NOTA DA REDAÇÃO: os catarinenses Lucas e Bruna são leitores do BRMX e loucos por motocross. Recentemente, eles fizeram um esforço danado para ver duas etapas do Mundial MX na Europa. Agora, Lucas nos conta os detalhes desta jornada. Leia e fique com vontade de fazer o mesmo!
Normalmente, casais pensam em fazer uma viagem para Europa apenas para conhecer pontos turísticos ou fazer compras de roupas e acessórios de grifes. A nossa aconteceu por causa de um sonho e um propósito diferente.
Meu nome é Lucas Marcelo Decker, tenho 20 anos, moro em Massaranduba, Santa Catarina, trabalho como mecânico de motocicleta na Schumi Motos (a quem tenho muito a agradecer). A minha namorada e companheira de viagem é Bruna Leticia Rohweder, também 20 anos, também de Massaranduba, e trabalha na Sivalski (mais conhecida como Gatabakana). Nós dois gostamos de motocross desde crianças.
Sempre assistimos ao AMA Supercross/Motocross e ao Mundial de Motocross juntos. Fomos a todas as recentes etapas do Mundial no Brasil, mas o sonho sempre foi ver Ryan Villopoto acelerando na nossa frente.
Por isso, quando foram anunciados os nomes e números dos pilotos da MXGP 2015, me arrepiei ao ver o primeiro da lista! Pensei: tranquilo, vamos até Goiânia ver RV2! Mas, a etapa brasileira foi cancelada.
Foi então que decidimos fazer uma loucura: vendemos o carro e uma moto de trilha, começamos a economizar, e compramos as passagens para Itália e Alemanha, principalmente com a ideia de ver Villopoto de perto.
Quando chegou o dia da viagem, já sabíamos que RV2 não estaria presente nas etapas que estávamos indo assistir (nona e décima) porque ele se machucou na quarta rodada. Mas, enfim, ainda teríamos muito a conhecer.
Bem nervosos, pois era nossa primeira vez fora do país, viajamos. De cara, ficamos impressionados com o trânsito na Itália, em Milão, com muitos carros e muitas, muitas motos mesmo! Gente engravatada andando de moto (a maioria em um tipo de scooter, mas com todas cilindradas imagináveis, desde a 50cc dois-tempos, a 1.200cc quatro-tempos, e acredite, tem umas com escapamento Akrapovic).
Rumo a pista
Sabíamos que Maggiora era uma cidade pequena e longe das demais, então alugamos um carro para facilitar as coisas. Mas, chegando na cidade, percebemos que a CIDADE ERA A CORRIDA! Isso mesmo, a cidade se modifica toda, ruas e passagens, por causa da corrida! Achei incrível! Mas quando chegamos ao evento e estacionamos o carro, começou o espetáculo de verdade. Era só gente com motosserra sem corrente, com numberplates amarrados, fazendo uma barulheira. Percebemos que os europeus são muito fanáticos pelo esporte já na chegada. Muita piração!
Chegamos com nossas credenciais impressas em uma folha, com a bandeira do Brasil enrolada no corpo. E não tenho palavras para descrever o quão bem recebidos nós fomos. Inexplicável!
Visitando o paddock, vendo as motos, os pilotos, escutamos o pessoal passando e falando: “Braziliano…Braziliano”, até que chegamos em um box da Yamaha (não das motos de corrida, mas sim a linha 2016). Estava chuviscando e a maioria dos boxes estavam fechados com lona transparente. O pessoal tirava foto como dava, do plástico mesmo, mas na Yamaha, apareceu uma pessoa e falou em inglês para nós: “Ei, vem aqui dentro tirar foto”. Achamos estranho ir, mas ele nos puxou pra dentro, ofereceu café, mostrou as motos da edição de 60 anos. Fomos muito bem recebidos.
Motos na pista
Quando as motos foram para a pista, era só o locutor falar nos nomes italianos pra fazer o público ir a loucura! As motosserras não paravam, as cornetas não paravam, todos loucos para ver uma única coisa: motos na pista! Uma diversão pra eles, um espetáculo para o evento!
Foi show, mas fomos embora um pouco antes do fim porque começou uma trovoada, e nós estávamos só de camisa e bandeira. Saímos a procura de um hotel na cidade vizinha, Borgomanero, uma cidadezinha de 20 mil habitantes, muito bonita por sinal. Nela há duas ruas em forma de cruz, onde têm infinitas lojinhas de roupas, eletrônicos, restaurantes e pizzarias.
