NOTA DA REDAÇÃO: é com muito prazer que o BRMX dá as boas-vindas a Janjão Santiago, piloto, escritor e fotógrafo especializado em rally, enduro, trilhas e suas derivações do mundo off-road sobre duas rodas. Aproveite o conhecimento deste mineiro gente-fina e aprecie seu artigo de estreia aqui no BRMX.
Tô muito feliz em inaugurar esse espaço pra falar sobre o que a gente mais gosta: moto off-road! Agradecer demais ao BRMX a oportunidade e aqui vamos falar de tudo: enduro, superenduro, rally, regularidade, hard enduro e todas as modalidades do off-road em duas rodas!
Pra começar, vamos de Rally Dakar, que já está – apesar das fortes chuvas – pegando fogo! Há muito tempo o Dakar não começa tão imprevisível. Depois de dominarem a competição por um bom tempo, Cyril Després resolveu correr de carro e Marc Coma foi pra organização da prova, então esse ano ficamos sem um número 1, sem um campeão participando da prova. Desde 2005, apenas esses dois pilotos vem se revezando no degrau mais alto do pódio, com cinco vitórias pra cada (em 2008 a prova foi cancelada por motivos de segurança).
Em 2016 teremos um novo campeão nas motos e a briga promete ser intensa. O problema é que fica muito difícil apontar um piloto favorito em 2016, já que não temos, como no caso de Després e Coma, um piloto que seja rápido e experiente. Temos pilotos que são muito rápidos, mas falta-lhes experiência e de outro lado pilotos bastante experientes, mas que já não têm a velocidade dos mais jovens. O que deve contar, e muito, é a estratégia utilizada por cada equipe. O Dakar é uma prova de vários dias e muitos tipos de desafios e, por isso mesmo, torna-se um tabuleiro de xadrez onde a estratégia deve contar demais e até decidir.
Dominando a competição desde 2001, a KTM pode ter sentido o baque de perder Coma e Després, e aposta na juventude de seus pilotos para se manter no topo. Toby Price e Mathias Walkner fizeram bonito nas edições anteriores, andando muito rápido e vencendo etapas da competição. Mas pode faltar experiência, principalmente de navegação, aos dois pilotos. O pentacampeão mundial de enduro, Antoine Meo, faz sua estreia na competição e é uma incógnita, já que apesar de acelerar muito, não tem experiência na modalidade. Já o experiente Jordi Viladoms, vice-campeão em 2014, pode não ter mais a velocidade necessária para brigar pela ponta com os “jovens pilotos”.
Rubem Faria, Pablo Quintanilla e Pela Renet entram na briga pela Husqvarna. A experiência de Faria pode ser decisiva, principalmente nos estágios mais complicados da competição, do meio da frente. Pela Renet faz sua primeira participação no maior rally do mundo e ninguém sabe o que esperar do piloto, que também é rápido, mas sem experiência no Rally.
Quem parece vir muito forte esse ano é a Honda, que retornou ao Dakar em 2013. Se no começo tinham a justificativa de que ainda estavam desenvolvendo a moto, este ano parecem estar dispostos a quebrar a hegemonia da KTM. Desde que voltaram a desenvolver a moto de rally, já venceram várias especiais do Dakar e conquistaram muitas provas pelo mundo. E todos sabem que a marca não entra nas competições apenas pra ser coadjuvante. O experiente Paulo Gonçalves, vice na última edição, e o veloz Joan Barreda Bort, que liderou boa parte da prova no ano passado até ter problemas na moto, parecem ser os nomes mais fortes da marca para essa edição.
A Sherco entra na disputa com o francês Alain Duclos e o espanhol Juan Pedrero Garcia. Também é uma incógnita.
O italiano Alessandro Botturi e o português Helder Rodrigues defendem a Yamaha no Dakar. Os dois vêm de bons resultados em outras provas de rally, como na Tunísia e Marrocos, onde venceram.
Em cada texto, vou levantar um ponto positivo e outro negativo. Confira o primeiro Sobe & Desce do Super Trilha no BRMX!
Sobe
O argentino Kevin Benavides começou o Dakar surpreendendo até os “especialistas”. O jovem de apenas 26 anos, que tem o Enduro como berço, faz parte da Honda South America, mesma equipe de Jean Azevedo e Adrien Metge, uma satélite da HRC (Honda oficial). Kevin conquistou a medalha de ouro no Six Days 2015, e talvez pelo fato de vir do enduro, prefere os terrenos mais duros e com pedra. Na estreia no Rally não fez feio, foi o 4° colocado no Marrocos. Já mostrou que é rápido, vamos ver como se porta daqui pra frente e principalmente, quando tiver que enfrentar as etapas mais complicadas. Venceu a 3ª etapa do Dakar e já colocou seu nome na história.
Desce
A crise que assola os países da América do Sul tirou o Chile e o Peru da rota do Dakar. Em 2016 a prova acontece apenas na Argentina e Bolívia. Vamos torcer para que em 2017 seja diferente. Além disso, as fortes chuvas que caíram na Argentina tem prejudicado o início da prova – a primeira etapa teve que ser cancelada e algumas especiais reduzidas, por motivos de segurança. Mas o Dakar já começou de verdade e daqui pra frente não devemos mais ter problemas.