Bastidores das negociações, vídeo, e as intenções de Villopoto para o Mundial de Motocross 2015

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Ryan Villopoto desvenda alguns mistérios nesta entrevista – Foto: RV2

 

Desde a criação do Mundial de Motocross pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM), em 1957, nenhum piloto na história do esporte jamais venceu o principal título do MXGP e o AMA Supercross (competição que começou a ser disputada em 1974). São 66 anos de jejum.

Além disso, desde a ascenção do motocross norte-americano, no começo dos anos 80, nenhum campeão do supercross sequer trocou o AMA pelo campeonato organizado pela FIM para tentar o título mundial. Pelo menos este era o cenário até agora. Como todos no esporte – de alguma maneira – sabem, Ryan Villopoto, atual campeão do AMA Supercroos, vai trocar a chance de alcançar um quinto título consecutivo no SX em 2015 pela tentativa de conquistar o MXGP. Ryan deixará sua “zona de conforto” nos EUA para tentar conquistar o mundo.

A decisão histórica do piloto causou grande movimentação no esporte, e certamente terá diferentes significados para diferentes pessoas. Para toda ação há uma reação, e a escolha do campeão de 26 anos de idade deixou algumas pessoas empolgadas, outras desapontadas e a maioria perplexas. Porque correr no MXGP? Porque agora? Você ainda tem algo para provar? Perguntas fundamentais que só RV pode responder. A entrevista que você confere a seguir foi feita pelo jornalista Eric Johnson, na casa de Ryan, em Corona Del Mar, Califórnia, e esclarece os motivos que levaram o piloto a voar para a Europa e começar seu programa de treinamentos visando o MXGP.

Vale ressaltar também que há cinco dias Villopoto fez seu primeiro treino na Europa. Ele foi liberado pelos médicos na quarta-feira, 15, e na quinta-feira já estava treinando em pistas da Alemanha e Bélgica ao lado de Tyla Rattray e todo time europeu (veja o vídeo mais abaixo).

 

Ryan, quando você era criança e corria em motos menores, você chegou a pensar que chegaria nesse nível?
RV: Estar sentando aqui, dando esta entrevista para você… Não, nunca pensei que chegaria nesse nível. Para ser honesto, as coisas seriam bem mais fáceis se eu não fosse tão famoso, ou se não tivesse chegando onde eu cheguei. Existem muitas coisas que acompanham essa posição que 99% das pessoas nunca vão entender. De vez em quando existem questionamentos do tipo “porque ele fez isso?” ou “porque ele não fez aquilo?”. Honestamente, como piloto ou atleta, você não pode dar bola para esse tipo de coisa. Não podemos pensar pelos outros. Fazemos o que fazemos por uma razão, e cada atleta tem as suas razões para tomar certas atitudes.

Porque você é um piloto de motocross?
RV: Claro que ganhar é bom. Começou como um hobby e eu fui ficando bom nesse hobby. Começamos pelos campeonatos nacionais amadores e foi crescendo. Foi como uma bola de neve. Nunca pensei que chegaria nesse tamanho. Para mim era algo natural, de família. Por exemplo, converse com Adam ou Alan Cianciarulo e eles vão te contar que o Adam andava para cima e para baixo com o vídeo Bar to Bar, de 2005, e via o tempo todo. Aquilo era o que ele queria fazer. Eu não era assim. Existem várias coisas no esporte que eu não gosto. Não só na indústria do motocross, mas ser um esportista famoso pode ser pesado. Eu não sou atleta para ser famoso. Há uma época, quando se tem 16 ou 17 anos, que isso começa a mudar. Todo mundo sabe que estudar não é a prioridade para se chegar em algum lugar no esporte. É preciso fazer várias outras coisas, como treinar e pilotar. A escola fica de lado “naturalmente”. Então chega uma hora que não há como voltar atrás, entende? Chega no ponto de que aquilo é tudo que você tem. Então é melhor eu fazer isso bem! Não que eu pensasse assim na época… As coisas foram acontecendo rapidamente, e você é jovem e vai aproveitando. A carreira só começou a ser encarada como um “trabalho” bem depois.

