Huntington Beach (Califórnia) – Na noite de sexta-feira, 6 de janeiro, postei no meu Facebook algo que dizia mais ou menos assim “Em 2011 eu pude visitar alguns lugares do mundo que eu nunca tinha ido antes, porém, nada me deixou mais excitado do que ir a Anaheim, em menos de 24 horas“, e isso era a mais pura verdade.
Acordei cedo sábado de manhã, pensando na corrida e em todas as variáveis que poderiam acontecer naquela noite. Infelizmente, tive uns compromissos inadiáveis durante o dia e acabei perdendo os pits e os treinos, chegando somente a tempo para as provas finais. Mas, acompanhei os treinos cronometrados durante todo o dia pela internet.
Chegando à Anaheim, um dos primeiros conhecidos que encontrei por lá foi o fotojornalista Idário Café, que logo me informou que o brasileiro Jean Ramos tinha se classificado para as corridas da noite com o 27º tempo. Isso me deixou extremamente feliz.
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A pista
Traçado longo e travado de A1 gerou reclamações entre pilotos – Foto: Frank Hoppen / KTM Images
No ano passado, os pilotos reclamaram bastante do traçado de várias pistas, principalmente nas primeiras etapas, e neste ano, Anaheim I não foi diferente. A pista foi longa e bem travada, fazendo o tempo das voltas ultrapassarem a um minuto. Stewart declarou que foi o Anaheim com o solo mais “bruto” que já correu, e Reed disse que estava tentando buscar motivação para correr numa pista como aquela. Além de que praticamente todos os pilotos estavam insatisfeitos por não terem muitas linhas de ultrapassagem. Para completar, a pista exigiu bastante dos times, com o acerto correto da suspensão e também da escolha de pneus.
Como espectador e “analista” do esporte, eu tenho que concordar com os pilotos, mas, acho que de certa forma isso foi bom para a primeira corrida do campeonato, pois esta pista literalmente fez os pilotos “pisarem no freio”, tendo uma primeira etapa relativamente segura, sem grandes contusões entre os principais pilotos. Não esqueçam que em 2011, Anaheim I foi o início e o fim para o ano de Josh Grant, Jimmy Albertson e Will Hahn.
Eu sei que eu já repeti isso antes, quando falei do Las Vegas Supercross, porém, em sete anos na America, só perdi uma corrida em Anaheim e nunca vi o estádio lotado de tal maneira – eram exatos 45.050 espectadores, de acordo com a organização. Mesmo que praticamente todos os anos eles anunciam que os ingressos estão esgotados, você facilmente encontra tickets para comprar de cambistas ou até mesmo nas dependências do estádio. Porém nesse ano, os poucos cambistas que ainda tinham ingressos, os vendiam por quase 200 dólares.
As provas
Cole Seely correu longe dos holofotes, mas o suficiente para vencer a primeira etapa do ano – Foto: Frank Hoppen / Feld
Repetindo o desempenho intimidador do Monster Energy Cup, Ryan Villopoto ganhou a prova colocando mais de 18 segundos sobre Chad Reed, que ficou no segundo posto. Ryan Dungey, a bordo da nova KTM 450 SX-F, conquistou o terceiro lugar do pódio – seu primeiro para a história da fábrica austríaca na classe principal. Justin Brayton e Jake Weimer fizeram uma prova consistente para finalizar a frente de um frustrado e “old-fashion” James Stewart.
Na Lites, mesmo provando em 2011 que sabe como ganhar provas, Cole Seely esteve fora dos holofotes durante a maioria da pré-temporada. Mesmo não sendo apontado como um dos favoritos, ele venceu a prova de uma forma convincente passando duas Monster Energy Kawasakis para ganhar a corrida que abriu a temporada. Seely foi seguido por Tyla Rattray, Eli Tomac e Marvin Musquin. Dean Wilson – que ao lado de Tomac – era apontado como o favorito, teve uma corrida apagada, errando na última volta e perdendo três posições.
Os fatos
No duelo de nervos com Dungey, Bubba levou a pior e ficou somente com o sétimo lugar – Foto: Frank Hoppen / KTM Images
James Stewart: Bubba começou o ano, mais ou menos da mesma forma que terminou a temporada passada. Mais uma vez era o favorito, mas mesmo nos treinos livres não conseguiu bater Villopoto.
