Jetro Salazar conta detalhes da vida no Brasil e da experiência de andar “sem guidão” no Arena Cross

||

jetrosalazar_osvaldofuriatto
Jetro Salazar na 4ª etapa do Arena Cross sem um guidão – Crédito: Osvaldo Furiatto

 

Na penúltima etapa do Arena Cross 2015, em Campinas, dia 29 de agosto, o equatoriano Jetro Salazar chamou a atenção ao andar com um dos lado do guidão quebrado após uma queda na segunda bateria da MX Pró.

Campeão Latino-americano de motocross, multicampeão no Peru e no Equador, o piloto de 24 anos faz sua segunda temporada no Brasil e diz ter realizado um sonho ao andar nos campeonatos brasileiros. Em 2014 chegou muito perto do título no principal campeonato nacional, e em 2015 está na quarta colocação, atrás de Carlos Campano, Jean Ramos e Paulo Alberto.

Simpático, apegado à família, sorridente, e muito raçudo, Jetro contou detalhes da queda no Arena Cross e comentou sobre sua temporada e vida no Brasil em entrevista ao BRMX neste fim de semana prolongado. Confira!

 

BRMX: O que aconteceu na 4ª etapa do Arena Cross que o seu guidão ficou daquele jeito? E o que passou na sua cabeça naquele momento em que você continuou a prova mesmo assim…
Jetro Salazar:
Eu estava andando na quarta posição antes de cair, estava me sentindo bem. Acho que no Arena Cross existem dois pilotos que estão em um nível a mais que o resto de nós, o Paulo Alberto e Jean Ramos. Então, eu estava brigando pela terceira posição (atrás de Carlos Campano) e ele entrou em uma canaleta e a pedaleira dele pegou uma pedra e eu estava caminhando para ir justo nela, então na hora que eu entrei na canaleta, a moto escapou e fui para o chão. Na verdade, o tombo não foi forte, eu não bati e nem machuquei nada, mas o guidão da moto caiu direto no chão e quebrou. Na hora em que eu peguei a moto, já percebi que estava com o guidão quebrado, só que desde pequeno, uma das coisas que meu pai me ensinou foi que desistir não é uma opção, então mesmo que o guidão estivesse quebrado, eu tinha que terminar a prova. E na hora que eu caí, lembrei disso e falei “vamos tentar, vamos acabar e andar assim o melhor que puder”, só que é bem difícil, não dá para andar rápido, dava para terminar a prova, nada mais que isso. Foi legal ver as fotos depois e perceber que era uma coisa que muitos pilotos não fariam. Foi bom para mim também, como falei, desistir não é uma opção, no esporte e na vida. Em qualquer uma das coisas que eu faça.

 

BRMX: No ano passado você brigou direto pelo título do Brasileiro MX e neste ano está um pouco mais longe das primeiras posições. Alguma coisa mudou?
Jetro Salazar:
Sim, o que mudou do ano passado para esse foi o motor da minha moto. Ele era mais forte no ano passado. Então eu conseguia me desempenhar bem melhor dentro da pista, com mais facilidade. Neste ano, não estamos tendo o motor que queríamos ou precisávamos. Mas estamos fazendo o melhor com o que temos. Deu pra ver que nas corridas deste ano, como na Superliga Brasil de Motocross, na segunda bateria da MX1, eu andei muito bem. Mas acho que para mim é um pouco mais difícil de andar na ponta com o motor que eu tenho agora, mas não é impossível. É basicamente isso, a moto do ano passado me ajudava a largar na ponta, mesmo se eu não pegasse o pulo do gate. Agora para eu fazer o holeshot, tenho que ser perfeito, não posso errar em nada. Então dificulta um pouco, mas a gente faz o melhor que pode. Agora meu preparo físico é bem melhor que no ano passado, mas ainda não consegui andar numa corrida que você fala “ah, agora o Jetro vai”. As coisas estão se encaixando e a vitória vai se dar nessas últimas corridas do campeonato.

 

jetro_patydoalferes2015_mauhaas-1
Jetro Salazar – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Você já está certo para ficar no Brasil em 2016?
Jetro Salazar:
Ainda não fechei contrato com ninguém, mas acho que vou ficar sim. Acho que minha passagem pelo Brasil ainda não acabou e quero fazer muito mais do que fiz ano passado ou do que estou fazendo neste ano. Então vou ficar aqui sim, se Deus quiser.

 

BRMX: Como é sua parceria com o Miguel Cordovez? Você achou que ele teria melhores resultados aqui no Brasil?
Jetro Salazar:
Minha parceria com o Miguel é a melhor possível. Conheço ele desde que a gente tinha cinco anos, praticamente a vida inteira. É como ter um irmão treinando e andando junto. Na primeira parte dos campeonatos, pensei que ele ia andar melhor, se bem que estava tendo lesões no pulso, no tornozelo, em diferentes partes do corpo que não deixavam ele se sentir bem. Mas acho que agora a gente tem essa parte de setembro para ficar bem de todos os machucados. Então, nessa última parte dos campeonatos, tenho certeza que ele vai muito bem.