Na última Monster Cup (2013), nós conversamos com o seu pai e ele falou sobre o tanto de dedicação que foi preciso para que você se tornasse (e se mantivesse) como campeão. Ele deixou claro que para chegar aonde você chegou foi preciso abrir mão de tudo. Analisando o que você nos disse agora, não há meio termo para quem quer chegar ao topo. É uma espécie de “tudo ou nada”, né?
RV: Isso mesmo, ou vai ou racha, sabe? O que acontece é que 98% das famílias não suportam a pressão. Elas gastam muito dinheiro e se sacrificam tentando ser bem sucedidos no esporte, e isso demora muito. É uma situação complicada para os pais e para a criança. É complicado porque de repente o cara se vê com 20 anos e, tipo, “merda, preciso arranjar um trabalho!”. E quando isso acontece ele vai ter que começar a carreira profissional lá de baixo, numa posição complicada para quem já está com uma idade avançada. Normalmente se entra no mercado de trabalho “normal” aos 16 anos.

 

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RV na sua última temporada de AMA SX (2014) – Foto: Supercrossonline

 

Sim, ter que começar uma carreira sem uma habilidade definida ou uma educação adequada.
RV: Isso. Claro que a maioria dos caras seguem trabalhando na própria indústria do motocross, já que criaram relações com as pessoas e a rotatividade é grande nas oficinas e nas equipes, então sempre existem empregos disponíveis.

Quando você conquistou o título do supercross em abril deste ano, alguns pilotos, como Jeremy McGrath, falaram na mídia que parecia que você não estava se divertindo muito com o esporte. Verdade?
RV: Ah, sim, com certeza… Talvez eles não pensem assim, mas se você for perguntar pro Ricky (Carmichael) o que mudou no esporte desde que ele se aposentou, a resposta dele seria bem interessante. É só pensar. Seu primeiro pensamento talvez fosse “Ricky não abandonou as pistas há muito tempo”. Mas aí você olha pro calendário e se dá conta que já faz bastante tempo, sete anos atrás. Pense na mudança de tecnologia nas motos e em todo o resto. Então, os caras que falam que eu não estou feliz, ou algo assim, bem… Não quero dizer que eles não tenham seus argumentos, mas o esporte é tão diferente hoje em dia que eles não sabem com o que temos que lidar agora. Ele conhecem a parte de correr, claro. O gate cai e são 20 voltas. O básico todos sabem, agora, não quero dizer que os caras não treinavam há alguns anos, Ricky começou o treinamento mais pesado, mas antes do Ricky… no começo dos anos 90 as coisas eram diferentes. Eu escutei histórias. Não estou dizendo que era tudo de um jeito, que todos os caras faziam as mesmas coisas. Com certeza eles levavam o esporte a sério, não estou duvidando, mas o mundo era diferente. Quando eu me aposentar, depois da próxima temporada, e não correr mais por três ou cinco anos, já será um mundo diferente. As coisas mudam e o que você nunca havia visto se torna comum.

O fato de você não ter corrido o AMA Motocross gerou comentários, não?
RV: Sim, pra ser honesto, depois que eu machuquei meu joelho e tive que tomar essa decisão de não correr o motocross, foi difícil. Estando na minha posição não era só falar “ah, beleza, machuquei o joelho e não vou correr”. Tenho muitas empresas pelas quais eu corro, grandes companhias e patrocinadores, e as coisas devem ser metodicamente pensadas. Coisas como “quando vamos anunciar para as pessoas que eu não vou correr”? Os patrocinadores precisam pensar e talvez achar um piloto substituto. Recebi muitas críticas por dizer (uns dias antes) que correria. Mas o que mais queriam que eu dissesse? Sendo quem eu sou, representando as marcas que eu represento, e fazendo parte de um time, não era hora de chegar e dizer “não vou correr”. Qual seria a outra resposta possível? “Vou correr”. Sou muito criticado por isso, mas tudo bem. São só opiniões.

