Chumbo, Gui Lima, Wellington Valadares e Cristiano Lopes somam décadas de experiência no MX – Foto: Maus Haas / BRMX
As novas configurações das categorias nos campeonatos nacionais para 2012 têm causado divergência neste início de temporada. A extinção da MX3 e MX4 – na Superliga Brasil de Motocross – e a transferência da MX4 para o Campeonato Amador – no Brasileiro de Motocross – provoca novo debate entre Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM), Romagnolli Promoções e Eventos, Associação Brasileira de Pilotos de Motociclismo Esportivo (ABPMX) e, consequentemente, pilotos.
Pouco antes da abertura da Superliga Brasil de Motocross, em 3 e 4 de março, Cristiano Lopes, piloto há 22 anos e atual campeão MX3 no campeonato realizado pela Romagnolli Promoções e Eventos, divulgou por e-mail uma carta intitulada “Desabafo de um campeão”. Nela, Lopes afirma que está perto da aposentadoria como esportista em razão do desrespeito com o qual os pilotos são tratados pelos organizadores dos eventos.
O piloto, que em 2011 fez parte da equipe IMS Racing, afirma também que a extinção das categorias MX3 e MX4 na Superliga prejudicou os pilotos que buscaram patrocinadores, compraram motocicletas e montaram suas equipes. Clique aqui e leia a carta na íntegra.
Marlon Olsen, piloto e diretor da ABPMX, concorda com a opinião de Lopes e lembra que os pilotos das categorias em questão são os mais exigentes em relação aos itens de segurança, além de serem formadores de opinião. Estes seriam, na opinião de Olsen, alguns dos motivos para a decisão da empresa promotora do evento. Acesse e veja a resposta de Olsen.
Na outra ponta do debate, a Romagnolli Promoções e Eventos esclarece que o fim das categorias se deu por questão de adequação de horários de treinos e corridas para MX3 e MX4, a inclusão da categoria CRF 230 tornou ainda mais apertada a programação do campeonato e a exigência rigorosa no cumprimento de horários para a transmissão na TV aberta. Conheça o esclarecimento de Carlos Alberto Romagnolli em documento enviado ao BRMX.
Lopes é o atual campeão de uma das categorias que deixaram de existir na Superliga MX – Foto: Elton Souza / BRMX
Opiniões divergentes
No Campeonato Brasileiro de Motocross, a categoria MX4 foi mantida, mas remanejada para o evento amador, que será realizado em um único fim de semana no último semestre do ano. Já a categoria MX3 permanece na programação profissional, e sua idade mínima voltou a ser 35 anos depois da experiência na temporada anterior com a redução para 30 anos.
A decisão, segundo a CBM, foi tomada levando em consideração o baixo número de pilotos que competem em todo o campeonato. Em 2011, somente três atletas disputaram todas as provas da MX4 – Milton “Chumbinho” Becker, Marco Antônio Paz e José Luis Prado.
Para uma comparação com a Superliga de Motocross, na mesma temporada, quatro pilotos disputaram integralmente o campeonato – Ricardo Sebbe, Alessandri Dias, Dário Júnior e Marco Antônio Paz.
– Alegaram (CBM) que poucos pilotos faziam todo campeonato da MX4, mas a categoria era nova, ainda podia crescer, e não atrapalhava em nada. Poderia (as baterias) ser no sábado, junto com a MX3, por exemplo. Qual é o problema nisso? Queria saber o que a MX4 impede no crescimento ou na profissionalização do motocross? Dei minha vida por este esporte e, neste ano, me senti chutado. Sequer recebi uma satisfação – relata Milton “Chumbinho” Becker, 16 vezes campeão nacional.
Firmo Henrique Alves, presidente da CBM, explica que a decisão da entidade foi o de facilitar a participação dos competidores.
– Não poderíamos manter um campeonato profissional com oito etapas para três pilotos, entre eles o Chumbo, que é um guerreiro do esporte. Precisávamos encontrar uma fórmula para reduzir o custo de participação dos atletas, com isso aumentaríamos o número de inscritos. Assim, ao invés desses pilotos terem que rodar o Brasil para conquistar o título, eles têm a chance de alcançar o mesmo propósito em um único fim de semana – esclarece o presidente.
Marlon Olsen, diretor da ABPMX, compartilha da opinião da CBM.
– Ele (Chumbinho) terá grande visibilidade no Estadual e na etapa única do nacional, podendo levar o título, que é o que interessa ao patrocinador. Ano passado, apenas quatro pilotos fizeram todas as etapas da MX4, e três deles continuam com os seus patrocínios para 2012, isso se o Chumbo não tiver fechado nada, o que acho pouco provável – justifica.
Olsen também dá seu parecer sobre a migração da MX4 para o Campeonato Amador.
– A MX4 não deixou de existir, mas será disputada em etapa única junto com as categorias MXJR, 230, Feminina e 50cc, onde os campeonatos estaduais serão o caminho de acesso para os pilotos poderem se inscrever (provavelmente apenas cinco pilotos por categoria de cada Estado). Onde essas categorias terão muito mais visibilidade que antes e com menor custo para os pilotos – relata.
Davis Guimarães, campeão brasileiro da MX3 em 2010, sente o reflexo das mudanças de categorias nos campeonatos nacionais. Sem contrato com equipe, ele vê ameaçada a possibilidade de disputar a temporada inteira.
– Entendo todo este incentivo às categorias principais, mas é importante lembrar que todos os pilotos de elite um dia terão mais de 35 anos de idade e, mesmo que queiram, não serão mais competitivos na MX1. Tirar a MX3 e a MX4 é esquecer que todo piloto um dia vai passar por ali e esses mesmos pilotos são responsáveis por iniciarem seus filhos nas categorias de base – comenta Davis, que confirmou participação somente na abertura do Brasileiro de Motocross em Carlos Barbosa, Rio Grande do Sul, em 8 de abril.
Chumbinho se encontra na mesma situação:
– Estava fechado com patrocínio da Pro Tork, mas, quando tiraram a categoria (MX4), fiquei sem nada. Na Liga (Superliga Brasil de Motocross) foi anunciado quando o campeonato já estava pra começar. E no Brasileiro, também foi apenas neste ano – reprova o piloto.
– Eu passei a minha vida no motocross, mas o motocross não me deu aposentadoria. É diferente do que acontece no exterior. E, de repente, os gestores deste esporte me viram as costas, tiram a categoria que eu poderia seguir competindo, sendo competitivo – desabafa o multicampeão.
Chumbo comemorou seu 16º título nacional e que pode ser um dos últimos de sua carreira profissional – Foto: Elton Souza / BRMX