Prosseguindo com a nossa série de reportagens com pilotos privados, nosso entrevistado nesta edição é na verdade a entrevistada (ou a piloto).
A gaúcha Maiara Basso é hoje uma das principais referências do motocross feminino no Brasil.
Além da beleza e simpatia, Maiara (ou Gringa, como é mais conhecida) é um talento nato no esporte.
Quem já lhe viu pilotando com certeza se impressionou com seu estilo veloz e ao mesmo tempo técnico e suave, dando “laço” (em bom “gauchês” nas palavras da própria Maiara) em muito marmanjo.
Nesta entrevista ela fala um pouco sobre sua carreira, os principais títulos conquistados, a temporada 2018, o preconceito contra as mulheres no motocross e o espaço conquistado por elas num esporte predominantemente masculino.
Maiara, comece se apresentando para os leitores do BRMX e faça um breve resumo da sua carreira.
Olá pessoal, é um imenso prazer estar aqui conversando com vocês.
Me chamo Maiara Basso, mais conhecida como Gringa, tenho 22 anos e moro no interior do Rio Grande do Sul.
Venho de uma família apaixonada por motos.
Comecei a praticar o esporte por influência dos meus irmãos.
Tudo o que eles faziam eu tinha que estar junto fazendo também.
Nós sempre íamos assistir corridas na região, então em 2004 meu irmão mais velho, Lucas, começou a fazer algumas trilhas e logo foi para o velocross.
Depois meu pai comprou uma moto para meu irmão do meio, Mateus, uma KTM 65cc.
Comecei a brincar, andava somente em algumas provas e em 2009 fui para uma etapa do Gaúcho de Motocross.
Fiz uma corrida muito boa, liderei até o final, mas caí faltando duas curvas para acabar.
Percebi que tinha potencial para ser campeã no gaúcho e aquilo se tornou um sonho, então em 2010 comecei a me dedicar no esporte, conquistando até o momento cinco títulos nacionais e 12 estaduais (sendo dois correndo junto com os homens), fui vice-campeã do Latino Americano de Motocross em 2016 no México e tenho mais de 20 títulos regionais.
Você sempre competiu no motocross e no velocross, mas em 2018 também está disputando o Brasileiro de Enduro FIM. O que está achando de competir na modalidade e como surgiu a chance de encarar esta nova experiência?
Está sendo divertido participar de modalidades diferentes, pois assim eu posso variar bastante meus treinos, tanto na parte física como nos treinos com a moto.
O enduro exige muita resistência.
Estranhei no início porque eu ando em média 5 horas por dia de moto no sábado e no domingo, porém a intensidade é bem menor.
É totalmente diferente, eu tinha feito apenas duas trilhas na minha vida e nesse ano surgiu essa oportunidade de participar do enduro, juntamente com a Rinaldi e a KTM Sacramento, então tive que começar a ir para as trilhas e me preparar.
Estou gostando e me divertindo muito, me adaptando bem, sinto dificuldade em algumas coisas que no motocross não tem e são diferentes, mas já percebi meus pontos fracos e estou treinando para melhorar nas próximas duas etapas que restam.
E no geral como está sendo a temporada 2018. Os resultados estão atingindo suas expectativas?
Está sendo um ano incrível, estou liderando três campeonatos nacionais em três modalidades diferentes (motocross, velocross e enduro).
Sem dúvida está sendo muito melhor do que eu esperava, mas sei que tudo isso é um trabalho que vem sendo realizado ao longo dos anos, junto com minha equipe, Basso Racing, e os patrocinadores Rinaldi e KTM Sacramento.
E como foi a temporada 2017?
Foi um ano incrível também, venci o Brasileiro de Motocross na categoria Feminina e ganhei pela primeira vez o Gaúcho de Motocross na categoria MX3, um título que almejava muito.
Confesso que foi um dos melhores anos da minha carreira.
O que você faz além do motocross? Ainda está estudando? Caso sim, como você faz para conciliar o esporte com os estudos?
Sim, estou estudando, faço faculdade de agronegócio e também ajudo na nossa empresa aqui no Rio Grande do Sul, que é cerealista.
Nos meses de março e abril é muito difícil conciliar tudo, pois começam todos os campeonatos, é safra da soja e final de abril começam as provas da faculdade.
Esse ano foi mais complicado ainda, pois comecei a fazer o enduro, então saio muitas vezes na quarta-feira para viajar, perco muitas provas, aulas….
Mas para tudo se tem tempo, tento me organizar e priorizo o que é mais importante para mim.
Também sempre converso com meus professores e eles sempre me ajudam com as faltas ou com ausência de algumas apresentações de trabalho.
Com qual moto você competiu no ano passado e quais foram os seus patrocinadores?
Ano passado andei de KTM 250 e 450cc e meus patrocinadores praticamente foram os mesmos deste ano, só acrescentando a KTM Sacramento.
E com qual moto você está competindo neste ano e quem são os seus patrocinadores?
Esse ano continuo de KTM 250cc e 450cc SXF e KTM 250 EXC.
