A minha história com Marrom

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NOTA DA REDAÇÃO: No ano passado, Balbi Junior escreveu este texto falando de Marronzinho. Agora, ele repete o texto aqui no blog para quem não teve acesso naquela época conhecer uma parte desta emocionante história de amizade e rivalidade dentro das pistas. Aprecie, e lembre de Marronzinho sempre com orgulho e admiração. Ele merece!

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Resolvi escrever a coluna desse mês sobre um pouco da carreira do nosso eterno Marrom, mas de uma maneira diferente: a forma que eu o conhecia como piloto, adversário, e como me tornei um grande fã de um super guerreiro das pistas!

Meu primeiro contacto com o Marrom foi em 1998. Eram férias escolares e na época eu ainda não competia em campeonatos brasileiros. Era bem novo e meu pai levou a família inteira para Brusque, Santa Catarina, para correr o nosso primeiro Brasileiro na 125cc.

Coincidência ou não, paramos muito próximo do Marrom. Eu não conhecia quase ninguém. Ele me chamou atenção por ser tão novo quanto eu, e estar correndo na categoria 125 como eu. E tinha sempre com o ele o pai, o Seu Marrom. Não fomos bem na corrida, mas foi ali que vi o Marrom pela primeira vez.

Essa foi, talvez, a primeira coincidência que aconteceu entre nossas carreiras dentre muitas outras.

Os anos foram passando e fomos ganhando espaço no motociclismo nacional!

Em 2001, Marrom chamou atenção do mx nacional correndo pela Yamaha na categoria 125. Ele fez boas corridas, mas no ano seguinte, no Brasileiro de Supercross, o Pelé Pro, foi onde ele realmente mostrou que tinha muito talento e era um piloto muito determinado fazendo vários pódios!

Em 2003, ele realmente mostrou para que veio na categoria 450, ganhou destaque. E aí outra coincidência, já que minha carreira também só decolou nas motos grandes 250 2T ou 450cc nesta época.

Tenho certeza que isso aconteceu porque ele era um piloto muito forte e trabalhador, características que favorecem para pilotar uma moto que realmente exige do piloto!

Em 2003 ele surpreendeu a todos, inclusive a mim mesmo, conseguindo sua primeira vitória no Brasileiro de MX. Marrom mostrou que vinha para dar trabalho e fazer a história que ele fez!

Na pré-temporada do ano de 2004, fui a Santa Catarina. Ali tive meu primeiro duelo direto com o Marrom. Fui correr na casa dele e mais uma vez me surpreendi. Brigamos durante toda a corrida, trocamos de posição várias vezes e, no final, deu Marrom!

É, ele ganhou e olha que fiz de tudo. E como foi minha primeira corrida do ano, ele me deu o sacolejo que precisava. Treinei dobrado e felizmente fiz uma ótima temporada, vencendo os campeonatos nacionais de MX e SX.

Porém, na última corrida do ano, voltaria a fazer um duelo que marcou nossas vidas. Foi novamente em Santa Catarina, na cidade do Marrom, em Laguna.

Cheguei com vantagem no campeonato e precisava vencer uma bateria para garantir o título sobre ele. Era melhor de três baterias. Ele venceu a primeira. Eu ganhei a segunda, garantindo o campeonato. Daí fomos para última para disputar não sei o que, talvez a honra, medir força, simplesmente. Não sei.

Só sei que já faz quase 10 anos e me lembro dos detalhes daquela corrida! Brigamos volta a volta, salto a salto, tudo que eu fazia para ser mais rápido, ele achava uma forma de superar e vice-versa.

Andamos lado a lado em uma pequena pista de SX durante toda a corrida. Pra ter idéia, colocamos volta no terceiro colocado. O público, que lotava as arquibancadas para torcer para o herói local, o Marrom, foi à loucura! Disputamos tanto que o inevitável aconteceu… A três curvas do fim, batemos e fomos pro chão os dois!

Incrivelmente não houve vencedor naquele dia. Nossas equipes, no calor da disputa, com o tombo, nos ajudaram a levantar e brigaram um pouco também (rs, rs, rs). Por causa disso levamos a bandeira preta de chegada e não a quadriculada. Os dois pilotos desclassificados, mas com a alma lavada!

Tudo que tínhamos ficou dentro da pista, tanto que após a corrida, ao conversarmos, não trocamos nenhuma palavra de desagrado. Tudo que tínhamos ficou dentro da pista!

Era o fim de uma Era e o início de outra. No ano seguinte, tive um novo desafio. Após vencer por dois anos seguidos, fui correr fora do Brasil e o Marrom provou que havia chegado para dominar o MX brasileiro, sendo campeão nacional por dois anos seguidos: 2005 e 2006!

No final de 2007, voltei a correr com o Marrom, dessa vez na minha casa: Belo Horizonte. Esse foi um dia bem triste pra mim, porém, com certeza, um dia especial para ele!

Apesar de correr fora do Brasil, sempre que possível corria aqui e era considerado imbatível “em casa” naquela época. Não para o Marrom (rs, rs, rs).

Vinha de oito vitórias seguidas nas minhas participações isoladas em Campeonato Brasileiro! E foi diante do meu público que ele me superou. Eu era mais rápido,  cheguei a abrir vantagem, porém ele jamais desistiu da corrida. Errei, me desconcentrei, caí duas vezes e ele foi perfeito para vencer a corrida!

Essa aí eu nunca esqueci. Essa talvez tenha sido uma das derrotas mais difíceis para mim, porém, naquele dia ele foi melhor e mereceu a vitória!

Em 2008 nossas vidas voltaram a se cruzar. Ele foi correr pela Pro Tork, equipe que meu pai comandava na época. Eu continuava fora, porém passei a admirar ainda mais o Marrom pelas histórias contadas pelo meu pai, que conheceu não só um piloto incrível e guerreiro, mas um ser humano fantástico, humilde, trabalhador, amigo e sempre acompanhado da família.

Juntos, eles foram campeões mais uma vez em 2008!

Engraçado que mesmo com toda nossa rivalidade dentro das pistas, me lembro ter ficado muito feliz, pois me sentia muito próximo dele através da minha família! A vida continuou e ele continuou fazendo história.

Em 2010, correndo pela Honda, ele venceu a Superliga Brasil de Motocross! E continuou na luta da difícil, mas emocionante vida de piloto de MX.

Meu último contato com ele foi poucas semanas antes do acontecimento. Me lembro bem de estarmos no parque fechado esperando a largada da segunda bateria e conversamos. Eu triste e insatisfeito com meu resultado na primeira corrida, me surpreendi mais uma vez ao demonstrar para ele minha insatisfação, brincando:

“Porraaa, Marrom, precisamos fazer como antigamente, brigar pela ponta!!! (rs, rs, rs)”

Ele me respondeu muito sereno:

“Calma que na hora certa chega!!! Boa sorte.”

Nos cumprimentamos e esta talvez tenha sido nossa despedida. Triste? Não. Me apego nos momentos bons e sei que ele viveu intensamente fazendo o que amava e fez história como um dos maiores pilotos do motocross brasileiro de todos os tempos!

Vai em paz guerreiro. Você é e sempre será vivo nos nossos corações!