Recentemente publicamos alguns dados sobre a carreira de Ricky Carmichael, indicado ao Hall da Fama da Associação Americana de Motoclistas (AMA) em 2013, dez anos após a indicação de Jeremy McGrath, o cara que agregou muito valor ao Supercross (sem ironias, neste caso). Houve discussão e o nome de McGrath foi abordado como sendo maior que o de RC.
No Conselho de Avaliações e Estatísticas Históricas do BRMX, concordamos que RC foi o maior piloto de motocross (e aí incluímos o supercross como um derivado) da história, mas McGrath foi o maior piloto de supercross, apenas de supercross, de todos os tempos.
Acompanhe a seguir um pouco da história de Jeremy McGrath, indicado ao Hall da Fama em 2003:
O que ele fez?
– Elevou o Supercross ao nível de ‘show’, sendo seu primeiro e mais influente ‘showman’;
– Conquistou sete títulos no AMA Supercross;
– Venceu dois campeonatos mundiais de Supercross;
– Uma vez campeão do AMA Motocross.
Jeremy McGrath foi um dos motociclistas mais populares (se não o mais popular) dos anos 90, e talvez na história do esporte nos Estados Unidos. Heptacampeão no AMA Supercross e campeão nacional na 250 do Motocross, a popularidade de McGrath transcendeu o motociclismo. Estrelou comerciais de televisão nacionalmente para uma companhia telefônica (veja o vídeo no final do texto), participou de programas famosos como o Tonight Show de Jay Leno, da NBC, além de aparecer em várias matérias de jornais e revistas durante seus dias como “O Rei do Supercross”. No período máximo de sua popularidade, jogos de videogame com a sua “marca” estavam entre os mais vendidos.
O AMA Supercross cresceu rapidamente durante a Era McGrath. Ele dominou no Supercross como nenhum outro piloto havia feito antes, reescrevendo o livro de recordes do esporte. Suas manobras nos grandes saltos do Supercross (a mais famosa era o Nac Nac) ajudaram a formar o Motocross Freestyle. Além dos oito títulos nos campeonatos nacionais, Jeremy representou por duas vezes os EUA no Motocross das Nações, sendo membro da equipe nos títulos de 93 e 96. Ele também venceu o prêmio de Atleta do Ano em 96.
Na infância, bicicletas…
McGrath nasceu no dia 19 de novembro de 1971, em São Francisco, Califórnia. Sua primeira moto foi uma mini-bike equipada com um motor Briggs & Stratton “cortador de grama”. Diferente de seus colegas na mesma época, não chegou a figurar nos rankings dos campeonatos de mini-bike. Ao invés disso, aumentou suas precoces habilidades no competitivo Circuito de BMX do Sul da Califórnia.
Nesta época, McGrath estava entre os principais pilotos adolescentes de BMX do país, porém como havia começado tarde na modalidade, preferiu procurar novos desafios. Motocross era o nome deste desafio. Seus pais o apoiaram, e aos 15 anos de idade Jeremy começou a correr de moto. Apesar da ajuda da família, ele tinha de trabalhar no supermercado local embalando as mercadorias para completar os gastos da prática do motociclismo. Comparado com outros atletas de ponta do Motocross e do Supercross, McGrath começou tarde. Mesmo assim ele conseguiu fazer a transição das bicicletas para as motos, e ainda trouxe alguns dos truques do BMX para o mundo do MX.
Início nas 125
Depois de três anos correndo como amador, Jeremy estreou no AMA em 1989, terminando sua primeira temporada no Supercross na oitava posição (Categoria 125cc – Costa Oeste).
Representando a equipe Kawasaki em 1990, McGrath começou a causar os primeiros impactos no esporte. Naquele ano alcançou a primeira vitória na etapa de Las Vegas na 125cc da Conferência Oeste, e terminou o ano em segundo lugar. Mitch Payton (fundador da Pro Circuit) enxergou o potencial inexplorado de McGrath e o contratou para correr pela equipe Team Peak/Pro Circuit/Honda em 1991. E Jeremy sagrou-se bicampeão da 125 no Supercross da região oeste dos EUA – em 91 e 92.
MC era reconhecido basicamente como um especialista no Supercross até aquele ponto de sua carreira, mas ele queria provar que também tinha habilidades para pilotar tão bem quanto nas pistas de motocross. Em 91, terminou em quinto no AMA Motocross (na 125cc), e em 92 acabou a temporada na oitava posição em sua categoria. Jeremy começou a se transformar em um nome internacionalmente conhecido nesta mesma época, ao vencer o Tokyo Supercross, no Japão, em 1992.
Vitória em Anaheim, o divisor de águas
A corrida que mudou sua carreira aconteceu na noite de 23 de janeiro de 1993, em Anaheim, Califórnia. Jeremy corria pela Honda como segundo piloto. Suas principais tarefas eram defender o campeão do Supercross e do Motocross nas 250, Jeff Stanton, e usar a temporada como aprendizado, já que era seu primeiro ano completo na principal categoria do Supercross americano. No Anaheim Stadium, na frente de seus familiares e amigos, na pista que considerava sua casa, McGrath ultrapassou Stanton e ganhou sua primeira corrida no AMA Supercross. Ele considera aquela ultrapassagem uma das mais memoráveis da sua carreira.
