Danny LaPorte ajudou os Estados Unidos a fazer a transição de azarão para o país líder no mundo do motocross. O piloto de Los Angeles alcançou o título do AMA nas 500cc em 1979, antes de se tornar o primeiro norte-americano a vencer o Mundial de Motocross, desta vez na categoria 250cc, no ano de 1982. LaPorte também foi uma peça importante no primeiro título da equipe americana no Motocross das Nações, em 1981.
Nascido em 3 de dezembro de 1957, seu pai era um motociclista entusiasta do off-road, e o jovem Danny cresceu pilotando no deserto e em inúmeras pistas informais de motocross e terrenos baldios perto de sua casa em Torrance, Califórnia.
– Eram o final dos anos 60, início dos 70 – explica LaPorte. – Existiam cinco ou seis pistas a apenas meia hora de carro da minha casa. Como as motos de dois tempos não eram caras, houve uma explosão do motocross naqueles tempos. Foi um lugar e um período muito excitantes para crescer.
LaPorte começou disputando eventos de motocross em corridas locais quando tinha 11 anos. No começo ficou um pouco intimidado por estar na pista com os outros corredores, mas logo cedo descobriu que o esporte era algo natural para ele. Ele era tão bom que não demorou muito para se tornar um dos melhores jovens pilotos do sul da Califórnia, em meados da década de 70.
Aos 16 anos, LaPorte se profissionalizou, correndo os eventos locais da CMC, e começou a ganhar dinheiro.
– Meu primeiro prêmio em dinheiro foi em Indian Dunes, 65 dólares – relembra. – Achei que já podia me aposentar ali mesmo.
Talvez as vitórias estivessem acontecendo com muita facilidade, ou LaPorte estava procurando novos desafios – algo que seria um tema recorrente durante sua carreira. Seja o que for, ele estava entediado e cansado de competir aos 17 anos de idade.
Uma viagem para Snake River Canyon, no estado de Idaho, para ver os saltos alucinantes do dublê e motociclista Evil Knievel mudou toda sua perspectiva.
– Havia uma corrida de motocross acontecendo em conjunto com a exibição de saltos, e o prêmio em dinheiro era de 100 mil dólares – diz Danny. – Assisti Marty Smith vencer a corrida de 125 cilindradas e não podia acreditar. Corri contra ele e sempre ganhava, e agora o via ganhando muito dinheiro pela vitória. Fiquei feliz por ele e aquilo me inspirou novamente – conta.
Depois da viagem para Snake River, LaPorte pensou sinceramente em voltar a correr, e ao retornar começou a ganhar mais do que antes. Ganhou tantas corridas no circuito do sul da Califórnia que recebeu uma ligação da Suzuki no final de 1975, convidando ele para correr pelo time da montadora na temporada seguinte. Ele aceitou a oferta e em 1976 estreou no AMA National Motocross Series na categoria 125cc.
– Existia um movimento dos fabricantes em dar espaço aos pilotos mais jovens naquele ano – lembra LaPorte. – Comecei naquela temporada, ao lado de caras como Bob Hannah, Broc Glover e Jeff Ward. Todos eles corriam nas pistas do sul da Califórnia – lembra.
A épica estreia de Bob Hannah acabou ofuscando o começo de LaPorte no campeonato, mas por muitas vezes ele se intrometia nas batalhas entre Hannah, Marty e Smith, e acabou vencendo duas das oito etapas das 125 disputadas naquele ano.
Sua vitória em Houston, no mês de agosto, marcou não só sua primeira conquista em âmbito nacional, como também a primeira vitória na história da equipe Suzuki nas 125cc. Ele terminou a temporada de 76 com um sólido terceiro lugar na classificação geral (apenas um ponto atrás do segundo colocado).
LaPorte voltou no ano de 1977 e quase ganhou o título nacional com a Suzuki. Talvez no final de temporada mais famosa na história do AMA Motocross, a Yamaha usou uma polêmica estratégia de equipe na última prova para que Broc Glover vencesse o título.
