Logística incompatível entre campeonatos nacionais fará equipes percorrerem distância equivalente a uma volta na Terra

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A temporada 2012 do motocross brasileiro promete ser uma das mais interessantes dos últimos tempos – talvez da última década. O nível de competitividade ganhará novos elementos com o curso que tomou as configurações das equipes, reforçado com a chegada de um piloto espanhol campeão mundial MX3 e com a forte pré-temporada realizada pela maioria dos times.

A recente trégua proposta pela nova presidência da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) e a direção da Romagnolli Promoções e Eventos também contribui para o sucesso do esporte nacional. Somando os campeonatos, serão 19 etapas disputadas ao longo de oito meses, passando por onze Estados diferentes de quatro das cinco regiões brasileiras – só o Norte fica de fora.

Até este ponto, o motocross brasileiro só tem a comemorar. Mas, em conversa com Gui Lima, chefe de equipe e pai dos pilotos Marcello “Ratinho” e Eduardo “Dudu” Lima, foi levantado um assunto que vem tirando o sono da maioria dos gestores de equipes nesta pré-temporada: a logística.

Uma frota de ônibus, carretas, microônibus, vans, motorhomes terá que cruzar o Brasil tendo que vencer milhares de quilômetros em poucos dias para montar acampamento. Os pilotos até poderão se deslocar por via aérea, mas mecânicos e chefes de equipe, entre outros componentes do time, precisarão colocar o pé na estrada, literalmente.

Volta ao mundo em oito meses

Gui Lima se prepara para encarar as estradas brasileiras e levantar poeira ao cruzar o Brasil – Foto: Elton Souza / BRMX

O BRMX simulou a logística que uma equipe terá que aplicar para estar presente em todas as etapas. Tomando como exemplo a família Lima, que mora atualmente em Monte Mor, a 120km da capital paulista, os oito meses de temporada representarão mais de 33,5 mil quilômetros rodados. Isso representa praticamente uma volta completa na Terra na região dos trópicos, na qual a circunferência é de 36 mil quilômetros.

O problema maior, segundo Gui Lima, são os curtos espaços de tempo para cumprir longas distâncias. A falta de coerência entre os calendários fará com que as equipes cruzem o Brasil de Nordeste a Sul duas vezes em duas semanas.

– Logo no início da temporada, iremos para Recife (Pernambuco) disputar a segunda etapa da Superliga, na semana seguinte tem a abertura do Brasileiro de Motocross em Carlos Barbosa (Rio Grande do Sul), e na outra semana teremos que voltar para o Nordeste, para a etapa da Bahia da Superliga – aponta Gui Lima. 

Para completar a análise do chefe de equipe, depois de Salvador, as equipes terão duas semanas para estar novamente no Sul. A segunda etapa do Brasileiro de Motocross será em Canelinha, tradicional pista em Santa Catarina.

– Acredito que a boa relação entre a CBM e a Romagnolli torna viável que seja feita novas adequações aos calendários de tal maneira que deixe de comprometer as equipes – sugere Gui Lima.

O chefe de equipe teme ter que deixar de participar de algumas etapas dos campeonatos e, assim, descumprir o compromisso com os patrocinadores.

– Se nada for feito para mudar isso, terei que conversar com meus patrocinadores e explicar que irei priorizar algumas etapas – aponta.

No AMA Supercross, por exemplo, para evitar o deslocamento desnecessário das equipes, o calendário é dividido em Costa Oeste e Costa Leste. Tudo bem, no Brasil há duas entidades distintas organizando campeonatos distintos. Mas, seria interessante pensar na viabilidade para as equipes que desejam prestigiar as três competições 
 Superliga Brasil de Motocross, Campeonato Brasileiro de Motocross e Arena Cross.

