Pilotos brasileiros avaliam GP Brasil e justificam decisões de participarem ou abandonarem a quinta etapa do Mundial de Motocross FIM 2012

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A chuva que caiu sobre Penha, Santa Catarina, durante toda madruga de domingo, 20 de maio, lavou a vontade do público brasileiro de ver os pilotos do país medirem forças com as principais referências do esporte mundial.

Ratinho e Dudu Lima – EMG Racing Kawasaki Rinaldi – foram os primeiros a descartarem a ideia de alinhar no gate já nas primeiras baterias de domingo. A decisão foi, pouco a pouco, sendo assumida pelos demais brasileiros.

A atitude levantou uma questão: Por qual motivo os brasileiros estavam desperdiçando a única oportunidade do ano de correr em uma competição de nível mundial?

O BRMX conversou com alguns dos atletas que estavam inscritos na competição para saber exatamente qual foi o resumo da conversa que se teve nos boxes. A partir disso, o internauta pode tirar suas próprias conclusões.

GALERIAS:
>>> Segunda bateria MX1 e MX2
>>> Domingo decisivo no Beto Carrero World
>>> Baterias classificatórias


No entanto, o primeiro a falar sobre o assunto é Wellington Garcia – Honda Mobil – que terminou na 21ª colocação geral do GP Brasil. Ele e Antonio Balbi Júnior – Pro Tork 2B Kawasaki Racing – foram os únicos brasileiros a terminarem as duas baterias da classe MX1.

Para o piloto goiano, o GP Brasil era o reencontro com a competição que no ano passado lhe custou 21kg, muitos meses de recuperação e uma nova maneira de enxergar o esporte. Wellington sobreviveu a tudo isso.

Wellington Garcia: Esse GP Brasil foi a corrida mais difícil da minha vida porque, se você olhar os tempos, vai perceber que foram quase duas baterias de 50 minutos cada, diante de muita lama. No Brasil, aquelas condições levariam os organizadores a cancelarem a prova ou reduzirem o tempo das baterias. Assim, os brasileiros nunca irão progredir, porque os organizadores não deixam os pilotos viverem as dificuldades. Naquelas condições, a moto era a mínima parte da diferença entre nós e os estrangeiros, pois o que contou foi o preparo físico e a dificuldade técnica da pista.
Meio que desanimei ao perceber a grande diferença que há entre os brasileiros e os pilotos de fora. Não queria ter andado feio, ter tomado três voltas do líder, pois, nos campeonatos nacionais eu ando na frente. Mas, ao mesmo tempo sei que o mais feio seria se eu desistisse. 

Também não estou questionando quem não foi para a corrida ou desistiu, pois se trata exclusivamente de uma situação na qual o piloto tem que querer sofrer para passar por essa dificuldade. No meu caso, eu precisava terminar uma prova do Mundial para quebrar aquele receio que eu carregava desde o acidente no ano passado.
 
Cheguei a pensar em desistir várias vezes. Sempre que passava na frente do pitlane eu pensava: vou dar mais uma volta e parar. Mas, sempre acabava continuando. Tentei transformar aquilo em diversão. Toda vez em que eu caía, era muito difícil para levantar a moto, mas não desistia, e recebi o apoio da arquibancada. Então, percebo que dos males foi o menor, pois tinha algo que me puxava para continuar como forma de respeito ao Brasil e ao público. 


Wellington Garcia encontrou dificuldades para saltar o triplo da mata, mas completou segunda bateria – Foto: Elton Souza / BRMX

Gui Lima, pai de Ratinho (MX1) e Dudu (MX2): Sábado já percebemos que a pista estava bastante pesada, sabíamos que o intercâmbio com os pilotos estrangeiros era importante, porque você busca andar na mesma velocidade que eles. Mas, como no domingo a velocidade baixou ao extremo, não fazia sentido ir para a pista para “lixar” as motos. A decisão de domingo, portanto, foi 100% tomada para poupar o equipamento e acredito que acertamos. 

No início fomos bastante questionados por termos ido até lá (Parque Beto Carrero World) e não largamos, mas, para a segunda bateria, a maioria dos pilotos tomou a mesma decisão. 

Jean Ramos (MX1): Tive um bom desempenho no sábado e aprendi bastante coisa. Mas, no domingo, a pista ficou impraticável, com muitos tombos, e aquilo virou uma loteria. Com tanta lama, a moto tinha quase o dobro do peso, e eu abandonei a primeira bateria muito cansado. Para quem estava de fora, talvez não desse para ver o quanto estava difícil. Sendo assim, pensando em poupar equipamento e visando os campeonatos nacionais, optei por não correr a segunda bateria.

Thales Vilardi (MX2): A experiência do GP Brasil foi legal, pena que choveu e pesou muito a pista. Depois da primeira bateria, conversamos na equipe e decidimos não arriscar. Estamos a duas semanas da próxima etapa do Brasileiro de Motocross, campeonato no qual estou muito bem classificado. Como avaliação positiva, acredito que é bom ter pontuado em minha quarta participação em etapas do Mundial.


Thales caiu logo no início da primeira bateria da MX2 – Foto: Elton Souza / BRMX

Gustavo Henn (MX2): A pista estava muito top, mas o que estragou foi a chuva. Quando terminei a primeira bateria, eu estava exausto e antes de iniciar a segunda prova, ainda não tinha recuperado as forças. Sem contar que a lama tinha danificado muita coisa na moto, como embreagem, relação, tudo. Então, não quis arriscar de me machucar.

Henn tenta religar a moto depois da queda na primeira bateria – Foto: Elton Souza / BRMX