Relembre a corrida que colocou Stefan Everts e Ricky Carmichael frente a frente no MX das Nações 2003

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Momento que Carmichael coloca ao lado de Everts – Foto: Arquivo Frank Hoppen

 

Falar de Motocross das Nações é colocar em pauta uma velha discussão: Estados Unidos contra o “Resto do Mundo”.

A cada setembro o universo do MX intensifica este debate. Ele já passou por nomes como Gary Jones e Bob Hannah versus Roger De Coster e Heikki Mikolla no anos 1970, ou sobre David Bailey e Johnny O’Mara versus Eric Geboers e Harry Everts nos anos 1980, depois por Jeremy McGrath e Jeff Emig versus Joel Smets e Stefan Everts, só para citar alguns exemplos.

Mas é nos anos 2000 que o motocross viveu o encontro das duas maiores lendas do esporte: Ricky Carmichael e Stefan Everts.

O primeiro ganhou dez vezes CONSECUTIVAS o AMA Motocross (1997, 98 e 99 na 125cc e o restante até 2006 nas “big bikes”). E o segundo ganhou o Mundial de Motocross dez vezes, sendo 1991 na 125cc, depois 1995, 96 e 97 na 250cc e em 2001, 2002 na 500cc e posteriormente, em 2003, 2004, 2005, 2006 na MX1.

É só olhar para os anos e perceber que ambos viveram seu auge no início dos anos 2000. Em 2003, que é onde queremos chegar com este assunto, os dois estavam andando na mesma classe. Naquele ano, Everts completou 31 anos e Carmichael fez 24.

 

Por que este ano?

Porque foi nele que Carmichael e Everts se enfrentaram nas mesmas condições no MX das Nações. Era o “tira-teima” perfeito na discussão “quem anda mais, os americanos ou os campeões mundiais?”.

Se Carmichael levava vantagem na idade, Everts tinha a seu favor o fato de que corria em casa. Aquele Nações aconteceu na Bélgica, na pista de Zolder, e a torcida era toda para o campeão mundial. Carmichael corria de Honda 250cc 2T e Everts de Yamaha 450 4T.

O vídeo abaixo mostra a última corrida do dia naquele MXoN 2003. É a bateria principal, aquela que mistura pilotos das classes MX1 e Open. Nela estão Everts e Carmichael medindo quem era o melhor da época.

O belga – número #4 – larga na frente, enquanto Carmichael – número #85 – sai mais ou menos em décimo lugar. Em poucas voltas, o americano já é o quarto, tendo pela frente o neozelandês Josh Coppings e os belgas Joel Smets e Everts.

Ele passa Coppings como se fosse ninguém, mas a distância até Everts é muito grande (mais de 6seg). Porém, Carmichael estava girando as voltas mais de 2seg mais rápido que Everts.

A partir dos 14min de vídeo, Carmichael aparece na mesma tela que Everts. Se inicia ali a disputa pela primeira posição. Enquanto Everts desfila seu estilo “polido” de pilotagem, Carmichael parece se agarrar à moto sem dar trégua ao acelerador.

A distância diminui a cada curva. O mecânico de Everts pede para ele relaxar (e tem como relaxar numa situação dessas?).

Aos 17min de vídeo (cerca de 15min de corrida) você verá Carmichael ultrapassar Everts sem fazer muita força. O belga ainda tenta o troco, mas o americano dispara na frente e chega a abrir mais de 10seg de vantagem.

No final, a Bélgica de Everts, que ainda contava com Joel Smets e Steve Ramon, comemora a conquista do troféu do MX das Nações, enquanto os EUA de Carmichael, Tim Ferry e Ryan Hughes se contenta com o vice-campeonato.

Há quem alegue que Everts teria tirado a mão apenas pensando em garantir o título do Nações para a Bélgica, sem se importar com a disputa individual contra Carmichael. Mas, qual piloto não gostaria de provar que é o melhor? E, ainda, Everts não tinha como controlar o desempenho de seus companheiros de time, e muito menos dos outros norte-americanos, que poderiam conquistar melhores posições e roubar o título do MXoN.

– Mesmo que seja uma corrida de times, é uma corrida individual. Não tenho controle sobre meus companheiros de time. Por mim foi importante para mostrar pra todo mundo que eu sou o melhor. Stefan é um piloto muito, muito bom. Me diverti muito hoje correndo contra Stefan. Estou feliz, ganhei a corrida. Gostaria de ter vencido o MX das Nações, ganhei a bateria, dei meu melhor mas não tenho controle sobre meus companheiros – disse Carmichael após a entrevista*.

Enfim, assista ao vídeo e tire suas próprias conclusões.

 

* A entrevista de Everts está em belga (ou holandês), por isso não está traduzida. Se alguém souber decifrar isso, por favor, envie para [email protected].

** Esta matéria teve a colaboração de Keu Lerner e Edu Sulzbacher

*** Texto escrito originalmente em 25 de setembro de 2013