“Quero chegar ao nível do AMA Motocross”, diz organizador da Copa Minas Gerais de Motocross

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Cassinho trabalha intensamente durante as provas que organiza – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Já estava escuro em São Gonçalo do Rio Abaixo, mas Cassio Antonio Marques, o Cassinho, trabalhava na pista de motocross que receberia a terceira etapa da Copa Minas Gerais 2014. Estava na boleia de um trator, dando trato final nas rampas, melhorando trechos que poderiam ser afetados pela chuva, que já se fazia presente.

Era sexta-feira e o próprio organizador do campeonato trabalhava no pesado, preocupado com os detalhes. No sábado, antes do sol raiar, a cena se repetia.

Cassinho é, além de gestor da Copa MGMX, um entusiasta do motocross. Quer ver o esporte grande, com brilho, com força, com gate cheio e muito público nas arquibancadas. E está fazendo a sua parte organizando um campeonato regional que tem feito a cabeça dos pilotos, do público e da crítica. A pista é boa, o atendimento é bom, há segurança, o público comparece, a premiação é boa, a televisão vem também.

Ele bateu um papo de 30 minutos com o BRMX na noite de sexta-feira, 25 de julho, lá em São Gonçalo do Rio Abaixo. Cansado, com seu sotaque mineiro, falando “uai” e “trem” o tempo todo, e um sorriso no rosto, Cassinho, 37 anos, disse como começou e aonde quer chegar com a Copa Minas Gerais de Motocross, o campeonato que tem dado um sopro de esperança aos amantes do MX brasileiro.

Confira a entrevista!

 

BRMX: Sua atividade profissional sempre foi evento, competição?
Cassio: Eu venho de família até bem sucedida no comércio, mas eu não consegui seguir a linha da família. Fui trabalhar de caminhão (motorista), em mineradora, fui operar máquina. Desde os 11 anos eu lido com máquinas, caminhão, trator. Trabalhava com meu pai e depois fui trabalhar no restaurante do meu tio. Trabalhei até meus 22 anos e vi que não gostava. Aí fui dirigir carreta, casei, fiquei seis anos naquela peleja. E nessa época eu conheci o motocross. Aí conheci o Balbi, num supercross que tinha em Belo Horizionte. Enlouqueci vendo o Balbi andando. Esse trem é bacana demais! Quero aprender. Mas não tinha condições financeiras.

BRMX: Chegou a pilotar?
Cassio: Eu lá, trabalhando na carreta e o Balbi tinha uma pista na beira da estrada. Eu passava de carreta, via, parava e ficava olhando o treino. Esquecia do serviço. Dava problema com o patrão. E o trem foi desgastando. Parei de trabalhar e fiquei seis meses desempregado. Um tio me chamou pra trabalhar em mineradora. Assumi a liderança, resolvi o problema dele, trabalhei 10 anos e era o gerente geral da mineradora dele. Dentro desses dez anos, conheci bem o motocross, comecei a andar de moto, competir, meus filhos vieram e também passaram a andar de moto. E em 2010 eu cismei de fazer corrida porque toda corrida que eu ia não tinha segurança, e eu ficava preocupado com meus filhos.

BRMX: Começou há pouco então…
Cassio: Nessa época eu conciliava. Fazia uma corrida e dava um nó no serviço de dez dias e depois voltava. Meu tio me xingava e tudo, mas segurava a onda. Aí, em 2012, criei a Copa Cassios Racing na minha pista. Tenho uma mega pista, moro na roça. Em 2013 eu quis crescer, mas o prefeito que me apoiava perdeu a política e o outro não quis mais fazer. Pensei: “tô ferrado”. Aí conheci o Cadinho (Ricardo Bento Filho), empresário bem sucedido do ramo da construção civil e politicamente também (proprietário da extinta equipe Fly Racing, que correu os campeonatos de 2011 e 2012). E ele gosta, como eu. É apaixonado (por motocross). Ele se propôs a me ajudar politicamente. Passou dez dias da primeira reunião com Cadinho, e ele me ligou dizendo que tinha uma data fechada, em Sarzedo (cidade a 30 Km de BH). Eu ainda trabalhava com meu tio. Pedi 15 dias de folga para fazer a prova, mas acabei ficando 30 dias e meu tio me cobrou: “você não vai voltar?”. Eu disse: não. Foi a hora que dei o tiro. Eu ganhava um salário de engenheiro. Comprei uma briga feia com minha família. Achei que minha mãe iria me deserdar. Tomei um prejuízo na primeira (etapa da Copa Minas Gerais de Motocross), outro na segunda, e depois equilibramos as contas. Fechamos o ano no zero a zero.