Calendário 2012 do motocross nacional

3 e 4 de março – Indaiatuba, SP Superliga de Motocross – 1ª etapa
31 de março e 1º de abril – Recife, PE   Superliga de Motocross – 2ª etapa
7 e 8 de abril – Carlos Barbosa, RS   Brasileiro de Motocross – 1ª etapa
14 e 15 de abril – Salvador, BA Superliga de Motocross – 3ª etapa
28 e 29 de abril – Canelinha, SC Brasileiro de Motocross – 2ª etapa
5 e 6 de maio – Chapecó, SC Superliga de Motocross – 4 etapa
26 e 27 de maio – A definir, PR Brasileiro de Motocross – 3ª etapa
9 e 10 de junho – Nova Alvorada do Sul, MS Brasileiro de Motocross – 4ª etapa
16 e 17 de junho – Brasília, DF Superliga de Motocross – 5ª etapa
30 de junho e 1º de julho – Sorriso, MT Brasileiro de Motocross – 5ª etapa
14 e 15 de julho – Penha, SC Superliga de Motocross – 6ª etapa
21 e 22 de julho – Aracaju, SE Brasileiro de Motocross – 6ª etapa
4 de agosto – Ribeirão Preto, SP Arena Cross – 1ª etapa
11 e 12 de agosto – Anchieta, ES Brasileiro de Motocross – 7ª etapa
1º de setembro – São José Rio Preto, SP Arena Cross – 2ª etapa
8 e 9 de setembro – Praia Grande, SP Brasileiro de Motocross – 8ª etapa
22 de setembro – Londrina, PR Arena Cross – 3ª etapa
20 de outubro – Brasília, DF Arena Cross – 4ª etapa
10 de novembro – Camboriú, SC Arena Cross – 5ª etapa

BRMX faz as contas
 
Navegue pelo mapa e veja as distâncias para cumprir todas as 19 etapas desta temporada do motocross nacional – Google Maps 

A temporada de Ratinho e Dudu Lima deve contar somente com as provas da Superliga e Brasileiro de Motocross, mas, o cronograma abaixo simula a participação dos irmãos também no Arena Cross. Os valores apresentados são aproximados e baseados nas distâncias e tempos fornecidos pelo Google Maps. 

Primeiro trecho: Monte Mor – Indaiatuba – Monte Mor | 50 quilômetros – 1 hora
Segundo trecho: Monte Mor – Recife – Carlos Barbosa – Salvador – Monte Mor | 11.220 quilômetros – 5 dias e 13 horas
Terceiro trecho: Monte Mor – Canelinha – Chapecó – Monte Mor | 2.230 quilômetros – 1 dia e 4 horas
Quarto trecho: Monte Mor – Foz do Iguaçu* – Monte Mor | 2.000 quilômetros – 1 dia e 2 horas
Quinto trecho: Monte Mor – Nova Alvorada do Sul – Brasília – Sorriso – Monte Mor | 5.000 quilômetros – 2 dias e 17 horas
Sexto trecho: Monte Mor – Penha – Aracaju – Monte Mor | 5.550 quilômetros – 2 dias e 18 horas
Sétimo trecho: Monte Mor – Ribeirão Preto – Anchieta – Monte Mor | 2.200 quilômetros – 1 dia e 4 horas
Oitavo trecho: Monte Mor – São José do Rio Preto – Monte Mor | 700 quilômetros – 8 horas
Nono trecho: Monte Mor – Praia Grande – Monte Mor | 390 quilômetros – 5 horas
Décimo trecho: Monte Mor – Londrina – Monte Mor | 950 quilômetros – 12 horas
Décimo primeiro trecho: Monte Mor – Brasília – Monte Mor | 1.850 quilômetros – 22 horas
Décimo segundo trecho: Monte Mor – Camboriú – Monte Mor | 1.380 quilômetros – 17 horas

Distância total: 33,5 mil quilômetros
Tempo total: 17 dias

Nota: * No quarto trecho, a terceira etapa do Brasileiro de Motocross está sem cidade definida, somente o Estado, Paraná. O BRMX tomou como base uma etapa em Foz do Iguaçu, cidade que recebeu a prova nas últimas temporadas. A outra possibilidade seria Siqueira Campos.