O campeonato terminou com Glover e LaPorte empatados em pontos. Glover levou a taça com vantagem no número de baterias vencidas, mas a maneira como a equipe Yamaha o ajudou a vencer a última bateria tornou-se parte do folclore do esporte.
LaPorte explica:
– A última corrida da temporada era em San Antonio,Texas. Glover e eu estamos virtualmente empatados, e chegaríamos assim à última corrida. A Yamaha tirou todos seus melhores pilotos das outras categorias, e eles foram deslocados para correr as 125. E eles ainda alinharam ao meu lado nas duas baterias.
– Naturalmente, nas duas largadas fui empurrado para fora, e quando consegui me desvencilhar do tráfego, Hannah e Glover já estavam muito na frente. Glover ainda tinha de vencer a última bateria e Hannah estava bem à frente dele na corrida. Bob não gostava de dar a passagem para ninguém, e como ele era muito teimoso, a Yamaha entrou em pânico. Na última volta eles colocaram a infame (e escrita incorretamente) placa de pit stop onde se lia ‘Deixe Broc Pasar (sic)’. Hannah finalmente colocou de lado e deu a vitória para Glover, e foi assim que eles ganhar o campeonato.
Apesar da maneira controversa com que LaPorte perdeu o título, ele seguiu sem rancores contra a Yamaha.
– A estratégia que eles montaram foi a mais esperta – disse LaPorte. – Eles só cometerem um erro ao colocarem aquela placa para todo mundo ver.
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Em 1978, LaPorte passou para a categoria das 500 cilindradas, ainda com a Suzuki. Ele ganhou a primeira etapa da temporada, e teve outros bons resultados, mas uma sequência de problemas mecânicos resultaram em uma quinta posição geral ao final do ano.
Em 1979, LaPorte continuou pelo quarto ano com a Suzuki e conseguiu se vingar da Yamaha ao vencer Mike Bell na batalha pelo título das 500cc do AMA. Danny venceu três corridas seguidas para chegar ao seu único campeonato nacional. Reconhecido sempre como um especialista em corridas de motocross, LaPorte alcançou pela primeira vez o Top 10 no AMA Supercross naquela temporada, terminando em nono.
A campanha de 1980 foi bastante decepcionante para LaPorte, na qual ele passou a maior parte do tempo tentando – em vão – encontrar a combinação que o levou ao título das 500cc.
Houve lampejos de brilhantismo – LaPorte ficou em segundo no Grande Prêmio de Carlsbad e ganhou a etapa de St. Petersburg, na Flórida – mas na maior parte da temporada ele sofreu bastante. Ele acabou o ano na sétima posição do AMA nas 500cc. A prova em St. Petersburg ficou marcada como a sua última vitória nacional no AMA.
Em 1981, Roger DeCoster foi para a Honda para trabalhar como consultor da equipe, e conhecendo o talento de LaPorte, o convenceu a entrar na equipe também. LaPorte conseguiu quatro pódios e terminou em quarto no campeonato nacional (novamente nas 500cc). Foi sua primeira temporada sem nenhuma vitória.
Parecia que 81 seria outro ano esquecível para LaPorte, mas isso foi antes de, com seus companheiros de equipe Chuck Sun, Johnny O’Mara e Donnie Hansen, viajarem para a Alemanha para a disputa do Motocross das Nações.
LaPorte foi um dos líderes do time que finalmente trouxe a primeira vitória do evento internacional para os EUA. Esta vitória foi talvez a mais importante na história do motocross norte-americano. Foi um marco para o esporte no país e provou que os americanos tinham dominado o motocross, que havia sido trazido por europeus para a América do Norte uma década antes.
