso?
Shaun White: Sim, fizemos muito isso também. Eles devem pensar enquanto pilotam. Alguns desligam a cabeça quando entram na pista, o que é ruim, porque se tiver alguém na frente, eles ficarão presos ali, não conseguirão ultrapassar. Eles precisam aprender a pensar, a planejar duas curvas à frente, onde serão agressivos, onde vão relaxar. Nós treinamos o Tortelli durante um ano inteiro também, e o programa dele se parece com o nosso.

Você teria tempo para treinar mais pilotos no Brasil?
Shaun White: Sim, sempre tenho tempo para pilotos. Tenho pilotos ao redor de todo mundo, e desde que eles tenham comprometimento e queiram fazer o trabalho, eu tenho tempo.