Entrevista: Matiss Karro, o novo piloto da Honda Mobil

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Matiss Karro no Goiano de Motocross – Fotógrafo: Danyllo Proto

 

Nascido na cidade de Riga, na distante Letônia do Leste Europeu, Matiss Karro chegou ao Brasil no começo de 2017 para brigar pelo título do Brasileiro de Motocross pela equipe Honda Mobil.

Desembarcou em terras tupiniquins depois de morar muitos anos na Inglaterra, onde fez sua carreira de piloto participando do campeonato local e do Mundial de Motocross. Tem um título do campeonato inglês na MX2 e um de campeão mundial na categoria Júnior em seu currículo.

No domingo de carnaval, 26 de fevereiro, Karro disputou a abertura do campeonato goiano de motocross 2017 ao lado do companheiro de time Hector Assunção. Venceu a segunda bateria e perdeu para o paulista na outra corrida do dia, e acabou o fim de semana no lugar mais alto do pódio.

Antes de viajar para Três Ranchos, Goiás, conversou por telefone com o BRMX. Em inglês britânico perfeito e com muita simpatia, falou de como tem encarado esta nova fase em sua vida. Confira!

 

BRMX: Como surgiu a ideia de correr no Brasil?
Matiss Karro: um dos membros do time já havia feito contato cerca de dois anos atrás. Porém, ano passado me lesionei, demorei pra me recuperar e estava mentalmente “para baixo”. Mas agora a proposta apareceu e eu queria fazer grandes mudanças na minha vida, no meu esporte, no meu hobbie, já que motocross é tudo para mim. Gosto de novos desafios. Se eu ficasse na Europa, não teria isso porque já conheço todas as pistas, todos os lugares. Queria uma mudança. Porém, no começo estava um pouco assustado com tudo isso. Eu nem conhecia pessoalmente as pessoas com quem estava lidando. Não tinha visto o rosto deles, só no Whatsapp. Mas se eu dissesse não, me arrependeria por não ter tentado. Gosto de experimentar. Estou feliz por tomar a decisão.

BRMX: Você já teve esta experiência em outro país?
Matiss Karro: Já fui com o time (da Inglaterra) para os Estados Unidos para fazer pré-temporada de um mês, mas é diferente. A maior experiência neste sentido foi quando saí da Letônia com 16 anos para morar na Inglaterra. Este foi um grande passo. Estava sozinho lá na Inglaterra e isso me assustou um pouco. Mas eram apenas três horas de voo para casa. Era na Europa. Agora é um passo muito maior, são 15 horas de viagem da Letônia para chegar ao Brasil. Quando eu estava na Inglaterra, podia passar uma semana em casa, na Letônia, tranquilamente. Agora preciso programar tudo.

BRMX: Você está sozinho aqui ou trouxe família?
Matiss Karro: vim sozinho. Preciso ver como as coisas são, ficar aqui esta temporada. Quem sabe minha namorada venha no futuro. Mas acho que assim posso me concentrar mais nas corridas e aprender como as coisas funcionam aqui.

 

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Matiss Karro conhecendo o Brasil – Fotógrafo: Tiago Lopes

 

BRMX: Como têm sido os primeiros dias?
Matiss Karro: Agora tudo é novo. O clima é muito diferente, 18 a 20 graus mais quente. Estou vivendo com o mecânico e mais dois pilotos da MX2, e cada um tem seu quarto, estamos nos dando bem. Temos ainda dificuldades para conversar porque eu ainda não aprendi português e eles tem um pouco de dificuldade com inglês. Mas não chega a ser um problema, eu que fico um pouco mais quieto, tentando aprender, tentando comunicar. Quero aprender português para ter mais contato com as pessoas. Gostei das pessoas aqui no Brasil, são muito receptívas e gentis. Mesmo antes, quando vim correr o GP aqui, gostei muito do país e das pessoas. Quero fazer novos amigos, tornar a vida mais interessante.

BRMX: Você já conhece os pilotos que vão correr contra você aqui?
Matiss Karro: conheço o Campano, vi ele correndo na Europa. Conheço Chatfield, mas o restante não conhecia antes. Estou treinando com Hector (Assunção), meu companheiro de equipe. Mas, sendo honesto, eu não seguia os campeonatos do Brasil antes, então não conheço os pilotos ou as pistas, nem as cidades. Tudo é muito novo. Vai ser interessante.

BRMX: Já é possível comparar o motocross do Brasil com o da Letônia?
Matiss Karro: Letônia tem apenas 1,8 milhão de pessoas, o que é muito pequeno. Então, fica difícil comparar. Se pensarmos neste 1,8 milhão e, proporcionalmente o número de pilotos, sim lá o esporte é grande. Aqui no Brasil, o que ouvi de outras pessoas é o que o esporte é pequeno, porém é profissional em muitos pontos, com boas equipes, bons pilotos. É difícil comparar dois países tão diferentes. Na Europa ou nos EUA, o esporte tem um nível muito alto. Mas acho que o esporte no Brasil está crescendo. Pelo menos na minha equipe estou recebendo muitos questionamentos de como se pode melhorar as motos, as corridas, tudo. Isso é bom. O time escuta, está interessado em saber o que um piloto acostumado com o Mundial de Motocross tem a dizer.

BRMX: E a moto que você tem aqui no Brasil tem a mesma qualidade da que você tinha na Europa?
Matiss Karro: é a mesma moto, mas temos que fazer alguns ajustes. Tenho ajuda da Europa para ajudar o time todo com motor e suspensão. Estamos esperando as 2017 chegar para começarmos com estes contatos na Europa, que já trabalharam com as 2017 por lá. Eles vão nos ajudar com muitas informações.

 

Matiss ainda com moto 2016 – Fotógrafo: Tiago Lopes

 

BRMX: Você sabe que alguns fãs reclamam quando pilotos estrangeiros vêm correr no Brasil. O que você acha disso?
Matiss Karro: eu acho que eles deveriam ficar felizes com a vinda de estrangeiros. Isso torna o esporte mais competitivo e mais atraente. O nível está subindo. Ok, talvez seja difícil para alguns pilotos, talvez a vida deles se tornou mais difícil agora, mas é preciso olhar para frente, alguns anos no futuro. Os pilotos brasileiros vão ficar mais velozes, o nível vai crescer. Talvez, em poucos anos teremos brasileiros correndo no Mundial ou no AMA. Entendo quem não goste, respeito o que eles pensam. Mas acho que o nível vai crescer e mesmo estas pessoas que não queriam a vinda de estrangeiros, vão entender e aceitar isso. Em todas as situações você pode encontrar o lado bom e o lado ruim. Eu sou positivo. Gosto de ver o lado bom.

BRMX: Como estão seus tempos em comparação com Hector?
Matiss Karro: estamos treinando juntos, mas não estamos comparando muito ainda. Estamos esperando as corridas começar. Quero ir para as corridas, ver como são as pistas, os outros pilotos, as pessoas, e sentir o que eu preciso mudar, o que preciso fazer na moto. Respeito todos os pilotos e sei que não será fácil. Mas estou me preparando para estar na melhor forma.

 

Matiss Karro – Fotógrafo: Danyllo Proto

 

Karro corre com o número 91 – Fotógrafo: Danyllo Proto

 

Piloto já conhece Campano e Chatfield de outras pistas – Fotógrafo: Tiago Lopes