O sucesso deles no Nações inspirou LaPorte. Mais uma vez, ele procurou novos desafios e perguntou para a Honda se eles não teriam alguma vaga na equipe da fabricante que disputava o Campeonato Mundial. Infelizmente, o time já estava completo. Porém o consultor de corridas da Yamaha na Europa, Heikki Mikkola, falou com LaPorte depois do Nações sobre uma possível vaga em sua equipe. O acordo foi feito e em 1982 e Danny foi para a Europa tentar vencer o Mundial da categoria 250 cilindradas.
– Sempre foi um sonho meu correr no Mundial – explicou. – Mesmo que eu pudesse ter ganhado o dobro de dinheiro correndo o campeonato nacional americano, eu sabia que oportunidades assim não aparecem com frequência, e queria correr o risco.
E acabou sendo a melhor direção possível para a sua carreira. Correndo pela Yamaha, ele chocou os europeus, vencendo cinco corridas – incluindo quatro seguidas – e tornando-se o primeiro americano a triunfar no Mundial de Motocross na categoria 250 cilindradas.
Danny chegou ao título semanas depois da vitória sofrida de Brad Lackey no campeonato das 500cc, também inédita para pilotos dos EUA. Os títulos de ambos ajudaram a solidificar os pilotos americanos na comunidade do motocross de todo o mundo.
A campanha de LaPorte no Mundial de 82 foi o clássico caso de “azarão”. Ele concorria com o altamente favorito e campeão mundial Georges Jobé, além de um elenco de outros talentosos e experientes pilotos de primeiro nível. A temporada começou devagar para ele, mas no meio do campeonato sua confiança foi aumentando, principalmente ao vencer a segunda bateria do grande prêmio da República Tcheca (antiga Tchecoslováquia). Sua primeira vitória num grande prêmio veio na França. Em seguida repetiu a dose no GP da Grã-Bretanha. Mas a mudança mesmo aconteceu nas areias da Holanda.
LaPorte deixou para trás os especialistas naquele tipo de pista e venceu as duas baterias, levando o tetracampeão Heikki Mikkola a declarar:
– Hoje eu vi um piloto de motocross. Danny fez uma corrida perfeita, sem nenhum erro. Nunca vi nada melhor que isso.
Os europeus rapidamente tornaram-se fãs de ‘Danny O Porta’ (LaPorte significa porta em francês), e ele se adaptou facilmente ao estilo de vida do velho continente. Adaptou-se tão bem que passou a morar na Europa até boa parte dos anos 90.
Vídeo da Yamaha de 1982 mostra lances do ano em que LaPorte ganhou o Mundial de 250cc
Apesar de vencer três GP’s em 1983, ‘O Porta’ perdeu o título das 250cc para Jobé. Então ele tentou correr nas 500 cilindradas, mas com um equipamento inferior não conseguiu competir de igual para igual.
LaPorte queria tentar correr campeonatos internacionais de rally, porém até aquele período pilotos de motocross não eram bem sucedidos ao tentarem esta transição. Com isso, nenhuma equipe de ponta teve interesse em contratá-lo.
Danny voltou para os Estados Unidos e começou a correr para a Kawasaki em eventos de cross-country. Conseguiu um sucesso imediato, ganhando a famosa Baja 1000 por três anos consecutivos, sempre em parceria com a montadora japonesa.
Desta maneira as equipes europeias de rally entraram em contato, e durante boa parte da década de 90 LaPorte viveu na Europa e disputou eventos desta modalidade. Ele obteve sucesso, conseguindo em 1992 vencer uma etapa e terminar em segundo na classificação geral do Rally Dakar – correndo pela Cagiva.
Vivendo no exterior, LaPorte colaborou na fundação da “FMF Racing’s European Operations”. Em 1997, ele e sua família retornaram para o sul da Califórnia. Ele continuou a pilotar e ainda tentou um retorno ao AMA Motocross em 2002, porém um acidente durante um treino e uma fratura na perna atrapalharam seus planos.
Danny LaPorte sempre será lembrado como um dos pilotos mais inspiradores do período em que os americanos passaram de meros competidores para campeões mundiais.