Por trás da Máquina: Marcus Freitas, chefe de mecânicos da Honda HRC no Mundial de Motocross

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Marcus Freitas – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Os dias passam, as etapas acontecem, pilotos triunfam e se quebram, e talvez você nem se dê conta de que o Brasil tem um representante importante e muito influente nos bastidores do Mundial de Motocross.

Enquanto todos estão com os olhos voltados para os atletas, Marcus Freitas – também conhecido como “irmão do Marcinho da Brasil Racing” ou como @marcus_seninha no Instagram – trabalha duro nas motos da da Honda HRC, um dos times de fábrica mais importantes do mundo.

No fim de semana passado, na pacata cidade de Valkenswaard, Holanda, Marcus Freitas comemorou como se ele mesmo tivesse vencido o GP da Europa, quinta etapa do Mundial deste ano.

Subiu no pódio, bebeu champanhe, ergueu a taça, vibrou junto com o francês Paulin, tal qual manda o figurino. Não era para fazer menos, já que desde a primeira etapa a equipe vinha trabalhando duro para colocar o novo contratado no degrau mais alto do pódio. E foi uma vitória maiúscula, com domínio absoluto do time vermelho. A comemoração tinha que ser do mesmo tamanho.

Marquinhos completa em 2015 seu 15º ano de Honda no Mundial de Motocross. É tanto tempo na mesma equipe que ele se tornou um dos rostos mais conhecidos no time vermelho.

Já trabalhou com atletas como Mickael Pichon, Kevin Strijbos, Javier Garcia Vico, Brian Jorgensen, Marc de Reuver, Max Nagl, e até mesmo o octacampeão mundial Tony Cairoli. Sabe exatamente como funciona a rotina, a mecânica, o cronograma, os MEANDROS de uma grande equipe de motocross.

Simpático, atencioso, sorridente, Marquinhos sempre arruma um tempinho para atender a equipe do BRMX. Semanas atrás, na Argentina, ele conversou por cerca de 20 minutos com nossa reportagem e contou alguns detalhes sobre o time HRC. Confira!

 

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Marcus Freitas, há 15 anos na Honda do Mundial de Motocross – Foto: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Vocês terminaram o ano de 2014 ganhando corridas com o Max Nagl e fazendo uma das contratações mais badaladas do Mundial, tirando o Paulin da Kawasaki. Desde então, todas as listas de favoritos tinham o Paulin. Como está sendo trabalhar com ele?
Marcus Freitas: Contratamos o Paulin com a intenção de conseguir os resultados que a gente sempre tentou. No ano passado tivemos alguns problemas físicos com os pilotos, ganhamos no finalzinho com o Nagl, mas agora com o Paulin melhorou bastante, até porque ele ajudou muito a desenvolver a moto. Ele é muito rápido e muito técnico, então conseguimos melhorar bem a parte ciclística da moto.

BRMX: Como você avalia a estreia dele no Catar?
Marcus Freitas: Na primeira etapa, com moto nova, time novo, era tudo novo pra ele e ele ficou um pouco nervoso. Tivemos alguns erros nos treinos de sexta, acertamos para o sábado e conseguimos o pódio. Terceiro não é um resultado negativo, mas a gente encara como o pior resultado que podemos ter no fim de semana.

BRMX: Por que o Paulin ajuda? Como ele ajuda?
Marcus Freitas: Ele ajudou muito no acerto de suspensão, por exemplo. Sabe o que quer, é decidido. Testa e já sabe se aquela configuração vai ajudar e já fica com ela, não quer ficar testando e testando e testando.

BRMX: Como ele é no dia a dia? Já entrevistei ele em algumas oportunidades e ele sempre me pareceu frio e fechado.
Marcus Freitas: É o estilo europeu, mais fechadão mesmo. Mas é uma pessoa muito legal, muito boa de se trabalhar. A gente já tinha trabalhado juntos em 2007, quando ele ganhou o primeiro Europeu dele. Nos conhecemos faz tempo. Em entrevistas é normal que ele, assim como os outros, sejam mais fechados. Muitos não gostam, ou às vezes não é o momento certo. Mas são boas pessoas. E ele está bem integrado ao time. Já é de casa.