As coisas ficaram bem tranquilas depois que você decidiu não participar do AMA MX. O que estava rolando e onde você estava? Como muitos rumores sugeriram, estava pensando em se aposentar?
RV: Definitivamente eu pensei em me aposentar. Existem poucas pessoas que fazem o que eu faço no mesmo nível que eu, e fazem por várias razões: porque gostam da fama, do espetáculo, do dinheiro. Eu me encaixo na categoria dos que fazem porque é um esporte de família que todos participavam. Era um hobby e acabei ficando bom e fomos em frente. Havia muitos momentos legais e eu conheci muita gente legal através do esporte. Não estou no motocross pelos motivos que as outras pessoas estão. Então quando eu comecei a cogitar sobre a aposentadoria e as pessoas diziam “como que ele pode sair assim, do nada?”, foi um pouco estranho pra mim porque, pensando no todo, esse é o meu trabalho. É o que eu faço. Não é minha vida, é só o que eu faço.

 

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RV na sua última temporada de AMA SX (2014) – Foto: Supercrossonline

 

Quando e como surgiu a ideia, ou a oportunidade, de correr o mundial em 2015?
RV: Toda vez que nós íamos para a Europa para o Motocross das Nações, ou quando íamos no verão para o Parts Unlimited ou o Monster, eu me impressionava como lá é um mundo totalmente diferente. Lugares diferentes, arquitetura diferente, e gosto bastante da comida. É divertido. Tudo é diferente e novo, e eu gosto disso. Quando fomos para Teutschenthal (MXGP na Alemanha) nós meio que conversamos sobre isso (correr no mundial). Falamos com o pessoal da Monster e falamos bastante com os meus principais patrocinadores sobre isso. Todo mundo abraçou a causa. Tivemos que agilizar as coisas com bastante antecedência, porque são muitos detalhes para acertar tudo. Demorou bastante até tudo se encaixar. Pode parecer que não foi muito difícil, já que era a Kawasaki e era tudo parte de uma grande companhia, mas houve bastante conflito.

Neste momento da entrevista o empresário de Ryan, Bobby Nichols, entra na conversa para dar mais detalhes.

Bobby Nichols: Aconteceram alguns problemas. Se fosse em função da cirurgia no joelho (feita depois do Supercross), Ryan estaria treinando um mês antes e nós não estaríamos tendo essa conversa. Depois que entendemos que o menisco e o ligamento cruzado anterior precisariam de, pelo menos, três meses de preparação adicional, percebemos que não teríamos chances de correr e estar preparados para disputar o quinto título consecutivo do supercross. Ryan seria o favorito por ser o cara que ganhou quatro vezes seguidas e sabe como ninguém administrar as etapas. Ele sempre entra para vencer, esse é o trabalho dele. Mas a questão era: o quê o Ryan ganharia correndo as últimas seis corridas do Supercross? Porque entrar no meio de um campeonato no qual os outros caras trabalharam duro e se arriscaram para vencer? Ganhar algumas corridas e chegar no pódio em outras e estragar a competição? Não é esse o objetivo dele. O negócio dele é ganhar. Quando essa oportunidade de ir para a Europa surgiu, era tipo “cara, que grande chance de fazer algo que ninguém jamais conseguiu fazer”. Foi um movimento pensando em seu legado.

Ryan, quer acrescentar algo?
RV: Mesmo antes disso tudo, eu estava imaginando se não era melhor eu descansar um pouco. Fiquei pensando se valia a pena começar tudo de novo em relação aos treinamentos físicos e com a moto e toda a preparação. É a terceira vez que opero o joelho. Ao mesmo tempo pensava “eu posso voltar ao topo”. Tudo isso passava pela minha cabeça. Conforme o tempo passava, a gente tinha que tomar uma decisão. Conseguimos resolver tudo, mas demorou mais do que a gente imaginava.

Assim que o acordo saiu, as coisas começaram a funcionar com a Kawasaki…
RV: Sim. No começo foi tipo “o que vamos dizer? Qual será a primeira reação?”. Ninguém muda dos Estados Unidos para a Europa no esporte. Todo mundo vem da Europa pros Estados Unidos, por várias razões. Eu acho que é porque o motocross é algo muito grande na América. Tem o supercross e o dinheiro envolvido é bem maior, inclusive os salários. Eu e a Kawasaki queríamos ir numa direção, e provavelmente eu sendo um dos caras que mais faturam no esporte, provavelmente eles tiveram que fazer algumas contas. Acho que a parte japonesa da marca entendeu a questão de marketing envolvida na transação. Eles são uma companhia mundial, então enxergaram o potencial de um piloto americano saindo da América e tentando fazer algo inédito. Ganhando ou perdendo, essa ação vai ajudar a vender mais motocicletas na Europa e no mundo todo.

