Os bastidores da ida de Gustavo Pessoa para o Mundial de Motocross

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Gustavo com a roupa da nova equipe

 

Gustavo Pessoa, 20 anos de idade, está sob os holofotes dos fãs de motocross no Brasil.

A notícia que ele vai correr as últimas 7 etapas – República Tcheca, Bélgica, Suíça, Bulgária, Turquia, Holanda e Itália – do Mundial de Motocross na MX2, pela equipe Bike It Kawasaki, surpreendeu a muitos e colocou o Brasil novamente no circuito do Mundial.

Antes de Gustavo, Roberto Boettcher fez o Mundial de 1977 completo. Balbi Junior correu quatro etapas do Mundial de Motocross em 2005 – também com apoio da ASW, que agora mediou a contratação de Gustavo pela equipe britânica.

Em 2011, a Honda do Brasil iniciou o projeto de levar um brasileiro a correr todas as etapas do Mundial. Wellington Garcia começou a temporada, mas sofreu grave acidente, e depois Swian Zanoni correu algumas etapas e também se machucou.

Gustavo talvez tenha a melhor chance entre todos estes. Vai para uma equipe forte e com um detalhe interessante: tem os brasileiros da ASW – Leandro Mattos e Fernando Silvestre – com influência dentro do time, com voz ativa na condição de patrocinadores.

Nesta terça-feira, 3, conversamos com Leandro Mattos, Gustavo Pessoa e Cale Neto – chefe da equipe Honda – sobre esta negociação que levou o brasileiro ao Mundial.

Conheça os bastidores…

 

Como foi a negociação?

 

Leandro Mattos conta que a negociação esquentou quando ele foi assistir ao GP da Alemanha do Mundial, em maio.

Como Darian Sanayei – piloto da MX2 da equipe Bike It – está machucado e só volta em 2019, a equipe já pensava em um substituto. Leandro então sugeriu que fosse um brasileiro, o que seria muito bom também para o marketing da ASW.

– Peguei o Steve Dixon meio de surpresa, mas ele gostou da ideia e começamos a conversar. Sugeri que ajudaríamos nos custos, na integração do Gustavo, e eles aceitaram. Liguei para o Gustavo do aeroporto, voltando da Alemanha, e ele disse que tinha interesse. A partir daí, começamos a trabalhar esta transição, aconselhando o Gustavo a fazer um encerramento cordial com a equipe no Brasil e tudo mais – conta Leandro.

O presidente da ASW viajou nesta terça-feira junto com Gustavo para a Inglaterra e fica por lá alguns dias para ajudar o piloto nos primeiros passos.

Gustavo deve morar um período na casa de Tommy Searle, o piloto da MXGP da equipe. Depois, deve se mudar para a Bélgica para treinar com o mesmo treinador de Darian Sanayei.

Acostumado a viajar com o pai para as corridas, desta vez Gustavo estará “sozinho” nas corridas. Claro, terá o acompanhamento do mecânico e de toda equipe e seus pais poderão visitá-lo.

 

Uma oportunidade única

Gustavo em 2017, campeão brasileiro na MX2 – Foto: Cesar Araujo

 

Gustavo sabe que a chance é única, que está deixando a possibilidade de ser campeão brasileiro mais uma vez, que terá que se adaptar com toda a mudança de pistas, motos, cidades, viagens, programação de evento.

A estreia será no dia 21 de julho e Gustavo terá cerca de três semanas para se adaptar com a Kawasaki e com o time. A parte boa é que ele já fala inglês e isso facilitará sua integração.

– A minha vida inteira eu andei de Honda, foram 10 anos na marca. Sei que a moto (Kawasaki) é diferente, mas dei uma andadinha nestes últimos dias com uma aqui no Brasil e gostei. Me senti bem, como se tivesse de Honda. E a moto da equipe Bike It Kawasaki será muito melhor do que esta, inclusive com suspensão KYB de fábrica – comenta Gustavo.

– Quanto a ser campeão brasileiro, tenho em mente que já cumpri o objetivo de ser campeão da categoria no ano passado, então agora está na hora de pensar no segundo passo, na carreira internacional. Estou animado e tranquilo, mas não vejo a hora de estar lá com a equipe. É um sonho realizado estar numa equipe deste porte, sempre quis isso – afirma o piloto.

Para Leandro Mattos, Gustavo tem chances de seguir no Mundial e abrir portas.

– Gustavo tem idade para um projeto de longo prazo. Claro que vai depender da performance dele. Vamos fazer de tudo para dar certo. A ASW deve continuar no projeto ano que vem, apesar de que ainda não acertamos nada. Mas a visibilidade fora (no exterior) tá muito boa. Estamos com um distribuidor na África do Sul, nos países do norte da Europa também, está tudo bem encaminhado – comenta Mattos.

 

Como fica a situação no MX das Nações?

 

Gustavo foi convocado para correr o MXoN pelo Brasil neste ano. Leandro Mattos disse que vai conversar com Steve Dixon – chefe da equipe Bike It Kawasaki – para colocar Gustavo em Red Bud no dia 1º de outubro.

Dixon tem ótimo relacionamento com Mitch Payton, chefe da Pro Circuit Kawasaki, e poderia conseguir uma moto para Gustavo nos EUA, ou até mesmo embarcar a moto que o brasileiro utilizará no Mundial.

– Meu sonho é ir para o Nações. Nunca tive a oportunidade de ser chamado, e Red Bud é incrível, uma pista muito top, já corri AMA lá. Vou ter que andar de 450 (Enzo Lopes vai na MX2), que é um pouco mais sacrificante na parte física, judia um pouco mais, mas vou estar em boa forma e preparado para dar meu melhor – afirma Gustavo.

 

 

A Honda Brasil vai substituir Gustavo?

A última corrida de Gustavo pela Honda foi em Nova Alvorada do Sul, em junho – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Gustavo não tinha contrato assinado com a Honda e por isso seu “desligamento” foi “tranquilo”. Ele conta que comunicou a equipe da oportunidade que surgia, e o time o liberou.

Para Cale Neto, chefe da equipe no Brasil, a Honda entendeu como uma vitória do trabalho do piloto, que conquistou esta oportunidade.

Baseados nisso, o time agora entra com a meta de formar “um novo Gustavo”, investindo em pilotos emergentes.

– A Honda se sente lisonjeada por exportar um atleta para o Mundial. Se a cada três anos conseguirmos fazer isso, seria uma grande evolução para o motocross brasileiro. Como estamos no meio do campeonato, não temos mais como contratar um piloto para buscar o título, então vamos investir em alguém que possa crescer conosco. Vamos pegar um piloto em ascenção e dar suporte – diz Cale Neto.

O novo atleta da Honda deve ser anunciado em breve.