Maiara Basso, gaúcha de 22 anos, 14 dedicados ao motociclismo.
Ao longo de sua carreira, chama atenção pela beleza nas pistas, mas ainda mais pelo talento.
Começou no motocross, agregou o velocros e por último o enduro FIM.
Nesta temporada, consagrou-se a primeira mulher a conquistar três títulos nacionais nas diferentes modalidades.
Conversamos com a atleta do Team Rinaldi, vale a pena conferir a entrevista abaixo!
Parabéns pela Tríplice Coroa! Como se sente sendo a primeira mulher a conquistar três títulos brasileiros em uma única temporada no motociclismo?
Estou muito feliz em conquistar três títulos nacionais em três modalidades diferentes. No começo da temporada eu mal podia imaginar, principalmente no Enduro FIM, que jamais havia praticado, foi bastante desafiador. Isso mostra que estou num nível técnico bom, sendo constante, rápida, com um bom preparo físico e bem mentalmente, o que faz muita diferença nos campeonatos.
Conte um pouco sobre sua carreira, o início, como e porque iniciou a prática em cada modalidade?
Tudo começou por influência dos meus irmãos, Lucas e Mateus, em 2004. No início eu nem gostava muito, levava na brincadeira e muitas vezes não ia para as corridas. Até que em 2009 fiz uma prova muito boa no Gaúcho de Motocross, onde já tinha a categoria Feminina, então, percebi que tinha potencial e comecei a treinar e me dedicar. Nessa época já andava no motocross e no velocross. No enduro, iniciei esse ano mesmo, tinha feito apenas duas trilhas na vida. Como o campeonato estava legal, pensei que seria bom participar, meus fãs também queriam que eu fosse. Valeu muito a experiência.
Com qual se identifica mais?
Particularmente, gosto mais do motocross, com a emoção dos saltos e aquele frio na barriga na hora das largadas, sendo que em pistas mais técnicas se diferencia quem treina com afinco.
E qual sua maior dificuldade no Enduro FIM? Como foi trabalhar isso para chegar ao título neste ano?
Nesse ano minha maior dificuldade foi lidar com um terreno completamente diferente do que eu estava acostumada, com pedras e raízes, sem dúvidas. Eu tinha medo de todos esses obstáculos nas trilhas e também nos cross testes, não sabia como ia me sair, se ia conseguir sobrepor, fiquei insegura em relação a minha pilotagem. Eu tenho um problema genético no quadril, acabei forçando bastante quando batia os pés no chão, nas pedras. Também precisei me adaptar a motocicleta para a trilha, precisei mexer na suspensão, calibragem dos pneus, enfim. Eu moro no Rio Grande do Sul, o inverno foi de muita chuva e frio, o que dificultou ainda mais meus treinos. Foi o ano mais difícil e apreensivo da minha carreira, mas sempre pensei positivo e sabia que ia melhorando a cada etapa, fui me superando aos poucos e no fim deu certo.
Você utilizou diferentes modelos de pneus Rinaldi nesta temporada. Fale um pouco sobre cada um deles, qual é indicado para cada tipo de situação?
Foi ótimo poder contar com a gama de pneus que a Rinaldi oferece, realmente foram muitos tipos de terrenos. No início da temporada no motocross eu utilizava o HE 40 na dianteira e o RS 39 na traseira, mas com o lançamento do RS 47, passei a utilizá-lo em quase todas as provas, ele ficou muito perfeito, oferecendo o melhor rendimento e segurança. No velocross segui com o HE 40 na dianteira e o RS 39 na traseira. Já no enduro, em provas de chão duro e seco era o HE 40 e o RW 33, enquanto que em situações mais lisas era o SH 31 e o RS 39. Claro que sempre adequando a calibragem.
Conte um pouco sobre sua parceria com a Rinaldi. Existe desde quando? Todos os títulos foram com Rinaldi? O que mais gosta na marca?