 

BRMX: Estamos perto do Motocross das Nações… o Equador tem time?
Jetro Salazar:
Eu sou do Equador e já andei no Motocross das Nações em 2007, mas não ando no Equador desde aquele ano. Saí de lá em 2007 e fui para o Peru, morei lá desde então. Se a gente fosse no Motocross das Nações seria pelo Peru, mas não sei o que acontece com o Equador. O país tem uma facilidade, já que o Martin Davalos é de lá, e é um piloto que está bem nos Estados Unidos, mas não sei até que ponto eles conseguem se ajeitar para mandar um time para o MXoN. Vamos ver no ano que vem, que será nos Estados Unidos. Talvez eles consigam ir, mas não sei. Tudo depende da federação.

 

BRMX: Como é pra você competir no Brasil? Vale a pena ficar longe da família, amigos…
Jetro Salazar:
Estar no Brasil é um desejo que eu tinha faz tempo. Meu sonho sempre foi andar nos Estados Unidos, graças a Deus consegui, fui lá e andei nos campeonatos amadores, Loretta Lynn e tudo mais. Aquele outro passo, de ir para o profissional, ainda não dei, mas estou seguro e tenho certeza que vai se realizar um dia e não está muito longe. Mas no Brasil eu quis vir desde 2007. Vim no Latino-americano, em Rondônia, aí vi o Leandro Silva, Rodrigo Selhorst, Swian Zanoni, Wellington Garcia, e percebi que o motocross no Brasil era muito maior do que na América do Sul, e eu andei quase em todos os países. Então eu queria vir e ficar aqui, andar com os caras. E graças a Deus deu certo no ano passado, fui muito bem, e em 2015 estamos bem, não estamos tão ruins assim. Mas tenho certeza que vou conseguir mais que isso. E sobre deixar minha família lá no Peru, é difícil porque sempre fui muito unido com eles, sempre onde um ia, todos iam juntos. Então é um pouco difícil, mas é tudo para realizar meu sonho e conseguir um título aqui no Brasil.

 

jetrowin_mauhaas
Jetro comemora vitória na primeira bateria da MX1 na quarta etapa do Brasileiro de Motocross em 2014 – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Como é sua rotina de treino? Como funciona o esquema de morar no CT da Escuderia X?
Jetro Salazar:
A nossa rotina é boa, treinamos de moto durante a manhã e à tarde vamos à academia. Temos um personal excelente, e está fazendo um trabalho bem legal. Aqui em Curitiba às vezes a chuva acaba atrapalhando, então não é todos os dias que a gente consegue treinar de moto. Tentamos treinar pelo menos um dia sim e outro não. E academia todos os dias. E morar no CT é melhor, acordamos, tomamos café da manhã e vamos para a pista, se tiver muito molhada, procuramos outra. A alimentação eu diria que é normal, não temos uma dieta restrita e por enquanto me sinto muito bem em cima da moto e fazendo atividade física na academia, então tudo isso está bem encaminhado.

 

BRMX: Como eram as coisas em Quito, no Equador? Campeonatos, seus resultados, treinos. O que você fazia por lá de forma geral?
Jetro Salazar:
Na verdade eu saí de lá porque o motocross não tem apoio para nada. Então fui ao Peru porque lá tem muito mais apoio, dá pra viver do motocross, enduro, rally. E sobre campeonatos, graças a Deus eu ganhava tudo, era o melhor do Peru, um tempo fui o melhor do Equador também, sempre pensei em ser o melhor de cada lugar que estava. E os treinos eram um pouco mais tranquilos, não tão fortes assim, mesmo porque não precisava de um nível mais alto, eu estava no topo, não tinha um cara que eu procurava vencer como é aqui no Brasil. Eu vivia das motos também, então toda a minha preparação era trabalhar para ser mais rápido, eu me preparava muito para os Latino-americanos, que eram as corridas mais fortes do ano. Eu também andava no enduro porque não tinha muitos campeonatos de motocross e em algumas provas de rally também, e me divertia bastante com isso.

 

BRMX: Qual é a maior diferença que sente do Peru para o Brasil? De forma geral, pistas, competições, vida social.
Jetro Salazar:
De forma geral, tenho saudade da comida, porque a comida é um pouco diferente e eu gosto muito, lá tem bastante peixe. Sobre as pistas, aqui tem muitas (não em Curitiba, mas em São Paulo) e com certeza sobre os pilotos brasileiros (e não só os brasileiros, os estrangeiros que estão vindo para cá) dão um nível muito alto no campeonato. Mas estou me sentindo muito bem e se pudesse ficaria muito mais aqui, então vamos ver o que dá nesse final de ano para sabermos o que fazer, se vamos ficar, ou se vamos para outro lado.