E a Monster Energy também é uma marca global.
RV: Exatamente. A Monster é uma grande parte da Kawasaki e também do meu programa. Claro que a Monster é muito grande aqui nos Estados Unidos, e o que vemos na Europa é KTM Red Bull. A Monster está trabalhando para ter a mesma presença que tem nos EUA na Europa. Eu acho que eles vão conseguir, e comigo como parceiro e com a Kawasaki no pacote, as coisas ficam mais fáceis.

Bobby Nichols fala sobre a Kawasaki Motors Corp., U.S.A., Kawasaki Motors Corporation Japan and Kawasaki Heavy Industries, Limited (KHI) Japan:
BN: Nenhum outro piloto fez mais pela Kawasaki que o Ryan. Ele tem dez títulos importantes. Ele está com eles desde criança, venceu como amador. Pilotou uma 125, uma 250F e uma 450. Tudo que foi pedido para ele foi feito, sempre beneficiando a KMC, KHI e a KMCJ. Ele é uma estrela global do esporte. Para nós a única maneira que de fechar um acordo “mundial” para correr o MXGP era se fosse com a KHI. A ideia do Ryan é correr sempre mirando o topo. Pra isso ele precisa estar na ponta dos cascos, e a KHI também. Ele sempre foi leal à Kawasaki, e eles sempre foram leais com ele.

E a sua opinião, Ryan?
RV: Concordo. Sem Yoko (Shinichiro Yokoyama) e o Sr. Ando não conseguiríamos nada. Provavelmente já estaria aposentado. Graças a essas duas pessoas e as horas que eles gastaram calculando e trabalhando que tudo deu certo. Nunca pensei que me aposentaria correndo para uma marca apenas. Mas como eu disse, tenho um ótimo relacionamento com o pessoal da KHI, e perdendo ou ganhando, vou me aposentar no ano que vem e pela Kawasaki. Isso é algo que não acontece com muita frequência.

 

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RV na sua última temporada de AMA SX (2014) – Foto: Supercrossonline

 

Entre tomar a decisão e anunciar que correria o MXGP, você se preocupou com a opinião dos seus fãs americanos?
RV: Dá para se preocupar tanto assim com a opinião dos fãs? Na minha visão, não. Esse esporte é muito difícil, e você é tão bom quanto o resultado da sua última corrida – seja na visão dos fãs ou da indústria. Com certeza alguns fãs ficaram chateados ao saber que eu iria pra Europa. Mas a maioria das coisas que eu vi e ouvi sobre isso é que as pessoas estão ansiosas para ver o que vai acontecer. Não dá para tomar decisões pela opinião dos outros. Se todos odiarem, o que você pode fazer?

E qual foi a reação que você sentiu na indústria americana do motocross?
RV: Com certeza bastante gente ficou bem feliz. Uma vaga no pódio se abriu para alguém. Acho que isso vai ser bom para o esporte aqui – sem querer dizer que se eu competisse novamente, ganharia de novo. Mas existem pessoas que não ficaram muito empolgadas com a minha mudança.

A questão financeira foi decisiva na hora de resolver o seu futuro?
RV: (pensando)… O dinheiro não foi um fator. Eu serei pago pra ir lá e correr? Sim. Eu vou ganhar bem? Sim. Mais uma vez: eu estou fazendo algo que nunca foi feito. Sou um americano indo pra Europa, e não um europeu vindo pra América. Além disso, estarei com uma grande marca, como a Monster. Perdendo ou ganhando faremos tudo juntos, como uma equipe.