– É raro o dia em que eu não me lembro daquela ultrapassagem que fiz sobre Stanton para vencer minha primeira corrida – admite McGrath.
O legado do campeão
Depois da primeira, a sequência de vitórias não parou. Ele dominou a temporada de 93, vencendo 10 etapas e conquistando o título.
A excelente temporada de 1993 era apenas a ponta do iceberg. Daquele ano até sua aposentadoria, McGrath derrubou recordes e estabeleceu novas e impressionantes marcas. Por exemplo: venceu o AMA Supercross sete vezes (93, 94, 95, 96, 98, 99 e 2000), e quase sempre de maneira dominante.
Sua total dominância não atrapalhou o crescimento do esporte. Durante seu reinado o público nos estádio aumentou bastante, e a audiência da transmissão televisiva cresceu muito. A maioria dos especialistas em motociclismo atribui a enorme popularização do esporte diretamente à McGrath. Além de suas óbvias habilidades, Jeremy tinha uma “aura”, uma mística em torno de seu nome e personalidade que lhe davam um quê de estrela de Hollywood. Mesmo assim se manteve acessível e amigável com os fãs, que fizeram dele o piloto mais popular que o esporte já tinha visto. Praticamente todos os pilotos de Motocross que se tornaram profissionais entre meados dos anos 90 e início dos anos 2000 citam McGrath como seu “heroi das pistas”.
Números e recordes
As estatísticas de McGrath no AMA Supercross são espetaculares. Nada menos que 72 vitórias, sendo 14 em uma única temporada. Também é dele o recorde de vitórias seguidas na história da categoria, com incríveis 13 triunfos. Além do maior número de temporadas consecutivas com pelo menos uma vitória: nove. No ano em que Jeremy se aposentou, ele detinha o recorde de vitórias combinadas entre o Supercross e o Motocross norte-americano, chegando 89 vezes ao lugar mais alto do pódio. Ricky Carmichael passaria esta marca alguns anos depois.
Enquanto os óbvios feitos e as habilidades de McGrath no Supercross foram bem documentados, suas atuações no Motocross geralmente são subestimadas. No total ele venceu 17 vezes nas provas nacionais do AMA Motocross, sendo 15 vitórias na 250 (quando McGrath foi indicado para o Hall da Fama, em 2003, ele ocupava a sexta posição na lista de maiores vencedores de todos os tempos no AMA Motocross). Em 1995, Jeremy conquistou o título nacional na 250, e poderia ter levado o caneco também no ano seguinte. Uma lesão na parte final da temporada fez com que faltassem alguns pontos para alcançar o título, conquistado por Jeff Emig. McGrath também liderou o time americano em duas oportunidades no Motocross das Nações – em 93 na Áustria e em 96 na Espanha. Nas duas vezes os EUA foram os campeões.
Aposentadoria
Durante sua carreira, pilotou para Kawasaki, Honda, Suzuki e Yamaha, além de ter sido o primeiro piloto a comandar e correr por sua própria equipe, que também fabricava e montava os equipamentos utilizados nas corridas.
Jeremy anunciou sua aposentadoria antes da etapa de abertura do AMA Supercross no ano de 2003. Durante aquele ano participou da maioria das etapas do campeonato nacional de Supercross, dando a chance para que fãs e colegas de competição dessem adeus e agradecessem tudo que ele havia feito pelo esporte.
Quando perguntado sobre quais seriam os momentos mais importantes de sua carreira, McGrath cita a primeira vitória em Anaheim, em 1993, como o momento mais marcante, mas ele também tem orgulho de outras coisas.
– Fiz tantas grandes corridas… Minhas três vitórias em Daytona foram especiais, já que muitas pessoas diziam que eu não conseguiria vencer. Meu título nacional no MX foi muito especial, porque todo mundo dizia que eu nunca conseguiria ganhar. Fiquei irritado comigo mesmo porque poderia ter vencido o título em 96 também, mas na época achava que era invencível e tentei um salto em Millville que nunca deveria ter tentado fazer e acabei sofrendo uma lesão.
Apesar de aposentado das competições “integrais” de Supercross e Motocross, McGrath continuou sua carreira como piloto depois de ser indicado ao Hall da Fama. Jeremy foi uma das primeiras estrelas a entrar pro AMA Supermoto Series, em 2003. Ele e sua esposa Kim continuam morando no sul da Califórnia.
Em julho de 2007, uma escultura feita em bronze de McGrath fazendo a famosa manobra “Nac Nac” foi colocada no Museu do Hall da Fama do Motocross. O legado que Jeremy McGrath deixou para o motociclismo será notado por muitas gerações.
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