Jean Ramos conta detalhes da vitória no Latino-americano de motocross 2016

||

latinomx3_yerelygarcia
Jean Ramos no Latino-americano 2016 – Fotógrafo: Freisy Navarro

 

Jean Ramos conquistou a vitória no Latino-americano de Motocross 2016 há uma semana, no dia 2 de outubro, em prova única realizada em duas baterias na República Dominicana.

Apesar de o campeonato latino-americano já não tem mais o glamour de outras épocas, continua sendo um grande título para o currículo. Correr em outro país é sempre uma experiência nova, que tira o atleta da zona de conforto e lhe coloca diante de obstáculos jamais enfrentados. Vencer nestas condições é difícil e compensador.

– Graças a Deus saí campeão assim como em 2008 (quando conquistou o título na categoria MX2). Mas foi um fim de semana bem movimentado. O clima era de sol, porém a chuva aparecia de repente a cada instante. Isso mexeu bastante com a pista, que ficou mais técnica e complicada para fazer ultrapassagens. Na primeira bateria, o gate movimentou mas não caiu na hora, e isso me desconcentrou. Larguei no meio do pelotão, só que logo estava entre os primeiros. Encostei no Roberto Castro, passei, mas o Jetro Salazar já tinha aberto um pouco na primeira colocação. E na segunda bateria, voltei com um ajuste melhor de gasolina, consegui largar bem, o Jetro me passou com 20min, mas logo vi ele parar com problemas na moto. Então foi administrar pra ficar com o troféu. Saio feliz e focado em voltar para o Brasil para brigar pelo título do Arena Cross e do Brasileiro de Motocross – disse Jean após a conquista.

De volta à Curitiba, Paraná, o brasileiro conversou com o BRMX para contar alguns detalhes do que viveu na América Central. Confira!

 

BRMX: Como era a pista? Padrão Brasil? Padrão Europa? EUA?
Jean Ramos: Era uma pista do tamanho das do Brasil, mas sem grandes saltos. A gente girava em torno de 1min30seg. Tinha uma seção de costelas bem longa. Era chão duro, mas como choveu, amoleceu bem e na segunda bateria de domingo estava bem técnica, com tantos buracos quanto a do Nações. Tinha sistema de irrigação, mas nem precisou usar. Só que nas corridas ficou um trilho só, se saísse do trilho bom, a moto atolava.

BRMX: Em termos de organização, como eles estão?
JR: Eles não estão acostumados com eventos tão grandes. Fazem mais eventos regionais, quando deixam até o público entrar na pista, o que não foi o caso no Latino. A FIM-Latin América é bem exigente em alguns detalhes que achei até demasiado. Fizeram vistoria em botas, uso de colete era obrigatório, mecânico não podia ajudar a acionar o dispositivo de largada, as motos só podiam ser lavadas com água, era obrigatório carpê embaixo do cavalete. Coisas pequenas, mas não tivemos uma volta de reconhecimento antes das baterias, o que é importante. São normas, regras diferentes, que a FIM-Latin América exige.

BRMX: Como era tua estrutura? Alugou moto lá?
JR: O organizador (Frank Troncoso) conseguiu a moto para mim, uma YZ 450F nova. O evento cedeu hotel e translado para pista e aeroporto. Levei peças como suspensão, ignição e escapamento, além de câmera de ar e coroa. E lá comprei gasolina VP, que é a mesma que se usa nos Estados Unidos. Na pista, ficamos em barraca, nada de caminhão ou motorhome, o que é normal nos Latino-americanos, até mesmo nos que já aconteceram no Brasil, porque não tem como levar grandes estruturas para outros países.

BRMX: Em termos de mídia, como foi?
JR: Na quinta-feira antes da corrida teve um evento em um shopping, com imprensa, para apresentar a corrida. Mandei meu equipamento antes, eles montaram as motos lá com manequins dos pilotos, fizeram um barulho pra chamar o público e a mídia local. Tinha cobertura de uma ou duas TVs, tinha um site da Bolívia, um fotógrafo, e a Fox Sports da região. Foi um evento bonito. Tinha 29 pilotos de diversos países. A estrutura era bacana, com muitas motos para emprestar ou alugar.

BRMX: E o nível dos pilotos?
JR: Muitos pilotos ainda têm um nível mais amador que o nosso. Tinha o Roberto Castro, o Jetro Salazar, o Miguel Cordovez – que correm ou já correram no Brasil – e o Frank Nogueras, dominicano que tem experiência em provas amadoras nos EUA, mora no MTF. Esses tinham nível profissional, um ritmo mais forte.

 

latinomx1_yerelygarcia
Festa após o pódio – Fotógrafo: Freisy Navarro

 

BRMX: Vale a pena participar do Latino-americano?
JR: É uma experiência diferente. Vale a pena pra você colocar teu nome no circuito, em exposição para outros países. Tinha um delegado da FIM que já me convidou para outra corrida, em dezembro, e assim vamos abrindo portas. Por isso é interessante.

BRMX: O público te conhecia?
JR: Alguns que eram do meio, sim. Sabiam meu nome, me pediam da corrida de São José com o Cairoli, das participações no AMA SX. A maioria não me conhecia, até mesmo o pessoal da FIM. Mas, no encerramento, já vinham tirar foto e perguntar como era no Brasil. O Jetro, que já correu lá algumas vezes, era bem conhecido.

BRMX: O fato de você ser o segundo brasileiro na história a vencer na MX1 (o primeiro foi Nivanor Bernardi, em 1979), significa algo?
JR: Significa bastante, talvez até mais do que um título do Brasileiro de Motocross. Pra mim foi ótimo ser campeão. Depois do tombo em Extrema (Minas Gerais, no Brasileiro MX), eu fiquei muito magoado comigo mesmo. Agora é hora de correr atrás do prejuízo. Gosto de correr o Latino, me divirto bastante, conheço novas culturas, pena que não temos tanto incentivo e mal somos informados sobre o evento aqui no Brasil. E ser comparado ao Nivanor Bernardi não é pra qualquer um. E, se fica campeão, você tem dois mil dólares para participar do próximo ano. Quando eu fizer minha inscrição pra ano que vem, ganho este dinheiro.

BRMX: Já sabe onde vai ser no próximo ano?
JR: Voltando, na viagem, encontrei dois dirigentes da FIM-Latin América e eles falaram que a maior possibilidade é que seja na República Dominicana outra vez. Mas se falou também que poderia ser na Argentina, na mesma pista que recebe o Mundial de Motocross (em Villa la Angostura, na região da Patagônia).

 

latinomx2_yerelygarcia
Público compareceu e prestigiou o evento – Fotógrafo: Freisy Navarro