Leandro Mattos, 27 anos, se prepara para assumir a presidência da ASW Racing, empresa brasileira que acaba de completar 30 anos de sua fundação. Filho de Paulo Mattos – fundador da companhia ao lado do irmão Dimas -, Leandro tem formação em Design de Produtos e especialização em Gestão de Marketing. E carrega consigo uma trajetória forjada dentro do universo duas rodas.
É piloto de motocross desde os cinco anos de idade. Chegou a se aventurar na carreira de profissional antes de completar 18 anos, mas uma lesão grave no ombro e a vontade de estudar lhe afastaram do profissionalismo, jamais das pistas. Atualmente ainda pilota, mas suas principais forças estão voltadas ao desejo de tornar a ASW uma marca conhecida mundialmente.
Na entrevista a seguir, Leandro conta como ajudou a remodelar os equipamentos da marca, como está o processo de transição de gerações dentro da empresa e promete trazer ainda mais inovações ao mercado brasileiro. Confira!
Gostaria que você contasse um pouco da sua trajetória. Como o filho do Paulo se tornou diretor da ASW?
Leandro Mattos: Meu pai sempre andou de moto. Eu comecei com cinco anos, e nesta época ele parou e começou a me incentivar. Mas nunca forçando. Nunca se pensou em criar um piloto profissional. Sempre me deixou livre. Tanto que parei lá pelos 12 anos, e voltei a andar uns dois anos mais tarde, aí sim me dediquei. Fui campeão paulista amador e na Intermediária 125cc. Fui para o profissional com 17 anos, fiz uma temporada e meia, andei Brasileiro entre os dez. Mas no ano seguinte sofri uma lesão de ombro e isso coincidiu com a ideia de morar nos Estados Unidos, fazer o terceiro ano do colegial lá para aprender bem inglês, e eu fui. Fiquei mais de um ano sem andar de moto. Quando voltei, ainda tinha vontade, fiz mais algumas corridas, e aí começou aquela pressão da idade, de resolver o que fazer, entrar para a faculdade.
Então resolveu fazer design…
Leandro Mattos: Meu pai, no começo da história da ASW, fazia o desenvolvimento de produto. Ele era engenheiro, trabalhava na Embraer, e saiu para montar a ASW junto com o Dimas (Mattos, tio de Leandro). Ele sempre foi muito movido a novidades. Fui pegando isso dele. Sempre tive essa vontade de fazer a faculdade de design. Tinha a dúvida entre Marketing e Design de Produto, acabei optando pelo Desing e me apaixonei pela profissão.
Quando que você iniciou os trabalhos na ASW?
Leandro Mattos: No último ano da faculdade comecei a estagiar na ASW, no setor de desenvolvimento de produtos. Meu TCC – Trabalho de Conclusão de Curso – é um produto da ASW, o colete Concept.
Por que escolheu o colete para desenvolver?
Leandro Mattos: Um pouco por causa da minha lesão de ombro. Fiz seis meses de pesquisa e seis meses de desenvolvimento. Fui atrás para entender as lesões de ombro, que são as mais frequentes no nosso esporte. Conversei com médicos da CBM, hospitais, estudei muito as lesões de ombro para desenvolver esse colete.
Isso é 2010?
Leandro Mattos: Comecei na ASW no fim de 2009, me formei em 2011, e entrei full time na empresa. Comecei a implantar ideias novas e, na época, a ASW estava um pouco carente desta visão mais jovem, mais atual. o Persio (Mattos, tio mais jovem de Leandro e hoje proprietário da SportsCo) era o presidente da empresa e me apoiou muito, me deu carta branca. Ele sempre falou e eu sempre levei muito à risca: “você precisa fazer um produto que você tenha orgulho de usar”.
Foi aí que surgiu a nova logomarca?
Leandro Mattos: Junto com a turma, que sempre pegou muito junto, mudamos a logo, criamos uma identidade nova, desenvolvemos uma série de produtos. Fechamos a fábrica de capacetes e começamos a trazer de fora. Aí virei coordenador da área de desenvolvimento. Depois de um tempo coordenando, passei a ter tempo para buscar outras coisas. Entrei na pós-graduação em Gestão de Marketing e passei a entrar na área de marketing da ASW. Até porque uma coisa complementa a outra. Você precisa criar o produto e precisa fazer o público entender o que você fez. E aí também passei a ser coordenador de marketing da empresa.
A partir de 2012 é nítida a mudança da “cara” da ASW.
Leandro Mattos: Junto com o Persio, começamos a mudar muita coisa. E no fim de 2013, com o plano de ter uma empresa onde ele fosse dono e tudo mais, o Persio saiu da ASW e montou a SportsCo. Apoiamos muito ele. E nisso ficamos numa transição de geração e gestão um pouco complicada. Eu era novo para assumir todas as responsabilidades, precisa entender melhor a área financeira, fiscal, comercial, contábil, etc. Então o Dimas voltou para a operação. Já vai completar dois anos que ele voltou. Aprendi muito tanto com o Persio, que é mais comercial, quanto com o Dimas, que é mais administrativo principalmente na área financeira. Dividimos as decisões, ele me pergunta, me explica, a gente trabalha na mesma sala. Isso fez eu crescer ainda mais dentro da empresa.
ASW está no ponto mais alto da história dela?
