Podemos chegar ao nível do gringos? Análises e resultados finais do Mini Os 2015

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17h de segunda-feira. É dia 7 de dezembro. Chegamos em casa depois de uma maratona de 23 dias de motocross. Saímos do Brasil no dia 15 de novembro para acompanhar o piloto Rafael Becker no Mini Os 2015, voltamos no dia 4 de dezembro, cobrimos a final do Arena Cross, e cá estamos, de volta ao lar.

Muito aconteceu nestes 23 dias. Nos Estados Unidos, conhecemos o MTF – um dos mais famosos centros de treinamento do país -, fizemos amizade com novos pilotos brasileiros e suas famílias que vivem na Terra do Tio Sam, aprendemos novas técnicas, ficamos a par de novas tendências, visitamos lojas de motos, entendemos melhor os costumes americanos. Foram dias de aprendizado.

Difícil resumir tudo em um texto. Porém, há considerações interessantes que merecem destaque. Abaixo, algumas delas.

 

A experiência

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Largar sempre com 39 motos ao seu lado é o primeiro choque de realidade – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Disputar uma competição deste porte nos Estados Unidos é importante para qualquer piloto brasileiro, independente da idade ou da categoria. O motocross norte-americano é o mais intenso do mundo e quando você se insere neste universo, você entende melhor porque os pilotos daquele país têm uma representatividade tão grande neste esporte. Eles aprendem desde pequenos a largar no máximo e acelerar tudo durante toda corrida. Aprendem cedo a disputar um salto com três ou quatro saltando juntos, a largar com 40 motos no gate, a disputar a primeira curva com todas as forças. São treinados para isso com corridas curtas, de poucas voltas, em pistas repletas de canaletas e buracos, com subidas e descidas de colocar medo.

 

 

Os brasileiros

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Andrew, Kevyn e Rafael podem ser os futuros brasileiros a se destacarem – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Cada vez mais brasileiros estão encarando provas nos Estados Unidos. Além dos que saem daqui, há os que já moram nos EUA. Neste ano, dez nomes preencheram esta lista. Enzo Lopes, Rafael Becker e Marcello Leodorico saíram do Brasil especialmente para este evento. Ramyller Alves, Gabe Gutierres, Kevyn de Pinho, Andrew Ribeiro, Ricardo Souza, Dan Kirchoff e John Rezende moram por lá e viajaram até pista de Gatorback Cycle Park para participarem das provas.

Medir o desempenho deles contra os gringos é interessante para ver em qual nível se encontram os nossos atletas. Enzo, Rafael e Marcello competem regularmente no Brasil e tiveram bom desempenho no Mini Os. Marcello chegou a vencer uma bateria final no motocross da 65cc contra Ryder Difrancesco, piloto de 10 anos que já tem patrocínio da Kawasaki, da DC Shoes, entre outras grande marcas, e é apontado como promessa do esporte.

Enzo ganhou três baterias classificatórias, duas no supercross e uma no motocross. Bateu inclusive Challen Tennent, vencedor de 12 das 16 baterias finais da semana, e mostrou potencial para andar sempre entre os cinco melhores. Pecou nas largadas das baterias decisivas, e por isso não obteve resultados ainda mais expressivos.

Rafinha mostrou que pode mais, basta acreditar um pouco mais em si e encarar os gringos de igual para igual, sem medo de ser feliz. Evoluiu de 2014 para 2015, largou melhor, mas ainda precisa ser mais intenso como os norte-americanos. De qualquer maneira, voltou mais experiente e mais veloz.

Dos brasileiros que vivem nos EUA, destaque para Ramyller Alves. O garoto tem a agressividade dos gringos e também anda entre os cinco da 250. Foi outro que sofreu com largadas ruins e por isso teve alguns resultados acima do quinto posto, mas em termos gerais conseguiu um vice-campeonato no supercross – categoria Schoolboy 2 – e o terceiro lugar na 250B do motocross.

Os demais podem evoluir muito ainda, principalmente porque vivem nos EUA e disputam competições semelhantes todos os meses do ano. Gabe Gutierres tem apenas 15 anos e acabou de subir para as motos de 250cc, e já andou entre os dez na Schoolboy 1 – para motos de 125cc dois-tempos. Kevyn de Pinho e Andrew Ribeiro são crianças de seis e sete anos, respectivamente, Ricardo Souza é amador, e Dan Kirchoff e John Rezende disputam a categoria C da 250, destinada a atletas que ainda não se a andar na B (categoria semi-profissional).

Nos links abaixo, você consegue conferir todos os resultados de cada brasileiro.