Meus patrocinadores são: Rinaldi, KTM Sacramento, Pro Tork, Líder MX, Edgers, Motul, 100% e MX Gráficos.
Agradeço imensamente a eles por acreditarem em meu trabalho e me fornecerem o que há de melhor no mercado para eu conquistar bons resultados.
Como piloto privada, quais são as principais dificuldades que você enfrenta?
Umas das minhas maiores dificuldades foi ganhar espaço num esporte que ainda hoje é predominantemente masculino.
Ainda existe preconceito, mas nós mulheres podemos fazer tudo o que os homens fazem e isso só me fortaleceu.
Também moro numa cidade pequena, de apenas 1.600 habitantes, então não temos estrutura com coisas como academia, fisioterapia e nutricionista por exemplo, preciso me deslocar para outra cidade para poder treinar.
Mas dificuldades sempre existirão e é preciso vencê-las.
Descreva sua rotina de treinos (físico e com moto).
Treino com moto em torno de duas vezes por semana, além das corridas nos fins de semana.
Faço academia duas vezes também e corro a pé todos dias.
Na sua opinião, o que está faltando para que o motocross brasileiro um dia esteja no mesmo nível que se encontra na Europa e nos Estados Unidos?
Falta muita coisa!
Mas o principal é mais incentivo do governo e de empresas que podem dar o suporte necessário aos pilotos, para poderem ter condições de levar uma vida de piloto profissional.
Também falta respeito por parte dos organizadores com os pilotos, muitas vezes os pilotos vão com a família toda numa corrida e nem se quer tem um banheiro descente para usar.
Aliás, em 2015 você disputou a final do Loretta Lynn, após passar pelas classificatórias. Como foi essa experiência?
Foi uma das melhores experiências que tive na vida.
Correr o Loretta é realmente um sonho.
Um lugar muito legal, os melhores pilotos amadores do mundo, é tudo fantástico.
A pista é muito difícil.
Os saltos são fáceis, mas as curvas compensam, com muitas canaletas e opções para variar o trilho.
E eles são muito pontuais nos horários.
Infelizmente 12 dias antes acabei machucando meu joelho e tive que passar por uma cirurgia para destravar o menisco.
Foi muito desafiador ir correr, pois sai daqui com 10 graus e cheguei lá com 35 graus, no primeiro dia de corrida quase desmaiei no final da corrida.
Mas adorei a experiência e o desafio e faria tudo de novo!
Voltando a falar da sua carreira, embora tenhamos evoluído nos últimos anos, você enfrenta ou já enfrentou algum tipo de preconceito por ser mulher e competir num esporte dominado por homens?
Já enfrentei sim e continuo enfrentando certos preconceitos, seja nas corridas ou até mesmo com as pessoas da minha cidade e região, principalmente porque o motocross é predominantemente praticado por homens.
Mas gosto muito de andar com eles, ganho muita experiência, até pelo fato de largar quase sempre com o gate cheio, pois na feminina ainda temos poucas mulheres.
Dentro da pista não existe muito respeito, às vezes é preciso dar uma fechada e sou consciente disso.
Não posso largar pensando que os homens irão me respeitar, alguns deles ainda tem preconceito e não gostam de perder para uma mulher.
Tenho muitos amigos na categoria MX3, por exemplo, que é onde mais ando, e fora das pistas trocamos ideias sobre traçados, combinamos de treinarmos juntos, mas dentro da pista é cada um por si.
Isso é muito legal!
O que você diria para uma mulher que quer começar no motocross?
É preciso ter coragem, determinação, muita vontade de querer vencer e principalmente disciplina.
Com certeza não é um esporte fácil, muitas vezes vem as lesões e ainda temos que enfrentar um certo preconceito, mas temos que estar sempre unidas, pois lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive em cima de uma moto, dando “laço” nos marmanjos (risos).
Uma última pergunta. De onde vem o apelido Gringa?
O narrador Márcio Frozza começou a me chamar assim quando eu tinha uns 12 anos, pelo fato de eu morar numa cidade pequena do Rio Grande do Sul e ter um sotaque de Gringa, como falamos aqui (italianos).
Maiara, muito obrigado pela entrevista. O espaço é seu para as considerações finais.
Agradeço a vocês, Renato, Mau e Christine do BRMX, por sempre me darem a oportunidade de estar aqui conversando com todo pessoal que é apaixonado por motos nesse Brasil todo!
E a todas as pessoas que torcem e me incentivam, obrigada por estarem sempre comigo!
Volta rápida com Maiara Basso
Nome completo: Maiara Basso
Data de nascimento: 11/05/1996
Cidade natal: Marau, Rio Grande do Sul
Cidade atual: Gentil, Rio Grande do Sul
Ídolo nacional: Milton Chumbinho Becker
Ídolo internacional: Ken Roczen
Comida favorita: churrasco
Bebida favorita: suco de abacaxi
Lazer favorito: ficar com minha família e amigos
Filme favorito: A procura da felicidade