Victor Almeida, 20 anos, está prestes a receber alta do hospital após superar o maior drama de sua vida. Ele ainda precisa se livrar de uma bactéria que se instalou no ferimento da traqueostomia para então poder seguir o tratamento em casa.
De acordo com Piragibe de Almeida, pai do piloto, quando completará 25 dias internado nesta quinta-feira, 11, Victor pode receber a notícia tão esperada.
– Vim do hospital agora. Ele ainda tá no quarto, ainda isolado por causa da bactéria na traqueo, mas hoje faz 10 dias que ele tá tomando antibiótico pra combater esta bactéria. Então, se der tudo certo, amanhã libera pra ir pra casa. Ele superou bem as expectativas – disse Pira, como é conhecido, nesta manhã de quarta-feira.
Ir para casa não significa estar 100% recuperado. Victor precisará seguir uma rotina de exercícios para recuperar completamente a fala, a audição e os movimentos do lado esquerdo do seu corpo – a pancada que causou o politraumatismo craniano foi do lado direito da cabeça, um pouco acima da orelha.
– Quando ele estava na UTI, estava 100% comprometido. Mesmo depois que abriu os olhos, estava com o olhar fixo em um ponto, sem piscar, sem mexer nada. Depois foi recuperando, respondendo a estímulos, mexendo o lado direito. Agora ele já caminha e fala, mas ainda está lento. A fala deve voltar aos poucos. As cordas vocais foram prejudicadas porque ele ficou 16 dias entubado, e isso machucou, conforme os médicos explicaram. Mas está se recuperando bem. A memória voltou até o sábado da corrida (dia 16 de julho). De domingo em diante (dia do acidente) ele não lembra nada. Não lembra do acidente. Não lembra que fez cirurgia. A partir do domingo, começa uma nova vida – relata Pira.
Até para comer, Victor precisa se readaptar.
– Ontem (segunda-feira) ele comeu pela primeira vez. Comeu um pão com manteiga. E depois disse “pode trazer mais comida que to com fome”. Mas ele precisa aprender a mastigar, precisa treinar a língua para não engolir pelo canal do pulmão. Até a água precisa ser gelatinosa para não ir pro pulmão – conta Pira.
Simples gestos que são comemorados como grandes vitórias, afinal Victor esteve muito perto da morte nos dias seguintes ao seu acidente em Extrema, Minas Gerais, em 17 de julho, durante a terceira etapa do Brasileiro de Motocross 2016.
– Foram dias muito difíceis, momentos muito complicados. Eu subi (a pista) na hora do acidente e vi a cena, muito feia. Acompanhamos passo a passo. Fui com ele na ambulância. O médico, em Extrema, me tirou do pronto socorro e disse que ele não suportaria. Falei pra ele: vai sim porque a gente serve um Deus que é verdadeiro e vivo. E o médico disse: “se você tem essa fé, vamos acreditar”. Então o Victor ficou 13 horas aguardando liberação de plano, chegada de ambulância UTI, e a qualquer momento poderia vir a óbito. Mas suportou – relata Pira.
– Depois, o neuro que fez a cirurgia disse que, pelo lado da medicina, poderia ficar a vida toda como ele estava na UTI, ou poderia levantar no outro dia, porque o cérebro é muito complicado. E Victor foi surpreendendo dia a dia. Ontem (terça-feira, 9) o neuro passou pra ver, por curiosidade já que nem era dia de consulta, e disse que está muito feliz, que ele surpreendeu. Eles nem tinham esperança. O hospital inteiro, os profissionais, estão comovidos com a recuperação dele. Foi um milagre muito grande. Deus faz as coisas certas. Sempre fui grato a Deus, e agora sou mais ainda. Ele me devolveu um filho. Mesmo se ficar com sequela, vai ser meu filho do mesmo jeito – finaliza, Pira.