Um argumento muito usado foi de que sua mudança para o MXGP vai atrair todos os olhares do mundo do motocross para o campeonato. Em outras palavras, o que você vai fazer é algo grande para o motocross como um todo. Você vê isso como uma coisa importante?
RV: Esse não era o meu objetivo. Claro que eu imagino que isso vai impulsionar o esporte em todos os lugares do mundo. E como eu citei, pensando pelo lado da indústria, a Kawasaki vai vender mais motos em diferentes locais. Para a Monster, o objetivo é ultrapassar a Red Bull na Europa, e esse é o momento certo. Além das outras marcas que vão se beneficiar em outros aspectos.

 

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RV na sua última temporada de AMA SX (2014) – Foto: Supercrossonline

 

Tyla Rattray também entrou na equação. O fato dele já ter vencido o título mundial e conhecer os “atalhos” dos circuitos ajudaram na sua decisão? Ele conversou com você durante as negociações?
RV: Não chegamos a conversar. Ter o Tyla envolvido definitivamente vai facilitar as coisas. Nunca corri lá. São muitos países e coisas diferentes. Ter alguém na equipe que já tem experiência, e que é um bom companheiro nas corridas e nos treinos, torna tudo mais simples.

Falando da Kawasaki e da parte técnica, eles te darão todo o suporte que você vai precisar (assistência técnica e equipamentos) para conseguir vencer o campeonato?
RV: O que eu sei é que alguns dos equipamentos que a KMC usa para correr aqui nos EUA não podem ser utilizados no MXGP. E os materiais que a KME tem na Europa são diferentes porque as regras não coincidem com as nossas. Por isso que ter o Yoko e o Ando é tão importante. Eu disse para eles: “ei, não sou uma pessoa de mente fechada. Não vou me recusar a testar o que eles têm, mas se precisar de alguma coisa diferente, terei acesso?” E Yoko disse: “qualquer coisa que você precisar. Tudo que a KMC tem, você terá acesso”. Essa era a minha única preocupação. Estive na equipe de fábrica da Kawasaki por seis anos e eu sei o que eles produzem – e eles sabem o que eu quero. Então sim, eu tenho total acesso a tudo, e era isso mesmo que eu queria.

Você e a Kawasaki vão sair ganhando com isso, não?
RV: Lógico. Primeiramente, ter um americano vencendo no primeiro ano será algo gigante. Seria muito importante para eles. E não será fácil simplesmente chegar lá, entende? Será difícil, é outro mundo. Vou tentar estar o mais preparado possível, e o que acontecer, aconteceu. É assim que quero me despedir. Não quero colocar como se fosse um acordo para uma tentativa apenas, mas é mais ou menos isso. O nosso acordo é de que vou dar tudo de mim para vencer. Se não der, tudo bem, sem problemas. E quero que todo mundo saiba disso desde já. Vencendo ou não, vou me aposentar depois que correr esta temporada. Estou deixando isso bem claro: perdendo ou ganhando, estou saindo fora. Chega.

Aldon Baker, seu treinador por muitos anos, estará envolvido no seu programa de treinamentos para 2015?
RV: Sim. Eu li em algum lugar que eu havia demitido o Aldon. Mais uma daquelas “boas” histórias… Sim, continuarei trabalhando com o Aldon. Claro que não no mesmo nível de outros anos, porque não conseguiríamos chegar ao mesmo nível nem se quiséssemos. É impossível. Vou continuar no programa dele e ele vai analisar todos meus dados, números, etc. Ele também vai organizar uma planilha de exercícios para eu executar. Farei junto com o Tyla.

 

 

Como ficaram Giuseppe Luongo e a Youthstream durante o processo de planejar o programa de treinos? Eles ajudaram, deram força?
RV: Antes disso tudo começar a tomar forma, fui até lá e conferi como eles estão administrando o negócio. Ele (Giuseppe) comanda uma operação muito ajustada. Tudo desliga quando está programado para desligar. Ele comanda o seu programa. No domingo ele não levanta um dedo. Tudo funciona com ou sem ele. Então quando ele quer ajudar e se envolve no processo, ele é ótimo. Claro que tudo isso vai ser importante para o time. Ele enxerga o valor disso. Ele tem ajudado bastante na preparação de tudo e está sendo bem fácil trabalhar em conjunto.