Não era novidade pra ninguém que James não tinha se acertado na Yamaha nos dois anos anteriores, mas assim como Ryan Dungey e sua KTM, todos estavam ansiosos para ver se os testes e novos equipamentos adquiridos e literalmente fabricados pela JGR iriam funcionar.
Dentre as principais mudanças visíveis na moto de Bubba, podemos citar o reposicionamento do motor – o que aparentemente transfere quase um quilo para a dianteira da moto –, o uso de suspensão Showa ao invés das tradicionais Kayaba que equipam as Yamahas há muitos anos, a construção de um tanque em alumínio mais estreito e aletas dos radiadores mais finas, que se rasgaram como papel depois da queda de James nos blocos de espuma.
Apesar de todas as mudanças e testes, James não parecia estar em sua velha forma, principalmente logo após passar Dungey, James parecia estar com problemas – provavelmente arm-pump –, o que permitiu que Dungey encostasse e o passasse sem grandes dificuldades. Mesmo que Stewart ainda recuperasse a terceira posição, a pressão de Dungey e os velhos hábitos stewartianos lhe proporcionaram uma queda que lhe deixou somente na sexta posição na abertura do campeonato.
Ryan Villopoto: Ryan mostrou o “porque” do número #1 envolvido por um background vermelho. Ele bateu o tempo de Bubba nos treinos e, apesar de um “mero” terceiro lugar na sua classificatória, teve uma excelente largada na final, para assumir a primeira posição e não olhar mais para trás. Confiante, rápido e eficaz, Ryan se mostra como o piloto que ditará as regras nesta temporada. Vale lembrar que a Kawasaki de Ryan estava novamente equipada com escapamentos Pro Circuit no lugar de FMF, como no ano anterior.
Ryan Villopoto esteve impecável no Main Event em A1 – Foto: Frank Hoppen / Feld
Chad Reed: O veterano e piloto/proprietário da Two Two Motorsports se mostrou sólido e consistente durante toda a noite. Depois de ter o quarto tempo nos treinos classificatórios, Reed ganhou a sua corrida classificatória com certa tranquilidade e permaneceu na segunda posição durante quase toda a corrida, se defendendo bem dos ataques de Dungey e Bubba, mesmo após uma pequena queda. Reed, que é conhecido também como o “Sr. Consistência”, aos meus olhos começa a temporada com um saldo bem positivo, tendo em vista que teremos mais 16 corridas pela frente.
Ryan Dungey: Para começar a falar de Dungey, eu gostaria de lembrar de 2009, quando a Honda implantou o seu novo modelo da CRF450, e em 2010, ano em que a Yamaha estreou com Bubba Stewart as novas 450cc, com inovações nunca vistas antes e que saíram um pouco dos padrões convencionais do motocross, correndo riscos e tentando refrescar o competitivo mercado. Essas duas marcas tiveram seus sucessos, porém ainda hoje, pilotos e equipes precisam investir milhares de dólares em busca de melhores ajustes, que dêem mais segurança e desempenho aos seus pilotos e ao consumidor final.
Mais do que uma simples mudança de modelo, Ryan Dungey trocou de time, substituiu cores, apostou em algo incerto, investindo sua carreira numa moto que ainda deveria ser produzida e testada, tudo isso no período de dois meses. Não há duvidas que o principal motivo da ida de Ryan Dungey para a KTM foi o seu mentor Roger Decoster, além da promessa da fábrica austríaca fazer o que for necessário para desenvolver o equipamento ideal para que Ryan se sinta confortável pilotando a sua nova moto.
No último fim de semana, Dungey mostrou que esses dois meses de trabalho duro de desenvolvimento estão dando frutos. Por mais que ainda não estava no nível de Ryan Villopoto, Dungey tirou a diferença para Chad Reed, além de pressionar e passar Bubba na disputa pela terceira posição. Dungey fez o que por muito tempo para muitos parecia ser algo impossível, pondo pela primeira vez a KTM no pódio da categoria principal do supercross norte-americano.
Depois de um 2010 vitorioso, Dungey decidiu se reencontrar com seu mentor, desta vez na KTM – Foto: Frank Hoppen / KTM Images
Christian Craig: Por intermédio de um amigo, descobri que o piloto Christian Craig, da TLD Honda, fraturou um dos braços quando encavalou a sua CRF em um duplo na parte de trás da pista. Apesar do piloto não ter caído, ele abandonou a prova por conta da fratura.
