Mitch Payton é chefe de equipe, mestre em acertar motores e fundador da empresa Pro Circuit. Liderou várias equipes campeãs nacionais no AMA Motocross e AMA Supercross. Como piloto, foi campeão amador juvenil. É considerado um dos maiores chefes de equipe de todos os tempos. E tem uma história incrível, capaz de tê-lo colocado no Hall da Fama.
A vida de Mitch Payton no motociclismo começou como a de muitos outros. Seus pais, James e Norma, eram envolvidos no mundo das motos, o que fez com que ele e seu irmão James Junior se tornassem pilotos desde pequenos. Aos 10 anos, Mitch já competia. E alguns anos depois era um promissor piloto na comunidade do AMA District 37. Com 17, foi campeão amador da categoria 125cc.
A partir daí, o caminho que a carreira de Mitch tomou merece até mais elogios do que muitos de seus concorrentes da época das pistas. Em alguns aspectos, Mitch Payton é o dono de equipe mais bem sucedido na história do esporte. Seu time, Pro Circuit, conquistou 29 títulos do AMA Motocross / Supercross desde 1991.
Mas a carreira de Payton como “mestre dos motores” não foi fácil. Em 1978, um ano depois de conquistar o título nas 125, sofreu um acidente e acabou ficando sem poder caminhar para o resto da vida. Ao invés de ficar deprimido pelo fato de nunca mais poder competir nas pistas e se afastar do motociclismo, Payton focou seus esforços na parte dos negócios do esporte.
– Quando eu saí do hospital, já queria me envolver na indústria para fazer alguma coisa. Então nós observamos a pequena loja da Husqvarna, que não estava indo muito bem, e pensei: ‘eu posso comandar esse negócio’ – relembra.
Com apenas 18 anos de idade, Mitch comprou e conduziu a Anaheim Husqvarna. Enquanto isso, sua reputação como “acertador de motores” crescia.
– Talvez isso tenha começado com a arte de como montar a moto corretamente, depois trabalhando em alguns “portings”, depois fazendo alguns escapamentos – diz Payton, relembrando seu começo no “tunning”. Fazer o escapamento de uma dois-tempos era uma verdadeira alquimia no passado. Existiam algumas fórmulas bem vagas que indicavam algum caminho, mas acertar uma dois-tempos para competir nacionalmente… A potência necessária não estava disponível apenas apertando um botão – relembra
Após alguns anos, na metade dos anos 80, os produtos e serviços da loja de Payton estavam sendo usados por algumas das maiores equipes do motocross.
– Nós fornecíamos peças e fazíamos “porting work” para alguns times de fabricantes, então começamos a fazer bastante sucesso em 84 e 85. Em 1986, quando o AMA institui as regras de produção (exigiam que as motos das equipes de fábrica fossem baseadas nos modelos da linha de montagem), estávamos um ano na frente, pois já fazíamos as motos de fábrica. Algumas equipes sabiam disso porque nós fizemos as motos de ‘produção’ por algum tempo, então elas vinham até nós. A Honda corria com nossos escapamentos. A Suzuki corria com nossos escapamentos. A Yamaha corria com nossos cilindros – conta.
:: Vídeo de 2010, mas que ainda vale a pena
Em 1991, Payton teve sua grande chance: um convite da Honda para chefiar a equipe na categoria 125cc do Motocross. Convite aceito, e anos depois suas equipes – de outras marcas, privadas ou de fábrica – venceram mais campeonatos do que qualquer outro.
– Quando a Honda me pediu para comandar o time deles nas 125, eu pedi ajuda para o pessoal da nossa oficina, porque não conseguiria fazer tudo sozinho. Nós trabalhamos, fomos persistentes, e foi muito bom para nossas vendas, já que provamos que as peças que nós produzíamos podiam competir com as melhores do mercado. Foi uma aposta, mas foi um ótimo desafio. O medo de que não funcionasse era tão alto que fracassar nunca foi uma opção – afirma.
Por mais que vencer nas pistas fosse um grande objetivo, Payton tinha que continuar pagando as contas. Ele mantinha o orçamento vendendo produtos e serviços, desde escapamentos para motos de série até suspensões modificadas e peças para motores. Seus clientes variavam de equipes profissionais buscando melhores resultados em provas nacionais a pilotos amadores querendo imitar seus ídolos. O plano de marketing de Payton, que se tornou um dos mais bem sucedidos da indústria, era simples. Construir e vender peças de reposição que agradam.
– Eu construo algo que eu acho bonito, e com isso penso que as outras pessoas vão gostar também. Eu não faço pesquisas de mercado. Eu olho para algo e digo ‘isso vai ficar legal’. Mesmo assim nem tudo que eu penso que vai fazer sucesso, realmente vende bem – analisa.
Um grande reconhecimento das conquistas de Payton veio de Tom White. Presidente do Hall da Fama do Motociclismo quando Mitch foi indicado (em 2010), Tom é fundador da White Brothers, umas das primeiras distribuidoras dos produtos de Payton.
– Eu conheço Mitch desde quando ele corria e estava começando sua empresa. Sinto-me muito orgulhoso de ver alguém que superou o que muitos acham ser uma grande dificuldade (paralisia em função do acidente), e não apenas construir as melhores motos, mas também ajudar os pilotos a alcançarem um nível mais alto do que tinham imaginado alcançar. Mitch Payton é um resumo do que buscamos para o Hall da Fama (reconhecer as pessoas que deram as melhores contribuições para o nosso esporte) – afirma White.
Não há dúvidas de que Payton deixou grandes impressões para as pessoas com quem trabalhou. Sua reputação é a de um líder que exige o mais alto nível de desempenho de seus comandados, e com isso conseguiu o respeito de empregados e adversários.
– Para alcançar o sucesso você precisa motivar e saber tirar o melhor das pessoas. Eu joguei baseball e pilotei motos. Depois do acidente, disputo corridas de carro. Logo no começo eu não ia bem (nos esportes). Eu sempre fui o cara que precisava se esforçar mais do que os caras com talento natural. E para pessoas como eu, trabalho duro faz parte da vida – argumenta.
– Nada veio fácil, e boas coisas acontecem para pessoas boas, mas nada cai no seu colo sem trabalho. Existem dias na oficina em que estamos tentando conseguir mais potência, e todos estão olhando para mim. Tentamos de tudo, pensamos, e chega a um ponto em que todo mundo fala, ‘não tem mais o que fazer’. E eu digo, ‘nada disso’! Se for necessário fazer mais tentativas para chegar ao resultado que eu quero, se for preciso estragar algumas peças, tudo bem. Não aceito a falha com facilidade, mas também não fico frustrado por muito tempo – diz.
Payton ficou muito honrado com a indicação ao Hall da Fama, mas afirma que os verdadeiros heróis do esporte foram as lendas que correram antes de seus tempos como piloto.
– Existem algumas pessoas que eu considero muito. Malcolm Smith é uma delas. Quando eu era criança, com uns 10 anos, a gente ia na loja dele e eu ficava incomodando o pessoal para conseguir adesivos e sentando em todas as motos. Outra pessoa que admiro é Roger DeCoster (piloto belga, pentacampeão mundial de motocross). Esses caras eram demais! Estar no mesmo Hall da Fama que eles me deixa muito orgulhoso. É algo eterno, significa que qualquer pessoa que pesquisar a história do esporte vai ver o que nós fizemos.