Defendo o Team Rinaldi desde 2013, meus principais títulos foram acelerando com os pneus da marca. Estabelecemos uma verdadeira parceria, na qual eu passo feedback dos produtos e tenho essa possibilidade de ajudar a desenvolvê-los para oferecer aos consumidores itens com cada vez mais qualidade. Isso é muito bacana, não é toda empresa que se abre dessa forma. Eu realmente admiro a Rinaldi, pois percebo que trata a todos com respeito, seja colaborador ou cliente, sempre ouvindo opiniões e oferecendo soluções que aliam qualidade e desempenho, dando confiança para quem usa.
Fale sobre sua rotina de treinos. É difícil se preparar morando no interior do Rio Grande do Sul?
Tenho a vantagem de morar no lado da minha pista de motocross e de curvas, então fica prático para treinar, é só me vestir e ir. Em compensação, minha cidade é muito pequena, sem estrutura alguma. Preciso rodar 30km para ir em outro município para fazer academia ou ter qualquer outro tipo de acompanhamento que um piloto precisa, como fisioterapia, médicos, etc. O inverno também é rigoroso, chove muito, faz frio e várias vezes saio daqui com baixas temperaturas para correr em regiões de calor, logo, o preparo físico tem que estar 100%, pois o desgaste é bem maior. Em média, treino duas vezes com moto por semana, faço musculação duas vezes, pilates uma vez e corro a pé todos os dias.
Como é participar de um universo muito masculino, alinhar no gate ao lado de homens? Você se sente insegura em algum momento?
Hoje não me sinto mais insegura, mas no início era difícil. Com 14 anos eu competia lado a lado dos homens, porém, ao longo dos anos fui ganhando experiência e hoje disputo de igual para igual. Não podemos pensar que somos diferentes deles, sei que estou ali disputando de igual e tenho capacidade para ganhar. Gosto muito de correr com eles, como tem bem mais pilotos masculinos, ganho velocidade, aprendo técnicas, enfim, isso exige mais de mim. Ano passado, inclusive, ganhei o Gaúcho de Motocross na categoria MX3, que tem um excelente nível técnico, fiquei muito feliz!
Você é muito querida nas pistas, serve de exemplo para crianças e também de inspiração para outras meninas. Como lida com essa responsabilidade?
Fico feliz em ser inspiração para outras meninas, crianças, pessoas… é resultado de muitos anos de trabalho. Procuro sempre ser do meu jeito, trato as pessoas da mesma forma, como meus pais me ensinaram. Muitas pessoas me ajudaram a crescer, seja no esporte ou na minha vida pessoal, sou bastante grata. Espero também poder fazer a diferença na vida das pessoas, as vezes uma simples dica pode ajudar muito. Gosto de conversar e trocar experiências, sempre tiro algo bom, gosto de aprender.
Além do motociclismo, você estuda Agronegócio. Sua família é deste ramo. Como é conciliar as duas coisas? Existe pressão? O que planeja em termos de carreira para o futuro?
Não é fácil conciliar o esporte, estudos e trabalho, mas sempre se dá um jeito. Quando iniciam os campeonatos, começa também as aulas e estamos em safra da soja, que é em março e abril, é uma correria. E no final a mesma coisa, outubro e novembro é plantio, final de campeonatos e final de semestre, então, se torna bem corrido. Isso sem falar das viagens, que acabo perdendo aulas, mas meus professores sempre me ajudam a respeito disso. Gosto do que faço e essa rotina agitada é para dar uma emoção a mais também. Pretendo acabar meus estudos e seguir no ramo da agricultura com meus pais. Continuar sempre andando de moto, disputando campeonatos, não me vejo longe desse mundo. O esporte é vida, conhecemos pessoas, lugares, culturas diferentes e andar de moto é um prazer que só quem anda sente.
Já traçou os objetivos para o ano que vem? Há planos para disputas internacionais?
Tenho algumas ideias, mas preciso definir com minha família e patrocinadores. O que posso garantir é que vou com tudo em mais um ano, disso tenho certeza!