Jean Ramos: Tenho que admitir que não assisto ao campeonato brasileiro de motocross há muitos anos. Mesmo sabendo que o esporte tem evoluído muito no país nos últimos tempos, é difícil de ter uma noção da diferença do nível entre os pilotos brasileiros e norte-americanos. Com certeza há um conjunto de fatores enorme que tem diferenciado o esporte nestes dois países, tais quais, o acesso a certos equipamentos, a presença direta das fábricas em certas equipes, além da presença de treinadores, que além de recomendar exercícios físicos, contribuem com a nutrição, treinos e até sobre o estado psicológico do piloto.
Jean Ramos chegou aos Estados Unidos com um futuro um tanto quanto incerto, principalmente quando recebeu um telefonema da Honda Brasil – equipe pela qual foi campeão brasileiro MX2 em 2011 – dizendo que o seu contrato não seria renovado em 2012.
Com uma estrutura no mínimo “provinciana”, Jean se mostrou um piloto maduro e agressivo, não se intimidando pelas quase 45 mil pessoas que o observavam. Ele teve uma classificatória que eu avaliaria como ótima, apesar da queda na primeira curva. Na LCQ, alinhando ao lado de pilotos como Ryan Sypes e Eli Tomac, conseguiu a 13ª posição, tendo uma largada não tão fenomenal quanto na primeira Heat.
Vale salientar que o nível competitivo da Listes na Costa Oeste é tão alto que nomes consagrados como Mike Leib, Nick Paluzzi, Scott Champion, Gareth Swanepoel, Adam Chatfield, Chris Plouffe também não se classificaram para a final.
Eu não tenho dúvidas que dentre estas seis corridas que Jean planeja disputar, ele chegará a sua meta, que é estar na final entre os 20 melhores pilotos da Costa Oeste. Que isso sirva de vitrine para os times brasileiros que estão em busca de um campeão nacional. Boa sorte Jean!
Jean Ramos fez bonito em sua estreia no AMA Supercross 2012 – Foto: Arquivo Pessoal
Rápidas
McGrath/Brooks Team: Finalmente vimos as cores do time que tem apoio da Factory Honda e como o principal patrocinador o website Supercross.com. Andrew Short teve uma excelente largada na Heat Race, liderando a prova por algumas voltas, porém, no Main Event, andou de trás pra frente e terminou a prova na sétima posição, onde mais ou menos terminou o ano passado.
Trey Canard: Trey era uma grande dúvida para Anaheim I, porém, a Honda decidiu poupar o piloto para a primeira etapa. Mesmo liberado pelo médico para voltar aos treinos, Trey treinou com a moto somente por dois dias antes da corrida e por isso o time decidiu que seria mais prudente esperar algumas semanas antes dele alinhar no gate.
Monster Energy Cup: Além da definição da data do Monster Energy Cup 2012 para 20 de outubro de 2012, a empresa confirmou o fechamento do contrato de patrocínio do AMA Supercross até 2016.
Lake Elsinore: Há algumas semanas, fiz um comentário sobre a reinauguração da pista de Lake Elsinore, que estava fechada há uns bons dois anos. Pois, um passarinho verde me contou que na semana passada a direção da pista fechou o contrato com a Alli Sports para sediar a última etapa do AMA Motocross 2012. Se é verdade, ainda eu não sei, mas, os rumores estão grandes sobre esta possibilidade.
GP Brasil 2012: Outro passarinho verde me contou que a data do GP Brasil de Motocross será alterada mais uma vez. Ela passará de maio para julho, da quarta para a sétima etapa do Mundial de Motocross FIM 2012, o que me leva a entender que a data do GP do México também deverá sofrer alterações.
Legalize it: Na semana passada, a KTM apresentou sua mais nova “obra-prima”, chamada de KTM 450 SX-F “Factory Edition”. Basicamente, para Ryan Dungey poder correr com essa moto no AMA, a KTM deve comercializar pelo menos 200 modelos da mesma. Esse novo modelo vem de fábrica com o quadro laranja, nova mesa de alumínio, cabo para programação de injeção eletrônica, novas aletas de radiadores, paralama dianteiro e number plate, nova balança, novo eixo traseiro e um novo motor com injeção eletrônica, além dos desejados gráficos da Red Bull. O modelo chegará aos showrooms no início de fevereiro.
Frase da semana
You can’t think your way into a new way of living…you have to live your way into a new way of thinking (Você não pode continuar pensando do seu jeito vivendo de uma nova maneira. Você tem que viver do seu jeito dentro de uma nova maneira de pensar).
Eduardo Erbs em Anaheim