Quando as coisas começaram a se tornar públicas, o nome de Antonio Cairoli sempre foi citado depois do seu. Você tem nove títulos do AMA e ele tem oito títulos do MXGP. É bem simples de imaginar a situação como uma batalha de dois mundos, certo? Como você vê esta situação? São realmente dois legados se enfrentando ou Cairoli é só mais um dos competidores?
RV: Honestamente, ele é só mais um cara correndo. Ele é um dos melhores? É, com certeza. Dá para comparar as corridas dos EUA com as da Europa? Não, não dá. Eles não correm o supercross. Não há nem uma série de supercross. Não há como comparar, eles só correm em pistas ao ar livre. Sempre existe a questão “quem tem os melhores pilotos?”, e aí nós corremos o Motocross das Nações. Mas é só um final de semana. Aí vamos para Anaheim 1. Nos dois últimos anos eu fui muito mal. Não dá para levar eventos isolados muito em consideração. Algumas pessoas julgam só pelo Nações, outras não. Voltando ao Cairoli, ele vai dar trabalho. Primeiro, porque ele vai estar no seu “elemento”. É o que ele faz. Ele conhece as pistas. Acho que em algumas pistas eu vou me sair melhor, e em outras ele vai. Em algumas situações ele vai me pegar desprevenido, e o contrário também vai acontecer. Uma coisa que eu sempre tive facilidade foi me acostumar com uma pista que eu não conheço. Já corri em St. Jean d’Angely. Fiquei sabendo que é um dos piores lugares do campeonato. É como uma cama de pedras e em cima um pouco de lama. E eu me saí bem lá. Conhecer o solo e me acostumar com os traçados vão ser alguns dos meus desafios.

Então eu imagino que isso signifique que você não vai tentar o seu quinto título do Monster Energy Supercross em 2015. Cinco títulos consecutivos seriam um novo recorde.
RV: As pessoas dizem: “não entendo porque o Ryan não tentou o quinto seguido”. A questão é que isso não significava nada pra mim. Não sei o que isso significaria para as pessoas. Eu me aposento e o gate cai em Anaheim 1 em 2016. Os fãs logo esqueceriam quem venceu aquele quinto título. As coisas são esquecidas com muita rapidez. Do jeito que eu entendo as coisas, se eu conseguir quebrar recordes ou estabelecer novas marcas, isso tudo aconteceu durante uma jornada. Não eram os meus objetivos. Ir para a Europa e ser o primeiro a tomar esta atitude, também não foi o que passou pela minha cabeça. Lógico que todos falaram disso, inclusive eu, mas não foi algo que eu planejei.

Agora uma questão importante: você nunca perdeu um campeonato de motocross. Isso é verdade?
RV: Sim. Ser regular nas corridas e nos campeonatos sempre foi um dos meus pontos fortes. Existem muitos caras que são rápidos e que não conseguem manter uma regularidade. Tomara que consiga vencer o próximo campeonato também! Se não der, vamos ver o que vou conseguir fazer. Será interessante. Muitas das provas serão provavelmente como o Nações. Talvez não naquela escala, mas perto disso. Todo final de semana vai ser como um mini Motocross das Nações para mim.

Para fechar, por se aventurar desse jeito, você se sente como um pioneiro?
RV: Sim, e acho que apenas dizer “cara, eu amo esse esporte” não ajuda a impulsionar o esporte. O que constrói algo são as decisões que você toma durante a sua carreira e que fazem bem para a modalidade. Quer dizer, tem os caras que são meio loucos, chegam e depois somem. E tem caras que talvez não tenham a imagem mais adequada para o motocross, mas que são muito bons. Depende de quem que você quer que o seu filho se espelhe. Eu sempre tentei tomar boas decisões na minha carreira. Sempre estive cercado de boas pessoas e bons patrocinadores. E sempre fui leal a eles. Acho que o que ajuda no crescimento da modalidade são as decisões que tomamos, e acho que a minha decisão é uma dessas. Espero que todos os fãs dos Estados Unidos, seja de qual piloto ele for fã, torçam por mim e pelo meu esforço em levar a bandeira americana para outros lugares. Eu quero e preciso dessa torcida. Vou dar o meu melhor.