Quando o BRMX me proporcionou cobrir a abertura do Rally dos Sertões 2012, logo soube que seria uma grande experiência.
Levei comigo a bagagem do motocross, e no primeiro dia já pude fazer algumas comparações entre os dois esportes, e sobre os dois eventos – leia aqui.
Passados Prólogo e Super Prime, competições que servem mais para agradar o público do que para medir forças entre os pilotos, acompanhei a primeira etapa “real”, pelo meio do sertão, com deslocamentos, especiais, e dificuldade de verdade.
Nesta terça-feira, 28, a competição terminou com Felipe Zanol campeão na classe das motos. Mas, sem pensar muito nos resultados, gostaria de contar o que rolou nos bastidores do primeiro dia.
Quem acompanha o rali – jornalistas, mecânicos, equipes de apoio – vive o ambiente em todos os seus detalhes. Se dorme pouco. Se come apenas o necessário. Se trabalha muito.
Acordamos às 5h20 da manhã daquele domingo, 19 de agosto, para tomar um café reforçado e seguir, de carro, até o local onde seria dada a largada da primeira especial.
Eu estava em uma caravana de dois carros e nove pessoas. Em uma das conduções estavam Deni do Nascimento e Aristides Mafra Júnior, dois pilotos de motocicletas que já fizeram boas participações em Sertões e desta vez estavam na plateia, além de outras pessoas que traziam experiência como equipe de apoio. Eu era “marinheiro de primeira viagem”.
Chegamos à largada da primeira especial – 135 km de distância de São Luís, capital do Maranhão – pouco antes das motos. Caminhamos cerca de um quilômetro pela trilha, escolhemos um bom lugar à sombra, e esperamos.
Um senhor de aproximadamente 60 anos nos trouxe sete cocos – em troca de R$ 15 –, os abriu a facão, serviu a água e a polpa, e nos contou um pouco de suas mazelas. Tinha seis ou sete filhos, vivia ali naquele vilarejo de casas de barro e pau, e não estava muito preocupado se a Dilma ou o Lula eram boa gente.
Admiramos sua habilidade para abrir e descascar cocos – e para sobreviver – sentados sob um banco de madeira que ele providenciou com a maior disposição para nossa comodidade.
As motos vieram, uma a uma, deixando aquele homem impressionado. Olhamos os dez primeiros passarem em alta velocidade sobre chão duro e empoeirado, e seguimos para outro ponto.
Ambientação
A meta era encontrar um ponto por onde as motos passariam próximo da rodovia de asfalto. Tínhamos o mapa da competição no nosso GPS, o que facilitou o trabalho de pegar o carro e ir até este local.
Uma vez lá, esperávamos observando o barulho e tentando avistar o helicóptero da competição, que acompanha os pilotos pelo ar. Quando apareciam, os pilotos vinham muito rápidos, pilotando em pé, levantando um rastro de poeira.
Cena bonita de se ver. E diferente de se fotografar. No motocross, você tem cerca de 20 voltas para tirar a foto de um piloto, ou um ponto da pista. No rali, o piloto passa uma única vez naquele lugar, a mais de 140km/h. A atenção, neste momento, tem que ser redobrada.
Um ponto após o outro, a conversa começa a girar em torno de “quem está liderando”. Cálculos começam a traçar o tempo de um piloto em comparação com sua ordem de largada, e a competição, para quem não está tão acostumado, foge um pouco do controle.
Muitas vezes, quem passou em primeiro não é o líder da prova, pois o que vale é o tempo que ele gasta para percorrer “x” quilômetros. Um piloto que largou em décimo no primeiro dia pode ser o décimo a chegar no fim da especial e mesmo assim ser o líder da etapa. Basta que ele tenha feito “x quilômetros” em menos tempo que todo mundo.
Por volta das 13h30, chegamos ao ponto final da especial do primeiro dia. Ainda não tínhamos almoçado, e tudo que poderia ser servido estava em um bar à beira da estrada. Um boteco de quatro paredes onde encontramos bolachas doces, refrigerante e latas de milho cozido. Foi o nosso sustento pelas próximas horas.
Ali dormi embaixo de uma árvore quando o cansaço bateu. Ali vi atletas chegarem exaustos, com seus rostos sujos de poeira e fumaça de escape, suados sob roupas grossas e equipamentos de proteção. Vi a experiente Moara Sacilotti, a única mulher a participar do Sertões nas motos neste ano – e ela já faz isso há anos – desistir da especial porque a soma dos fatores calor, areia, sol, atoleiro exigiu demais.
E percebi que a maioria está ali para completar o Rally. Apenas os dez primeiros em um mundo de mais de 60 motos têm reais chances de sair campeões. Para o restante, chegar inteiro ao último dia significa TRIUNFAR.
Acampamento
Depois das especiais, os pilotos se deslocam até o acampamento. Lá estão os mecânicos e seus motorhomes com chuveiro, comida, cama.
Mas chegar ao acampamento não significa que o trabalho do dia terminou. Enquanto mecânicos tratam de consertar a moto – ou os carros, caminhões, quadris e UTVs –, pilotos participam do Briefing para o dia seguinte.
Nesta reunião, a organização passa um resumo do roteiro da próxima etapa, e pilotos tiram dúvidas. Enquanto isso, os bastidores borbulham de informações e gentes das vilas locais circulam pelo box, admirados com aquelas máquinas.
Se dorme um pouco para no outro dia pela manhã, bem cedo, começar tudo outra vez. E assim sucessivamente durante dez dias.
Era a inserção que eu buscava. Viver um dia de Rally dos Sertões de perto para poder observar e repassar estes detalhes aos leitores do BRMX.
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