O motocross brasileiro espera há muito tempo um piloto que possa fazer frente aos grandes nomes do MX mundial. O gaúcho Enzo Lopes, 13 anos, é sempre lembrado nestes momentos, mas há outros nomes que podem “dar liga” em um futuro próximo.
Nicolás Rodriguez Rodriguez (é isso mesmo, duplamente Rodriguez), tem 15 anos e se encaixa neste perfil. Nascido no Rio de Janeiro e criado na bela praia de Itacoatiara, bairro de Niterói, o garoto já pilota uma 450 e disputa campeonatos, preferencialmente, nos Estados Unidos.
O carioca é muito grande para a sua idade. Mede 1,82 metro e pesa 78 quilos. Por isso, teve acelerada sua ascendência a motos grandes. Começou a competir com quatro anos de idade, influenciado pelo pai Jaime Rodriguez, representante das suspensões Race Tech no Brasil e ex-piloto.
– A história do garoto começou quando tinha apenas três anos e ganhou de presente uma minimoto para iniciar nesse mundo. Em sua primeira corrida (Brasileiro de Motocross 50cc), com quatro anos, levou três voltas dos ponteiros, que já tinham mais idade, (entre seis e oito anos) mas a evolução veio rápido, e no final do mesmo ano sagrou-se vice-campeão brasileiro na 50cc – conta o pai, que gerencia a vida do atleta.
No ano seguinte, já com mais experiência e moto melhor, Nick conquistou o Campeonato Brasileiro na \”cinquentinha\”. Mas, por sua natureza corpulenta, sempre sofria com o problema de não caber mais na moto que correspondia a sua faixa de idade. Foi assim na 50cc, na 65cc e na 85cc.
– Em 2007 nos mudamos para a Espanha, onde ele começou a ter acesso a um nível muito mais elevado no esporte, e foi contratado para ser integrante da equipe oficial Honda Espanha (Honda Junior Team), para disputar na categoria 85cc os campeonatos Europeu, Espanhol, Português e alguns regionais. Já com 10 anos, conseguia se sobressair em algumas provas na sua categoria (85cc para pilotos de 12 a 15 anos), sendo que Nicolás corria com uma autorização especial para a categoria, já que não cabia mais na 65cc e a evolução aumentava a cada dia – relata Jaime.
Em 2010, de volta ao Brasil e pilotando uma 250cc aos 12 anos, Nicolás se tornou, segundo Jaime, o piloto mais jovem a correr e vencer uma prova oficial de 250cc (campeonato estadual do Rio de Janeiro). Naquele ano, ele foi vice-campeão no motocross e no supercorss estadual.
Impedimento da idade no Brasil traz vitórias nos EUA
Como o regulamento do Brasileiro de Motocross impede que atletas menores de 14 anos disputem a MX2 e menores de 17 anos corram na MX1, Nicolás teve que se voltar para os Estados Unidos.
– O panorama se mostrava complicado para nós no Brasil, só seria possível correr o estadual, então buscamos outras alternativas e uma delas foi de correr o Campeonato Chileno de 250cc. Lá se permitia correr com 13 anos, mas como algumas datas coincidiam com as do estadual, optamos por fazer os estaduais de MX e SX completos, correndo no Chile as provas mais importantes. Ele foi campeão estadual nas duas modalidades. Também ficou em quarto no estadual de motocross na 450cc e quarto lugar no campeonato chileno de 250cc – esmiúça Jaime.
Ainda no fim de 2011, pai e filho se mandaram para os Estados Unidos a fim de competir.
– Devido a incerteza dos campeonatos no Brasil e as dificuldades para se seguir um caminho de evolução no nosso estado, já que o Rio de Janeiro não possui pistas de motocross ou supercross que ofereçam condições mínimas, partimos em busca de um sonho que pouco a pouco vai se tornando realidade – conta o pai.
– Em solo americano, abandonamos a categoria 250cc e disputamos vários campeonatos importantes na Califórnia, como o Monster Energy EMCE Series, que é um campeonato fortíssimo organizado pelo Jeremy Mcgrath no intuito de descobrir novos talentos. Nesse campeonato, que era composto por seis corridas, corremos apenas cinco e Nicolás foi campeão na categoria 450cc, e terceiro colocado na categoria Schoolboy (para pilotos de 14 a 17 anos com qualquer motocicleta) – detalha.
Em seguida vieram o CMC Trans-Cal MX Nationals, um campeonato tradicional disputado no sul da Califórnia, onde Nicolás disputou a primeira e última etapas, vencendo todas as baterias, algo inédito para um brasileiro nesse campeonato. As vitórias abriram portas em relação a apoios e suportes, e o carioca passou a fazer parte do Kawasaki Green Team (programa para revelação de novos atletas da Kawasaki nos EUA).
– Ainda em 2012, disputamos uma etapa do Transworld Motocross em Cahuilla Creek, que considero a prova mais difícil do motocross amador na Califórnia, e Nicolás conseguiu vencer na categoria 450cc. Uma parte do sonho já havia se realizado, afinal, vencer uma corrida em que mais de 80 pilotos tentam a classificação para a bateria final, onde só entram 40, tem um sabor diferente! – exclama.
Pensando no futuro
A meta de Nicolás para este ano é disputar os mesmos campeonatos de 2012, em especial o World Mini Grand-Prix, que acontece em Mesquite, Nevada, entre 8 a 13 de abril.
– Junto com o Loretta Lynns, esse é considerado o Mundial Amador. Conseguindo se classificar para a final nesse campeonato, outra parte do sonho estará realizada!
Os adversários são fortíssimos ao ponto de ser difícil apontar algum favorito, mas um nome forte é Axel Hodges, que vem fazendo grandes corridas nos últimos tempos. Já disputamos com ele, e o cara e bom! – diz Jaime.
Nicolás deve passar todo ano na Califórnia, já que só poderá correr o Brasileiro de Motocross na MX1 em 2015, quando completará 17 anos. Você pode se perguntar “mas por que não andar de 250?”.
– Este ano ele até andaria de MX2, mas a molecada da 250 é tudo “chassi de grilo”, pesam em média 60-65 quilos e têm motos muito fortes, teríamos que contar com motores preparados desta forma, o que se torna muito caro, principalmente porque quebram demais. No meio do ano, ele vai estar ainda maior e mais pesado, então, uma hora ou outra, teria que mudar par a 450. Não temos muita saída – diz o pai.
Para isso a dedicação é integral. Os treinamentos são de terça a sexta, com corridas nos finais de semana, e descanso somente nas segundas-feiras. Além disso, treinos de preparação física, bicicleta, academia, corrida fazem parte da rotina do adolescente.
Seguindo esses planos, a intenção é que em 2014 ou 2015, Nicolás esteja apto a disputar o AMA Motocross.
– Atualmente não fazemos planos, porque o orçamento é apertado. Tentamos fazer o que está ao nosso alcance sem arriscar nada. Se as coisas vierem acontecendo, será bom demais. Do contrário, uma experiência assim é pra vida toda! Mas o sonho existirá sempre: se classificar e disputar o AMA Motocross na categoria 450 – finaliza, Jaime.
Nicolás tem o apoio e suporte de: Pro-Tech Brasil, Race Tech USA, Motorex Suíça, Axo USA, Asterisk, Decal Works, Yoshimura, Malcom Smith e Kawasaki Green Team.
:: Relembre outro “grandalhão do MX Mundial” – David Vuillemin
O BRMX agradece Lipe Nascimento, do Clube Radical, pela colaboração nesta reportagem. Valeu, Lipe!