 

Marquinhos (de manga curta) – Foto: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Desde o ano passado temos vistos muitos japoneses dentro do box da Honda. Como tem sido esta interação com os engenheiros da fábrica?
Marcus Freitas: Desde o início do ano passado, temos 100% de acompanhamento dos japoneses nas corridas. Até então, eles vinham em algumas etapas, mandavam materiais pra gente e tudo mais, mas desde 2014 estão 100% conosco, desde os testes até as corrida.

BRMX: Eles estão sempre no computador…
Marcus Freitas: Sim, eles são bem focados. Nós pegamos todos os dados da moto durante o fim de semana. Acertamos carburação, suspensão, ciclística, tudo com os dados coletados pelos sensores na moto. Tem sensor para tudo. Consigo ver tudo o que a moto faz e depois juntamos com as opiniões do piloto para melhorar as configurações.

BRMX: Estamos vivendo o auge da tecnologia no motocross?
Marcus Freitas: Com certeza. A Honda traz muitas coisas da MotoGP para o motocross. Algumas ajudam muito, outras não. Mas a tecnologia tem ajudado bastante.

BRMX: Tem alguma coisa que você pode dizer como funciona?
Marcus Freitas: Temos sensores de embreagem, por exemplo, que ajudam a ver a reação do piloto no gate de largada. Dá pra saber se ele fica com a embreagem na mão. Tem sensor de tração, que permite reduzir o giro do motor para evitar que ela patine. Tem sensor de dirigibilidade pra saber o ângulo da moto, quanto baixou, e isso ajuda a acertar a suspensão. Nas subidas e nas descidas também podemos trabalhar conforme alguns sensores. Sei se o piloto deixou a moto apagar, se a moto empinou na largada, quanto tempo a moto ficou com a roda fora do chão, se patinou muito ou pouco, se deu tração em vão. Baseados nisso, mexemos nas suspensões, escolhemos o gate de largada, colocamos ou tiramos mais terra no gate, e assim por diante.

BRMX: Isso é uma exclusividade da equipe Honda HRC?
Marcus Freitas: Eu acho que não. Acho que todos os times de fábrica já usam estes sistemas.

BRMX: E em pistas novas, como esta da Argentina, onde ninguém correu ainda, qual é o procedimento?
Marcus Freitas: Nestes casos é mais trabalhoso. Temos que analisar o pneu, a suspensão, gastamos um dia a mais em testes. Na Europa, como já conhecemos a maioria das pistas, já sabemos estas coisas antecipadamente. Aqui usamos o primeiro e o segundo turno para fazer acertos. Relação, pneus, etc. O piloto caminha na pista antes e então fazemos uma reunião pra traçarmos a primeira ideia, mas o teste de verdade é quando ele vai com a moto pra pista.

BRMX: Os pilotos aceitam bem estas sugestões?
Marcus Freitas: Sim. A maioria das coisas que fazemos ou trocamos na corrida é fruto de testes que realizamos anteriormente. Nada é novidade, nada é chute.

 

Bobryshev pux aa fila – Foto: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Como o pessoal do Mundial encarou a vinda do Villopoto para o circuito?
Marcus Freitas: É positivo. Ter um piloto como o Villopoto chama muita mídia para o Mundial, o que é bom, e depois tem Cairoli, Paulin, Desalle, que são todos candidatos a vencer provas. Para o campeonato é muito bom. Este ano a MX1 está espetacular.

BRMX: Houve alguma “discriminação” com o Villopoto? Algo tipo “nariz torcido”?
Marcus Freitas: Acho que não. Talvez ele ainda se sinta fora do grupo, apesar de que já vi ele conversando com todos. Mas ainda não tem aquela amizade, e por isso ele pediu para ter o Rattray na equipe, um piloto que ele já conhecia dos Estados Unidos. Mas é claro, ele é rival, existe respeito, mas nem sempre eles (pilotos) vão ser amigos uns dos outros.

BRMX: Como repercutiu o cancelamento do GP Brasil nos bastidores?
Marcus Freitas: No aspecto logístico, foi até bem visto por alguns, porque teríamos que ir ao Brasil, voltar para a Europa e depois ir para o México e EUA. Seria trabalhoso. Mas a gente sente falta, porque o Brasil estava no calendário todos os anos desde 2009, todos já contavam com uma etapa brasileira. Os pilotos gostam da prova no Brasil porque o público agita, é legal. Vai fazer falta.