Motocross e Tênis – Ken Roczen em busca do American Dream

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Motocross e Tênis

 

Aos 11 anos, o filho de um iraniano que morava em Las Vegas já havia vencido todos os adversários – até mesmo os mais velhos – existentes na região em que morava. Foi aí que seu pai decidiu que ele deveria se mudar para uma clínica integral na Costa Oeste da Florida. Só assim, o menino se tornaria o tenista número 1 do mundo.

Você não está melhorando aqui em Las Vegas. Já derrotou todos os moleques da cidade. Derrotou todos os garotos da região oeste. Andre, você ganhou até de jogadores da faculdade daqui! Não tenho mais nada para ensinar a você – sentenciou o pai de Andre Agassi incentivando o garoto a deixar o confortável para enfrentar o desafiador. Mesmo contrariado, Agassi foi buscar o posto de melhor tenista do planeta.

Ken Roczen também está decidido: na próxima temporada vou competir nos Estados Unidos, independente do que acontecer comigo neste ano no Mundial de Motocross – foi a resposta do piloto de 17 anos ao BRMX em entrevista ao Mau Haas durante o GP do Brasil 2011.

Embora os tempos sejam outros, Roczen está buscando o mesmo que Agassi procurou no início da década de 1980, o desafio. Se tornar campeão no Mundial MX2 FIM está longe do reconhecimento que é conquistar uma temporada na Lites do AMA Supercross ou Motocross.

Roczen sabe disso, os norte-americanos sabem disso – eles fazem questão que o resto do planeta também saiba – e Cairoli sentiu o peso dessa comparação. No ano passado, durante o Motocross das Nações em Lakewood, presenciei o italiano – que havia acabado de conquistar o quarto título mundial – ser abordado por um grupo de norte-americanos enquanto transitava entre os boxes de Thunder Valley. Os torcedores dispararam: Cairoli, nós vamos chutar sua bunda. Foi o que a seleção anfitriã fez!

Quando se é jovem, como Roczen, os hormônios servem de catalisadores de sonhos. Mas, o que faria Roczen desistir do American Dream? Atualmente, poucas coisas – ou nada. Se optar pelo AMA representa ficar afastado do experiente Stefan Everts no Mundial FIM, Roger DeCoster é o contrapeso no AMA.

Além disso, todo competidor precisa de motivação, e o piloto alemão tem dois que o fazem optar pela América: a experiência de evoluir tecnicamente no campeonato mais competitivo do planeta e forrar o bolso com os prêmios volumosos pagos pelo AMA, principalmente no Supercross.

A decisão será de Roczen, mas o jovem alemão possui uma “estrutura-pensante” por trás de cada ação que toma. Ele concede entrevistas quando deseja, embora, questione sua assessora sobre a importância – ou não – de conversar com determinado veículo de imprensa. Em Indaiatuba, eu e Mau Haas presenciamos isso.

Por fim, a saída de Roczen do Mundial MX2 – tal qual a transferência de Marvin Musquin para a KTM Factory Racing Team neste ano – causará uma deficiência na questão competitividade ao campeonato FIM na próxima temporada. É fato que o jovem alemão eleva o nível das provas – mesmo quando erra e perde para si próprio –, e quem mais sentirá sua ausência será o holandês Jeffrey Herlings – companheiro de equipe e, atualmente, seu principal adversário.

Os números das sete etapas disputadas no Mundial MX2 até o momento comprovam isso. Roczen venceu três GPs e Herlings outros três – Tommy Searle quebrou a hegemonia KTM no GP da França. Sem uma peça importante nesse equilíbrio de forças, o campeonato perde o brilho, e, consequentemente, o público perde o espetáculo.

» Leia a entrevista de Ken Roczen ao BRMX 

Postado por Elton Souza – Motocross e Tênis