OPINIÃO: BRMX Analytics avalia primeira etapa do Brasileiro de Motocross 2014

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Área de box foi destaque pelo segundo ano consecutivo – Foto: Elton Souza / BRMX

 

Dez dias depois de presenciar a etapa de abertura do Brasileiro de Motocross 2014, realizada em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, nos dias 12 e 13 de abril, o BRMX Analytics começa sua temporada apresentando os altos e baixos do evento.

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Assim como no ano passado, quando esta série de análises começou, a intenção é mostrar um pouco mais dos bastidores de uma prova, analisando a organização dos eventos.

 

:: Pista

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Vista aérea – Foto: Divulgação

 

O tratamento da pista foi um dos pontos altos da etapa de abertura. Previamente, a organização colocou bastante areia na maioria das curvas do circuito, o que ajudou a manter o solo macio, formando canaletas e buracos. Isso fez com que a pista, apesar de pequena, ficasse técnica e difícil.

Por que uma pista técnica e difícil é importante? Para que os pilotos brasileiros melhorem suas técnicas de pilotagem. Muitos sentiram dificuldades para vencer os buracos e canaletas, e terão que treinar mais e se esforçar mais para chegarem preparados nas próximas etapas. Além disso, os mecânicos também precisam trabalhar mais no acerto da moto. A longo prazo, isso elevará o nível do motocross no Brasil.

Mas faltou algo na pista. Saltos e largura. Ela está em um lugar plano, sem subidas e descidas, então seria recomendável que os construtores tivessem investido em rampas grandes (duplos, triplos). Apenas uma mesa grande e duas pequenas proporcionavam saltos. O público gosta de ver as motos “voando”. Isso deve ser levado em consideração. E ela ainda é estreita. Houve evolução de um ano para o outro, mas pode ser melhor.

 

:: Público

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Arquibancadas cheias ajudam no espetáculo – Foto: Elton Souza / BRMX

 

Falando em público, a organização pecou na cobrança de ingresso. As corridas de motocross devem ter entrada gratuita. Os eventos acontecem no domingo, quando a maioria dos brasileiros está preocupada com futebol ou simplesmente em passar o dia de folga com a família. Cobrar ingresso, ainda que barato (em Três Lagoas custava R$ 10), espanta o público que talvez queira conhecer o motocross. Quem é fã, vai de qualquer maneira, mas estamos falando de um esporte que precisa agregar mais pessoas, ganhar “devotos”. Cobrar ingresso só atrapalha.

O número de pessoas que compareceu ao evento foi bom, mas poderia ser melhor.

 

:: Júnior no sábado

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Enzo Lopes – Foto: Elton Souza / BRMX

 

A CBM acertou na programação do evento, com a categoria Júnior no sábado (junto com MX3 e 50cc) e a 65cc no domingo (junto com MX1 e MX2). Este item gerou polêmica no box em Três Lagoas, com muitos pais de pilotos da Júnior reclamando da decisão anunciada previamente.

Diziam que a antecipação da Júnior para o sábado era para favorecer Enzo Lopes, que neste ano decidiu correr também na MX2 (tradicionalmente realizada no domingo). É prudente favorecer um piloto que deseja crescer, que NÃO tem medo de, aos 14 anos, enfrentar pilotos dez anos mais velhos, para se desenvolver e talvez se tornar o maior piloto brasileiro de todos os tempos. Há esperança nisso. Por isso os organizadores estão corretos em criar condições para o atleta competir no sábado, defendendo o bicampeonato na Júnior, e no domingo, dando sequência a seu desenvolvimento.

Há quem diga que correr na Júnior e na MX2 está errado, pois uma categoria é amadora e outra é profissional. Pode ser, mas esta é outra discussão. O atual regulamento do campeonato brasileiro permite que o mesmo piloto ande na Júnior e na MX2, ou na 65cc e na Júnior. Só não pode andar na MX2 e na MX1 na mesma temporada.

É evidente que existe um receio por parte dos concorrentes de Enzo Lopes na Júnior. Se ele corre nesta categoria, dificilmente outro atleta vence. Ele está um degrau acima dos demais. Em Três Lagoas chegou a colocar um minuto de vantagem sobre o segundo colocado. Deveria abandonar a Júnior e partir de uma vez por todas para a MX2? Sim, mas cabe a ele esta decisão.

Vale destacar ainda que a Júnior no sábado ajuda a chamar público para um dia que antes era mais “morno”. O domingo já tem atrativos suficientes com a MX1 e MX2. O sábado, assim, ficou mais interessante. Uniu os veteranos da MX3 com os semi-profissionais da Júnior. O fim de semana, num todo, ficou mais atrativo.

