Eram 8h30 da manhã deste domingo, 28, quando uma reunião começou em frente a pequena barraca onde estavam as motos de Milton “Chumbinho” Becker, Erivelto Nicoladelli e Bryan Soares.
Em instantes, vários pilotos e pais de atletas formaram um burburinho que chamava a atenção de todos que por ali passavam. E mais gente se aglomerou. Cerca de 20 pilotos discutiam se deveriam ou não participar da quinta etapa do Brasileiro de Motocross 2013, marcada para aquele dia, naquele local, em Salvador, Bahia.
A discussão percorria vários temas. Todos queriam melhores condições, desde prêmios mais robustos a pistas mais técnicas, ajuda de custo para viagens longas, áreas de box mais dignas, maior segurança, melhor divulgação dos eventos, entre outros fatores.
Depois de alguns minutos debatendo, aquelas pessoas resolveram se unir e caminhar até o “parque fechado” (local onde ficam as motos antes de entrarem no gate de largada). Como se fosse uma marcha, saíram do box de Chumbinho, Nicoladelli e Bryan e foram chamando os demais para se juntar ao movimento. Outros vieram.
No “parque fechado”, mais pilotos compareceram e o número de manifestantes cresceu. Atletas de todas as principais equipes, incluindo as das marcas que patrocinam o campeonato, estavam encampando o protesto e ameaçando não participar da corrida.
Roberto Boettcher, diretor de motocross e vice-presidente da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo), ouviu as reclamações e tentou achar respostas rápidas para elas, e acima de tudo tentou fazer os pilotos desistirem da ideia de boicote à etapa. O presidente da entidade, Firmo Alves, não compareceu à manifestação. Ele disse mais tarde que não teria sido chamado e por isso não compareceu. Os pilotos, porém, pediram a Boettcher que chamasse o presidente.
Como em qualquer manifestação, haviam atletas contrários (poucos), que achavam que a prova deveria acontecer. Alguns entendiam que não era justo com o público local que a prova não acontecesse, e pediam organização ao protesto. Esta “corrente” dizia que os pilotos deveriam se organizar para fazer reivindicações para as etapas seguintes, e não paralisar a prova na Bahia.
É verdade que em muitos momentos se perdeu o foco dos pedidos mas, tal qual nos protestos que movimentaram (ou pararam) o Brasil no último mês, todas as reclamações “não foram apenas pelos 20 centavos”. Isso quer dizer que não foi um protesto só pela segurança ou só pela pista, ou só pelo box de uma ou outra etapa, mas sim por uma série de questões que estão deixando o esporte em um estado lastimável, com cada vez menos pilotos, premiação ruim, desprestígio, entre outras coisas. Não era um protesto contra a etapa da Bahia, e sim um protesto contra as condições gerais do motocross brasileiro, diziam.
A manifestação atrasou o cronograma do dia em cerca de uma hora, mas acabou com todos os pilotos indo para a pista para correr a quinta etapa do Brasileiro de Motocross 2013. Uns saíram chateados, achando que o protesto foi em vão, enquanto outros pensam que uma espécie de movimento foi iniciada. Onde isso vai acabar? Somente os próximos capítulos, ou etapas, dirão.
* NOTA DA REDAÇÃO: Os fatos relatados foram presenciados pelo repórter do BRMX, Mauricio Haas. Você não leu a palavra de nenhum piloto nesta matéria porque os atletas trataram o movimento como sendo “de todos” e chegaram a dizer em determinado momento que “não havia uma liderança específica”. Muitos falaram. Muitas foram as vozes que pediram melhorias. Citar nomes poderia ser injusto, por isso a decisão de manter o que os pilotos disseram, como se fosse uma voz em uníssono.