Leandro Mattos: Como marca, sim. Houve uma época em que a Silva Mattos era uma grande distribuidora, e nesta época acho que o Grupo Silva Mattos era maior. Importava “n” marcas, tinha menos concorrência. Isso entre 2005 e 2008. A Silva Mattos dominou, mas se perdeu um pouco da essência da ASW, que era “apenas” mais uma marca dentro da Silva Mattos. E hoje, a marca ASW em si é o grande foco.
Isso veio com a mudança de logo e conceito que você implementou no fim da faculdade?
Leandro Mattos: Foi a base de tudo. Veja: na época da Silva Mattos forte como distribuidora, eu mesmo queria usar One, Fox. Até tinha produtos da ASW, mas queria usar as importadas que nós distribuíamos. Hoje não, hoje tenho paixão pela ASW, pelo produto, que já não perde em nada para os importados e tem preço mais acessível.
Como vocês conseguiram esta guinada?
Leandro Mattos: Muita pesquisa. Olhamos muito para fora antes, mas agora já temos um movimento próprio. Hoje, em janeiro de 2016, já tenho a coleção 2017 desenhada. Mudamos tanto que não dependemos de mais ninguém. O calendário de lançamento é igual lá fora.
E a crise? Todo mundo só fala disso. O que ela afetou na ASW? Ou como vocês driblaram ela?
Leandro Mattos: Uma coisa que nos ajudou é que nunca desativamos nossa fábrica aqui por completo. Quando temos uma crise de dólar disparado, conseguimos manter a base dos produtos nacionais muito forte. E o consumidor, na crise, pensa duas vezes antes de gastar. Então ele procura um produto que vai durar mais, que é diferente, e ele valoriza mais aquilo. O produto importado ficou muito caro e ele passou a buscar a referência nacional, e nós estávamos preparados para isso com produtos bons. Desenvolvemos antes, e quando a crise chegou nós já tínhamos um excelente produto para oferecer com um preço bom. A venda pro consumidor final foi muito boa. Também melhoramos muito nosso processo financeiro dentro da empresa, modernizamos, estamos desenvolvendo um sistema nosso, interno. Estamos muito bem.
Ainda estão investindo em desenvolvimento de produtos?
Leandro Mattos: Estamos. Vem bastante novidade durante o ano. Alguns produtos de proteção – colete, joelheira, cotoveleira, capacete novo – serão lançados ao longo do ano. E, em agosto, vem a coleção completa. Estamos desenvolvendo ainda camisas, calças, tudo. Vai melhorar ainda mais. Vamos continuar elevando o nível. Não vai ter igual.
Vocês têm uma ideia de exportar também. Como está este planejamento?
Leandro Mattos: O projeto existe. É tentador vender e receber em dólar, mas temos que ter o pé no chão. Demanda investimento em desenvolver produto no exterior, já que exportar do Brasil é muito caro. Já temos um catálogo de produtos importados, que já poderíamos começar a trabalhar a venda em outros países, mas ainda tem uma questão de traçar certinho as metas, se vamos começar pela América do Sul ou pelos Estados Unidos ou pela Europa. Estamos discutindo isso.
É uma meta pessoal?
Leandro Mattos: Estou caminhando para assumir a presidência da empresa e esse é um objetivo pessoal. Quero tornar a ASW uma marca internacional. Quero fazer a ASW ser distribuída no mundo todo, ter um escritório fora, ser reconhecida. Temos capacidade para isso. Na questão de design, já estamos muito competitivos. É mais uma questão de planejamento e organização.
Como você enxerga o off-road no Brasil?
Leandro Mattos: Uma coisa são as competições, que estão patinando um pouco apesar de muitas empresas continuarem apoiando e investindo, como a Yamaha e a Honda, que montaram estruturas bacanas, estão buscando algo maior. Ainda falta uma organização por trás disso que é a CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo). A CBM e as Federações precisam melhorar porque isso é a base do nosso esporte. Se a gente não tem um campeonato paulista referência no estado de São Paulo, o cara que começa a praticar não almeja ser profissional porque não vê isso. Apesar do momento mostrar grandes pilotos no campeonato brasileiro, com boas disputas, gringos, a gente está mascarando a falta de campeonatos estaduais melhores. Por outro lado, o esporte amador continua crescendo. Vemos muita gente começando a andar de moto. Tem muita gente andando de moto que nós não enxergamos no dia a dia. É um caminho sem volta. Não é a toa que o mercado comporta tantas marcas de alto nível.
A ASW tem intenção de montar uma própria equipe?
Leandro Mattos: Hoje estamos na principal equipe de enduro – Zanol Team – e na Yamaha Grupo Geração, que tem todos os títulos do motocross não é por acaso. Então, estamos bem representados. Também estamos dando um foco nos atletas de bike. Uma equipe nossa não é o foco.
O que esperar da ASW com 60 anos?
Leandro Mattos: Vai ser muito legal ver a ASW com 60 anos. Pessoas que são prata da casa, que vestem a camisa, são fundamentais para isso. Fernando (Silvestre, diretor comercial) me ensina todos os dias algo novo, e ele vai me ajudar a levar a ASW para aquele objetivo de se tornar uma marca internacional. Meu pai e o Dimas fizeram um trabalho brilhante, levaram a ASW até o lugar que ela está hoje e acho que seria digno conseguir fazer algo parecido com o que eles fizeram do que simplesmente manter as coisas como estão. Temos um potencial gigante para crescer. Quero ter uma marca consolidada no mundo todo daqui a 30 anos.