BRMX: Agora deslanchou?
Cassio: Esse ano estamos crescendo. E meu lema é “consertar o negócio”. Se tiver que gastar um pouco mais pra não dar errado e eu sair no prejuízo, vou fazer. O evento vai dar certo.

 

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Na boleia do trator – Foto: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Você sempre tem aliados fortes em cada etapa, que são as prefeituras. Sem investimento público é impossível fazer uma prova?
Cassio: É impossível. Não tem como. Se não tiver apoio das prefeituras, do estado, do governo federal, um evento deste porte não sai. Patrocínio hoje… Brasil nem comporta. Nenhuma empresa investe sem ter um grande retorno. Mesmo com toda mídia, ainda é pouco. Então estou buscando por outros meios, tenho projetos de incentivo para aprovar e estou fazendo parcerias com as prefeituras. Ainda não está um evento “verdinho”, mas estamos conseguindo fazer e evoluir. Ano que vem, com aprovação de um projeto federal, vai melhorar.

BRMX: Mesmo assim você tem alguns patrocínios da iniciativa privada.
Cassio: Red Bull é apoio visual. O colorido deles faz bem pro evento. Aí tenho um ótimo patrocinador que é o Scud / X11, que é meu patrocinador mais fiel. Ele me ajuda forte financeiramente. Tenho um apoio de mídia da Globo Minas. Temos até uma promessa de transmissão. E tenho outras empresas que me ajudam também.

BRMX: Qual a sua principal preocupação na hora de fazer uma etapa?
Cassio: A estrutura completa. Pista boa, equipe médica de ponta, estrutura pra público e mídia de ponta, e outros detalhes, como a parte da acessibilidade, que eu não abro mão. Toda etapa tem uma área para cadeirantes. E a parte política, que é meu camarote, onde eu cuido dos meus patrocinadores, apoiadores. Tem que ter premiação justa também. Tem que ter tudo.

BRMX: E como você consegue isso tudo?
Cassio: Tem que ganhar confiança. Não se pode brincar. Eu saio daqui com a sensação de dever cumprido. Eu ganho uma moto de patrocinador, que eu poderia reverter pra mim, mas eu reverto pro município. Faço um sorteio, as pessoas doam um quilo de alimento, e todo mundo ganha. A prefeitura faz a doação. Tem retorno.

BRMX: A Copa MGMX é federada?
Cassio: É federada na Federação Mineira. Todas as provas têm alvará.

BRMX: Onde a Copa quer chegar?
Cassio: Não tenho nenhuma pretensão de assumir federação ou confederação, nunca. Eu conheci a federação, sei como é, e não me interessa. Meu compromisso é com o esporte. Quero chegar ao nível do AMA Motocross. Um negócio independente, meu, que vai fazer bem pro esporte. Eu acho que eu chego lá.

BRMX: Então a Copa Minas Gerais vai sair de Minas Gerais?
Cassio: Ano que vem ela vai sair. Estou estudando outro nome e vamos ir além. Ano que vem vou dar uma descida pro sul, pra São Paulo. E acho que vai dar. Meu plano é trazer o Bubba ano que vem pra andar uma etapa. Pode não valer nada, mas vai fazer um barulho danado.

 

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Seria a Copa Minas “a nova era do motocross”? – Foto: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: Você não se importa com possíveis conflitos de interesse com as federações?
Cassio: Não quero atrapalhar CBM nem federação alguma. Eu ajudo a Federação Mineira, já organizei diversas provas deles. Ano passado, quando não conseguiram fazer a primeira etapa, levei pra minha pista, de um dia para o outro, e fizemos acontecer. Eu quero só o bem do esporte.

BRMX: Recentemente você foi para os Estados Unidos. Foi estudar o AMA MX?
Cassio: Fui para aprender mais, ver como eles fazem. Já sabia fazer pista, mas vi que eles fazem diferente, então posso melhorar. No visual também. Arco de chegada já estou copiando o AMA, as bandeiras no topo do morro, o pódio. Se for pra fazer bem pro negócio, eu copio.

BRMX: Você tem uma pista em casa. É um centro de treinamento aberto?
Cassio: Sim, é aberto para treinos. A pista está sempre em boas condições. Mas é agora que vou investir lá. É um lugar sensacional. Tem cachoeira, árvores. Também vou fazer um centro de esportes radicais em Sarzedo. Vai ser todo murado, com arquibancadas de alvenaria, posto médico. Vai ter tudo para motocross, skate e bicicross. E aí vou investir na base, fazer provas a cada 15 dias das categorias amadoras. O negócio (motocross no Brasil) está acabando. Se ninguém investir, vai acabar.