A lista de brasileiros que já correram uma etapa do AMA Motocross não é muito grande, apesar disso ser o sonho da maioria.
Antes dos irmãos Balbi, que por diversas temporadas correram entre os melhores do mundo e se tornaram a maior referência neste quesito, tivemos as tentativas de Jorge Negretti, Davis Guimarães, Marlon Olsen, Rafael Ramos, Paulinho Stedile, Rafael Zenni. Depois dos Balbis, os fãs puderam ver Lucas Moraes tentar a sorte em 2009, Jean Ramos encarar o Supercross em 2012, 2013 e 2015, e agora, em 2017, torcer por Thales Vilardi, Gustavo Pessoa e Pepê Bueno no AMA MX 2017.
Este último, paranaense de 19 anos, estreou na pista de RedBud, no sábado passado, 1º de julho. Com uma estrutura privada, moto sem grandes preparações, acompanhado de seus pais, sua avó e com ajuda do mecânico Juan Luis Torres, Pepê estacionou no box e alinhou ao lado de grandes nomes do esporte.
Apesar de já ter participado de diversas corridas amadoras nos Estados Unidos, o piloto conta que sentiu o peso de estar em uma das pistas mais tradicionais do circuito com 40 pilotos profissionais no gate.
– É tudo muito diferente aqui, tudo acontece em um dia, é muito rápido. Nos treinos, já entra todo mundo tentando baixar voltas. São duas voltas livres e o resto cronometrado. São dois treinos, mas o que conta é a melhor volta nos dois. Então, tem que tentar fazer bom tempo já no primeiro porque pode ser que a pista esteja pior no segundo, ou ao contrário. E os caras entram mandando tudo de cara. 8h15 da manhã começa o treino e a galera já entra moendo, um mais retardado que o outro, socando a mão mesmo – conta Pepê.
Corridas para somar experiência
Depois do primeiro contato com a pista, o brasileiro conseguiu se classificar direto para as baterias, sem precisar correr uma prova de repescagem. Nas provas, fez 29-24, garantindo o 26º lugar na somatória.
– Na primeira bateria, não consegui me soltar, larguei em 21º e fui tentando, mas estava travado. Na segunda larguei mal, mas consegui me recuperar. Isso que na segunda bateria, o Jeremy Martin e o Forkner caíram, eu bati no Forkner, saí mal. E na primeira bateria eu e o Gustavo nos batemos. Acabou entortando o pedal de freio meu e o de câmbio dele. Mas preciso largar bem e forçar nos 10min iniciais pra andar com a turma da frente, no ritmo deles – acredita Pepê.
Outro detalhe observado é que é necessário investir em muita estrutura para estar apto a competir com os demais.
– A gente não tem acesso ao que os caras de fábrica têm. Você vê já na volta de apresentação, que sai uma GEICO, sai uma Husqvarna, uma Kawasaki, o que andam as motos deles. Você pode até pular na frente no gate, mas vai chegar atrás no fim da reta. E a suspensão é outra história também. Nós temos uma moto. Aliás, só pode vistoriar uma moto. Se estragar algo, tem que trocar a peça. O Hampshire quebrou o motor na primeira bateria, mas aí a equipe troca o motor inteiro – conta Pepê.
– Avaliando, pela estrutura que eu tinha, cheguei em cima do laço, sem motor, sem suspensão, conseguir classificar já foi bom. Tinha 80 motos. Muitos ficaram de fora. Nós só com uma vanzinha no box, fomos muito bem. Precisa ter suspensão e motor muito bom. É um absurdo a quantidade e o tamanho dos buracos. Não tem como fugir dos buracos. A pista vai acabando. Você busca o melhor traçado, mas é tudo buraco. Acordei com uma dor na lombar que nunca tinha sentido. Não tem descanso. Toda hora na pauleira – diz.
O aprendizado continua
Para Juan Luis Torres, mecânico que já acompanhou diversos pilotos nos Estados Unidos, Pepê fez uma boa estreia.
– É tudo diferente mesmo, o ritmo do dia é puxado, o jeito de fazer inscrição é diferente, pista diferente. Pude ajudar um pouco nisso para ele ficar tranquilo e confiante. Acho que Pepê andou bem, mesmo com poucos testes na moto. Fizemos uma estratégia para ele andar bastante no primeiro treino e deu certo. Fiquei bem contente em ajudar e também de voltar a trabalhar, de alguma maneira, com meu amigo Jorginho (Balbi), porque sou muito grato a ele – disse Juan.
Na tarde desta segunda-feira, quando conversou com o BRMX, Pepê e sua família estavam na estrada em direção ao estado de Massachusetts, onde acontece a próxima etapa do AMA MX no sábado, 8.
– Estamos em Indiana. Vamos para uma pista próxima Southwick para treinar na areia, que a próxima eles chamam de “caixa de areia”. Agora montamos a parte de cima do motor, cabeçote, ingnição, pra ver se melhora o resultado – conta Fábio Bueno, pai do piloto.
Depois da corrida de Southwick, Pepê ficará mais um período nos Estados Unidos, treinando no MTF (Millsaps Training Facility) até dia 21, quando volta para correr a segunda etapa do Brasileiro de Motocross, em Santa Catarina, no dia 29.