Piloto Duda Parise reclama de descaso da CBM em relação ao atendimento médico em Sorriso, Mato Grosso, e Confederação se defende

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Douglas Parise, piloto de motocross – Foto: IC Fotos / Rinaldi

 

O BRMX recebeu na tarde desta quinta-feira, 4, uma reclamação do piloto Douglas “Duda” Parise, atual 11º colocado na classificação da MX1 do Brasileiro de Motocross.

Duda estava queixoso em relação ao tratamento da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo). Disse que se sentiu “desamparado” pela entidade depois que sofreu forte queda na corrida de Sorriso, Mato Grosso, no dia 23 de junho, válida pela terceira etapa da competição.

O piloto quebrou a bacia e a clavícula por causa de um tombo na primeira bateria da sua categoria. Recebeu atendimento na pista e foi encaminhado ao hospital local, exatamente como mandam as regras.

O problema, segundo o atleta, foi depois. Ele diz que se viu sozinho no hospital, “abandonado pela entidade” a qual é filiado. E descreveu a situação:

– Caí nas costelas. Tentei me levantar e senti que tinha uma coisa solta dentro de mim. Eles me socorreram e me levaram para o ambulatório. Eu estava pegando fogo! Transtornado.. Queria me levantar, tirar a roupa. Eu ia desmaiar de calor. Tentei levantar… Até me alterei, devo ter sido mal educado com as pessoas naquele momento. Mas era pelo estado que eu me encontrava. Aí, quando levantei, senti que estava mal. Tive que deitar e percebi que não sentia as pernas. Então a ambulância me levou pro hospital, já com oxigênio e tudo, o que foi perfeito. Só que no hospital foi horrível.

– Cheguei às 14h ao hospital. A médica disse que iria fazer a cirurgia à noite. Mas pelas 22h ela decidiu que não iria fazer, pois estava sozinha. Fiquei em um corredor do hospital, largado. Nenhuma estrutura. E a CBM, que deveria ser o nosso suporte longe de casa, não me deu nenhum apoio. Quase morri. Trancou a bexiga, inchou a barriga, estava respirando por aparelhos. Os enfermeiros e os médicos me trataram muito bem, mas eu senti falta deste suporte da CBM. Eles sabiam do meu caso, sabiam que era grave, mas nem deram bola. Eu sou piloto da CBM, estava fazendo parte de um evento deles, acho que eles deveriam ter ido lá, interferido. Fiquei lá jogado, sem assistência. Meu mecânico, a única pessoa que estava comigo em Sorriso, estava perdido, sem saber o que fazer, e eu mal, sem nenhuma condição de exigir nada. Eu precisava de apoio. Me senti tratado como um “nada” – reclamou Duda, ressaltando que no dia seguinte pilotos como Balbi Junior e Marçal Müller, além de outras pessoas foram visitá-lo no hospital em Sinop, para onde precisou ser transferido para que a cirurgia fosse realizada.

Em Sinop, Duda passou por uma cirurgia e depois foi encaminhado para outro hospital, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde foi submetido a mais um procedimento cirúrgico. Ele ainda está neste hospital, se recuperando.

Procurado pelo BRMX, Firmo Alves, presidente da CBM, explicou que não sabia que o atleta teria sido mal atendido no hospital de Sorriso, e que “a CBM cumpriu todas as suas obrigações”.

– Em qualquer lugar do mundo, em qualquer corrida, a obrigação da promotora é dar pronto atendimento na pista, até porque não temos o poder de atuar fora dela. A nossa obrigação é ter ortopedista e UTI Móvel na pista. Temos que dar atendimento imediato e encaminhar até o hospital mais próximo. Tínhamos três ortopedistas lá e quatro ambulâncias a disposição, além de toda equipe. Não estou dizendo que a CBM não tem nada a ver com isso, não estou querendo me esquivar, mas é que a CBM não pode chegar no hospital e atender ele. Sai da nossa esfera. É a mesma coisa que se o piloto fosse preso e eu tentasse interferir.

– Eu fui no médico e perguntei como ele estava. O doutor Gaspar (médico da CBM) disse que ele estava bem. Falou que ele tinha uma lesão na altura do quadril. E disse que o hospital faria o atendimento, e que não o deixava sair porque tinha suspeita de hemorragia – explica Firmo.

– Veja um exemplo de fora do país. O Balbi se acidentou no Nações em 2011 (na França) e foi levado pela promotora até o hospital. De lá pra frente, tchau, era responsabilidade do hospital. Assim como no ano passado o hospital de Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul, não queria receber piloto de motocross e nós tivemos que interferir, resolver a situação, e resolvemos. Só que problema de atendimento em hospital é no Brasil todo. Não dá pra culpar só Sorriso – argumenta Firmo. 

Milton “Chumbinho” Becker, piloto e diretor da ABPMX (Associação Brasileira de Pilotos de Motociclismo Esportivo), também considera que faltou “bom senso” da CBM, que a entidade “deveria ter dado suporte e acompanhado de perto dada a situação do piloto”.

– Não adianta largar no hospital e abandonar. É uma questão específica, que requer cuidados específicos. Alguém da entidade tinha que ter acompanhado o caso. Não se trata de obrigação, mas seria de bom senso que alguém da CBM tivesse junto – opina, ressaltando que vai conversar com o presidente Firmo Alves para que situações como essa sejam melhor administradas no futuro.