 

:: Horários

Os horários foram cumpridos em Três Lagoas. O domingo teve uma programação ao estilo de uma etapa de Mundial, com 60 minutos entre uma largada e outra. Isso deu tempo para que a pista pudesse ser mantida em boas condições. Faltou prestar atenção ao fato de que no Mato Grosso do Sul escurece mais cedo em função do fuso-horário (uma hora a menos em relação à Brasília). Por causa disso, a última bateria da MX1 encerrou com o sol batendo no rosto dos pilotos, o que é muito perigoso. A programação deveria ter iniciado mais cedo. Havia tempo para isso.

 

:: Estrutura

A Arena Mix, onde está a pista de Três Lagoas, deveria servir de exemplo para as próximas etapas. As equipes ficam todas no plano, na grama ou no asfalto. Tem banheiros, chuveiros, restaurante e bar. Em determinado momento, faltou água para banho, mas o problema foi resolvido rapidamente. Isso é o mínimo de atenção que os pilotos e equipes devem receber. Água, energia, lugar para tomar banho, banheiros, segurança. Estes itens existiram em Três Lagoas. Resta saber se o padrão será mantido.

:: Na telinha (e no telão)

A assessoria de imprensa da CBM tem trabalhado desde o ano passado para disponibilizar imagens das corridas pela internet. Em Três Lagoas, o público que ficou em casa pôde acompanhar as provas ao vivo e saber os resultados em tempo real. Ainda não é a transmissão ideal, mas é algo. A mesma imagem, inclusive, passava em dois telões de LED instalado ao lado da pista. Até mesmo um sinal de internet foi disponibilizado no local para o público poder acompanhar com tablet ou telefone.

Além disso, foi produzido pelo BRMX um programa especial sobre a rodada, que vai ao ar na ESPN. Esta semana divulgaremos o horário da transmissão. Fique ligado!

 

:: Dentro da pista MX1

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Campano – Foto: Elton Souza / BRMX

 

Jetro Salazar foi a grande surpresa da etapa, e Carlos Campano o maior destaque. O equatoriano, que faz sua temporada de estreia no Brasil, mostrou velocidade e ousadia na disputa com o espanhol, que parece estar em sua melhor forma.

Wellington Garcia mostrou regularidade e boa pilotagem de sempre. Balbi Junior andou bem, foi rápido, mas caiu na segunda bateria e acabou distante dos ponteiros. Rafael Faria está sofrendo com dores na mão, com um músculo inflamado, mas andou forte, terminando na quinta posição overall.

Julien Bill foi a decepção desta etapa. Conseguiu ser o mais rápido nos treinos cronometrados de sábado, mas parou por aí. Ele afirma que está sofrendo muito com o calor, o que é normal acontecer com alguém criado nas terras frias da Suíça. Realmente estava quente em Três Lagoas. Merece mais uma chance para mostrar a que veio.

Jean Ramos também teve resultado abaixo do esperado. Largou mal na primeira bateria, caiu e terminou em oitavo. Na segunda, largou bem, mas caiu outra vez e novamente acabou em oitavo. Deve mostrar mais ao longo da temporada.

 

:: Dentro da pista MX2

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Gustavo Henn voltou às pistas após dois anos afastado por causa de lesões – Foto: Elton Souza / BRMX

 

Na categoria das 250, a maior surpresa foi Gustavo Henn, que largou na frente na segunda bateria e segurou Hector Assunção, Thales Vilardi e Paulo Alberto por diversas voltas. Hector e Paulo foram muito rápidos, consistentes, enquanto Thales mostrou poder de recuperação e rápida adaptação à nova equipe. A briga pelo título deve ser entre eles três.

Vale destacar ainda que Anderson Cidade competiu com uma grave lesão no joelho que quase o impossibilitou de entrar na pista no domingo. Foi guerreiro e conseguiu um ótimo resultado, levando a lesão em consideração.

É lamentável que Dudu Lima tenha fraturado o pé e ficado de fora da disputa. Mesmo com uma estrutura inferior aos pilotos de Honda e Yamaha, tem talento para brigar na frente.

 

:: Número de participantes

Vamos acompanhar ao longo do ano qual etapa terá maior número de participantes. Consideramos apenas os que alinharam no gate para pelo menos uma corrida. Vale lembrar que alguns, como Enzo Lopes, estão inscritos em duas categorias. Confira os números de Três Lagoas.

Três Lagoas, Mato Grosso do Sul
MX1: 22
MX2: 39
MX3: 35
Júnior: 40
65cc: 23
50cc: 19

Total: 178

 

:: Avaliação final da rodada

Três Lagoas mostrou evolução de 2013 para 2014. Mostrou que sabe aceitar críticas e melhorar. Por isso, em 2014, fez uma boa etapa. Bem organizada, estrutura de box muito boa, pista boa. Pensando no futuro, precisa de uma pista um pouco maior, com melhores saltos. E deve abrir os portões para o público assistir as provas gratuitamente.