>> Resultados de Enzo Lopes
>>> Resultados de Rafa Becker
>>> Resultados de Ramyller Alves
>>> Resultados de Gabe Gutierres
>>> Resultados de Marcello Leodorico
>>> Resultados do Kevyn de Pinho
>>> Resultados do Andrew Ribeiro
>>> Resultados de Ricardo Souza
>>> Resultados de Dan Kirchoff

>>> Resultados de John Rezende

>>> Clique aqui para ver os resultados por categorias

 

 

A distância pode ser menor

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Jean buscou treinamento específico e subiu seu patamar de competitividade – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Alguns pilotos brasileiros estão trabalhando para diminuir esta diferença para os gringos. É visível. Hector Assunção e Jean Ramos talvez sejam os principais expoentes desta safra que aprendeu a trabalhar parecido com os gringos, executando rotina e metodologia de treinamento, além de outros cuidados fora da pista, que trazem retorno dentro dela. Eles mostram que é possível. Acredito que os dois teriam chances de vencer as provas das principais categorias do Mini Os.

Claro que temos que levar em consideração que Jean e Hector são mais velhos, e profissionais no Brasil, enquanto os gringos da 250B e Pro Sport têm menos de 20 anos de idade e ainda são considerados amadores (apesar de já levarem vida de profissionais). Mas é um indício de que podemos. Enzo é a prova disso. Com a mesma idade dos gringos, andou próximo dos ponteiros. Tem potencial para vencer.

Poucos anos atrás, Balbi Junior também fez história competindo anos nos Estados Unidos, alcançando resultados expressivos, se colocando acima de muitos norte-americanos. É difícil, muito difícil, mas é possível. Precisamos aumentar o intercâmbio, investir mais, buscar a excelência. Investir na base, formar atletas competitivos desde a 50cc. É isso que os americanos fazem.

 

Importar ideias

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A base é valorizada nos EUA – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Atualmente, temos acesso a praticamente todos os equipamentos aqui no Brasil. Importadoras como a Brasil Racing, W3 Racing, Silva Mattos, SportsCo, Star Racer, Jarva Imports e BR Motorsport, entre outras, trazem as grandes marcas para nosso consumo. Está na hora de dirigentes e promotores de campeonatos importarem sistemas, pistas, conceitos que se aplicam nestes campeonatos.

Por que não melhorar nossas pistas? Por que não melhorar a divulgação dos nossos campeonatos? Por que não fazer uma prova mais dinâmica, com categorias amadoras e profissionais no mesmo evento? Por que não organizar o box como eles organizam? Eles conseguem fazer isso com mais de mil motorhomes, com mais de 40 categorias. Por que no Brasil isso parece impossível?

 

 

Economia MX

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Carrinhos viram fonte de renda – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

É impressionante como os americanos conseguem fazer girar dinheiro em uma prova de motocross “amadora” como esta. O atleta paga inscrição, paga para entrar, paga para cada pessoa de sua equipe entrar, paga para a moto de apoio (pitbike) entrar. Só neste começo, investiu cerca de 750 dólares. Aí, se quiser um espaço no box com água e energia, paga mais 700 dólares. Se não quiser pagar por isso, há “carros-pipa” que circulam o dia todo pelo box oferecendo água para abastecer o motorhome. As abastecidas variam entre 10 e 50 dólares, dependendo da quantidade. Precisa descarregar os dejetos do motorhome? Paga. Sem esquecer que você deve alugar o transponder também.

Tudo se paga. Tudo funciona.

São oferecidos diversos serviços no box, desde uma oficina que arruma “qualquer coisa” (desentorta, solda, etc), a empresas grandes que preparam suspensões, como a Factory Connection. Você também pode ir na carreta da KTM ou da Pro Circuit, por exemplo, comprar uma peça para sua moto que os mecânicos destas empresas montam pra você.

Lanchonetes, lojas de equipamentos, brinquedos, peças, aluguel de carrinhos de golfe para locomoção, loja de motorhomes, também fazem parte do universo do Mini Os. A Chevrolet expõe carros dentro e fora da pista. A grana gira. Tem onde gastar.

Você pode argumentar que numa prova do Brasil tem apenas 100 pilotos e lá tem mais de 1000, que o mercado americano é infinitamente maior, e por isso aqui não tem esta estrutura toda. Sim, você está certo. Mas, quem sabe uma coisa puxa a outra. Se os organizadores investissem melhor, teriam mais retorno. Eu apostaria nisso.

 

 

Nem tudo é perfeito

É lógico que existem problemas, mas eles são minimizados pelas qualidades gerais. As condições de trabalho para a imprensa, por exemplo, são precárias, pois não há sala de imprensa no Mini Os. Internet muito menos.

Os vencedores ganham apenas troféu, nada de dinheiro. Se gasta bastante para estar lá, mas a recompensa não é financeira por se tratar de uma competição de amadores – apesar de existir a categoria Pro Sport, na qual os profissionais podem competir, e de os top 5 da maioria das classes terem uma vida de atleta profissional.

Convivendo um pouco mais de perto, também se percebe algumas reclamações contra pilotos que mentem a idade para poder disputar um ano mais na categoria de baixo, outros que adulteram a moto além do permitido, categorias inventadas de última hora. Enfim, artimanhas que devem ser evitadas e fiscalizados pelas autoridades em qualquer esporte e em qualquer nível.