Acordamos bem cedo no domingo e chegamos ao evento às 6h58 da manhã, mas não demorou muito para começar uma nova trovoada e tivemos que correr para debaixo do túnel que o público passava para ter uns acessos ao lado da pista, e foi lá que ficamos boa parte da manhã, e perdemos a segunda bateria do Europeu de 125 e 250, que é muito legal e muito disputado também (e acontece em paralelo a algumas etapas).
Com a parada da chuva, pudemos caminhar pelo box. Acabei encontrando um amigo mecânico, o Antoine Cancian, que trabalhava com o Villopoto. Conversamos um tempo sobre trabalho, viagens, corridas, economia, mas o que estava me coçando para saber era sobre o Villopoto, se iria correr ainda, se ia parar, se ele estava animado em fazer o Mundial, até que veio uma resposta: “Sim, sim, ele está bem animado com o Mundial, com equipamentos novos, e apesar de falar pra imprensa que vai andar somente esse ano, tem o contrato com a Kawasaki por dois anos“, disse.
Nos olhamos espantados e com sorriso de orelha a orelha! Havia uma esperança! Mas agora, sabendo da aposentadoria do RV2, só tenho a lamentar que esta informação não se concretizou.
Quando largou a MXGP, surpresa para todos: David Phillipaerts venceu a primeira bateria para o delírio do público! Imagine aquelas motosserras roncando e o pessoal fazendo a maior festa! Foi bem assim.
Brasileiros se encontram
Indo embora, encontramos Nicola (mecânico brasileiro que já trabalhou na Europa e recentemente com Carlos Campano no Brasil). Acho que todos do mundo das motos o conhecem: gente fina, muito simples. E, conversa vai e vem, ele contou que fez a mesma coisa que nós: vendeu o carro e foi para a Europa. Combinamos de nos encontrar na Alemanha, uma semana depois, para a nona etapa do Mundial.
Na Alemanha
Fomos de avião da Itália para Alemanha. Mas chegamos um pouco tarde, alugamos um carro, e quando fomos tentar pegar um hotel, ficamos sem pois o único da cidade (Teutschenthal) fechava às 21h. Passamos uma noite gelada dentro do carro. No outro dia fomos até Berlim de carro. Percorremos 195 quilômetros em, acredite, 1h25min!
Teutschenthal, a cidade da corrida, é muito bonita. Na Alemanha, é tudo plano, com plantações e muito, muito Aerogerador (energia eólica). Na sexta-feira, fui para o evento e tudo pareceu mais tranquilo que na Itália. Fui aproveitando e dei uma volta para conhecer tudo. Entrei na pista, falei com mecânicos. Foi quando o nosso mecânico “brazuca” da Honda, Marcus Freitas, me viu e chamou pra conversar. Ele comentou que estavam testando uma nova suspensão e que na próxima etapa (Suécia) iriam utilizá-la.
No sábado, a galera das motosserra apareceu novamente, todos indo em direção ao box de Max Nagl pra fazer a festa. E, com as motos na pista, a festa foi ainda maior. Nós achamos essa pista muito rápida (depois fiz o download das corridas na internet e, assistindo pela TV, parece mais lento).
Muitos pilotos acabaram “quebrando” nessa etapa, uma pena, pois um deles era o favorito do público e o líder da MXGP, exatamente o Max Nagl. Mas, mesmo assim, as corridas foram super legais, tanto na MX2 quanto na MXGP.
Na MX2, Tim Gajser foi o grande nome. Estava andando super seguro, muito rápido. Valentin Guillod acabou “virando” mais rápido durante as provas, mas acabou deixando seu psicológico ser abalado na segunda bateria.
Na MXGP, o “buraco” foi mais abaixo. Dean Ferris, Tony Cairoli, Gautier Paulin, Romain Febvre e Evgeny Bobryshev! Muita “paulera” com ultrapassagens e saltos incríveis. A segunda bateria valeu os ingressos e a viagem! No final, deu Febvre!
O campeonato não acabou ainda. Não só a Honda, mas todas as equipes devem trazer melhorias e novidades para as etapas finais, fazendo assim o esporte ficar cada vez mais seguro e tecnológico.
Pra nós, fica a ótima experiência. Recomendamos a todos irem em uma etapa dessas. Duro agora é acordar para realidade!
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