Ao longo de toda a carreira, é normal que atletas de alto rendimento possuam seus momentos de oscilação, uma verdadeira montanha russa de resultados. Para alguns, a distâncias entre os vales (parte baixa da curva) e o topo das ondas são enormes, para outros nem tanto.
Acredito que ao longo dos últimos 40 anos, o maior símbolo nacional que posso citar por ter vivenciado bons momentos de sua carreira, é Ayrton Senna.
Muitos da atual geração o conhecem apenas por nomes e vídeos espalhados pela internet, mas nenhum deles tem a noção real da paixão que o país viveu durante os anos em que ele motivou milhares de brasileiros a acordar cedo aos domingos para ficar algumas horas em frente aos televisores, foram momentos de amor e ódio sem sombra de dúvidas.
Calma, não se assuste, você não está no site errado, aqui é o BRMX e o foco principal é o motocross.
Aliás, já que toquei no assunto, você consegue definir para si mesmo o significado da palavra FOCO?
Uma simples palavra, duas sílabas, mas que de uma grandeza absurda, que pode literalmente sagrar vitoriosos ou sacramentar derrotados, e aqui estão outros dois significados muito subjetivos, pra você, o que é vitória e o que é derrota?
Um atleta de alto rendimento deve estar sempre pronto para qualquer que seja a situação, para eles, não existe derrota, pelo menos não no sentido literal da palavra, nem sempre o segundo colocado será considerado um derrotado, é praticamente impossível uma temporada completa com 100% de aproveitamento, mas o atleta necessita que sua saúde mental, o famoso psicológico, este sim, esteja 100%, justamente para saber e conseguir lidar principalmente com os momentos em que seu rendimento não atingiu o esperado.
Neste fator, Ayrton Senna foi mestre, seus maiores rivais, nomes como Alain Prost, Michael Schumacher entre outros, sempre o citaram como um adversário duríssimo e de um psicológico inabalável, capaz de se sobressair das mais diversas situações adversas sem nenhuma dificuldade, ele conseguir ver, realizar e tirar proveito de todas as condições possíveis, e nem mesmo assim chegou sempre em primeiro lugar.
No motocross não é diferente, aliás, acredito que devido a complexidade de situações a que um piloto de motocross é submetido dentro de uma única prova, a necessidade de um atleta completo e bem preparado, às condições adversas e alterações de pista, não existe um meio termo, pode até haver sorte, mas um conjunto composto por diversos momentos de sorte ao longo de toda uma temporada pode ser traduzido em trabalho, dedicação e principalmente, preparação.
O motocross é um jogo de xadrez corporal, onde o piloto é pião, cavalo, torre, rainha e rei, ele combate, é combatido, observa, é observado e no menor vacilo, em um único momento de movimentação impropriada, pode colocar todo o conjunto da obra em cheque.
O corpo faz o que a mente o programa pra fazer, na maioria das vezes em minúsculas frações de tempo, um piscar de olhos, e para isso, além da mente, o corpo necessita estar bem preparado.
É comum brincadeiras como “O Piloto X está em uma fase tão positiva que até o que ele faz de errado dá certo!”, na realidade, este atleta se dedicou muito e se preparou bastante para que isso fosse possível, gosto de citar como exemplo a temporada de 2018 do holandês Jeffrey Herlings, naquele ano o piloto estava imbatível e inabalável, venceu 17 dos 20 GPs disputados no ano.
Atualmente estamos vivenciando este mesmo momento de “preparação”, digamos, pelo qual passa Enzo Lopes.
Depois de uma temporada difícil em 2019, com resultados não tão significativos como esperamos e um começo de temporada 2020 também abaixo do esperado, Enzo decidiu mudar radicalmente, reservando-se e despejando todo o seu foco em andar de moto, temos visto que ele está menos participativo em suas redes sociais, optou por não conceder mais entrevistas, e a julgar por seus últimos resultados, a tática tem dado certo.
Senna citava em entrevistas que parte do ritual de preparação para um GP era se colocar dentro do carro algumas horas antes, concentrando-se, se colocando dentro da pista, onde ele conseguia ir cada vez mais rápido, e mais rápido, ao ponto em que se via em um túnel, sem nenhuma influência externa e completamente focado no seu único objetivo, dar o seu melhor, superar seus próprios limites.
É assim, aquele ditado “Mente sã, corpo são.” pode ser modificado para “Um corpo preparado, precisa de uma mente preparada.”