Marlon Olsen, diretor da ABPMX e ex-piloto, faz duras críticas ao presidente da CBM, Firmo Alves, que rebate

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Marlon Olsen, à esquerda, e Firmo Alves, à direita, trocaram acusações por meio de e-mails – Arte: BRMX

Marlon Olsen, ex-piloto de motocross e atual diretor técnico e financeiro da ABPMX (Associação
Brasileira dos Pilotos de Motocross), pediu seu desligamento da Comissão
Nacional de Motocross e Supercross, da CBM (Confederação Brasileira de
Motociclismo), na segunda-feira, 9 de julho.

O pedido, feito através de e-mail enviado ao presidente da Comissão, Roberto Boettcher, veio acompanhado de acusações ao presidente da CBM, Firmo Alves.

Diante deste cenário, o BRMX telefonou para Marlon Olsen para esclarecer melhor quais eram seus descontentamentos, e posteriormente conversou com Firmo Alves, que rebateu as críticas.

A Comissão Nacional de Motocross e Supercross é uma espécie de “ministério de MX/SX” dentro da CBM. Pessoas designadas pelo próprio presidente da CBM para comporem esse “ministério” deveriam ser ouvidas antes das tomadas de decisões. Para Marlon Olsen, esta comissão está cumprindo papel de “figurante”.

– Estávamos fazendo reuniões, definindo assuntos em conjunto, para depois o presidente (Firmo Alves) mudar tudo – afirma Olsen.

– Para definir o regulamento do campeonato, ele (Firmo Alves) convocou uma reunião de um dia para o outro, em Brasília. Largamos tudo e fomos, definimos, e depois ele mudou a 85cc por imposição de um patrocinador e gerou toda aquela confusão. A situação se trata de um dos maiores absurdos que já vimos um presidente cometer, que é tentar criar uma categoria de cilindrada diferente das motos que são fabricadas, com isso colocando em risco crianças de 11 a 13 anos, que poderiam ser obrigadas a competir com motos 180cc, indo totalmente contra uma tendência mundial da modalidade, que é baixar a cilindrada das motos – complementa.

O descontentamento de Marlon Olsen vai além:

– A pedido dos pilotos e através da ABPMX, pedimos ajuda de custo para os 15 primeiros pilotos da classificação para o caso das etapas mais distantes, como no Mato Grosso e no Sergipe. Isso foi simplesmente ignorado pelo presidente da CBM – acusa.

– E outra: já foi definido e aprovado em assembleia que a ABPMX receberia R$ 10 de cada inscrição de piloto, que custa R$ 180, para estar nas etapas trabalhando, fiscalizando, ajudando a fazer a prova. Nunca foi pago. Quem é o presidente para não cumprir o que foi definido em assembleia? Qual é o respeito que se têm pela instituição? – questiona.

– O presidente recebe um salário de R$ 15 mil mensais, e deve trabalhar em benefício dos seus filiados – completa.

Nesta sexta-feira, 13, Firmo Alves pediu direito de resposta para afirmação acima, em que Marlon Olsen diz que o presidente recebe um salário de R$ 15 mil.

– Isso é mentira. Nunca recebi salário da CBM. Estes R$ 15 mil aprovados em assembleia são para Fundo Perdido e servem para pagar despesas diversas como uma placa, um borracheiro, coisas do tipo, serviços que nem sempre fornecem nota fiscal. Isso que ele fez foi uma afirmação leviana e mentirosa – alega. 
 
Firmo Alves, presidente da CBM, se defende e contra-ataca, afirmando que Olsen fez declarações “mentirosas e maldosas”, com “interesses políticos”.

– Ele falou inverdades. Na questão da 85cc, fizemos reuniões e ele participou de todas. Quando o Jabuti (Paulo Della Flora, ex-diretor de Motocross da CBM) era o diretor, ele e o Marlon se reuniram. Aí, em Canelinha (Santa Catarina, na segunda etapa do Brasileiro de MX 2012), o Jabuti, eu, ele e Chumbo nos reunimos e definimos por 85cc A e B, e os pilotos poderiam escolher. No outro dia, ele (Marlon Olsen) veio com A, B, C e D. Ou seja, ele não cumpriu com o combinado. A questão nem precisava ter se arrastado, mas a gente tratava uma coisa com ele, e ele levava outra para os pilotos. Então eu e o Jabuti resolvemos. Criamos 180 e 150, o que agradou a todos. Resolvemos o problema de 2012. Para 2013 vamos rever tudo isso – diz o presidente da CBM.

– Quanto a questão do repasse a ABPMX, havíamos combinado que isso aconteceria depois que o caixa da CBM estivesse estabilizado. Agora está, e por isso vou repassar à ABPMX, ao Reinaldo (Selhorts, presidente da Associação), a partir da etapa de Aracaju. O Marlon quer fazer turismo com o dinheiro dos outros. Só que ele não sabe que eu pago um seguro para todos os pilotos, e nunca repassei isso às inscrições – se defende.

– E é bom deixar claro que a CBM não deve satisfações para o senhor Marlon Olsen. Ele não é associado, nem é piloto, nem patrocinador, nem imprensa. E quem responde pela ABPMX é o Reinaldo (Selhorst, presidente da Associação) – opina.

Para completar, Marlon Olsen alega que se a CBM não mudar o seu modelo de gestão, ficará descredibilizada e estará fadada a acabar.

– A coisa está indo pra um caminho pior do que era antes, porque o atual presidente não entende de motocross e não têm humildade suficiente para escutar quem entende. Tomamos todas as atitudes para que os pilotos fossem ouvidos, mas a CBM não está cumprindo com a sua parte. Se os presidentes das federacões não tiverem uma atitude para colocar o presidente da CBM no devido lugar, a ABPMX, contra a sua vontade, será obrigada a estudar caminhos para ela mesmo promover o seu campeonato – diz.

Estamos falando em ter três campeonatos nacionais (Superliga, Brasileiro e o terceiro da ABPMX)?

– Se os presidentes das federações não agirem, nós vamos ser obrigados a iniciar um estudo para organizar um campeonato. Se vai ter três campeonatos, não sei. Mas não podemos ficar sujeitos a vontade de uma pessoa e uma entidade inoperante – acrescenta.

– Queremos um modelo em que os pilotos tenham participação, tenham o direito de escolher os seus presidentes de federações. Porque estamos vendo a CBM mudar de presidente e não mudar de gestão. O esporte não é e não vai ser uma ditadura – conclui.

Firmo Alves finaliza:

– O senhor Marlon Olsen alega em sua carta que é fácil viabilizar patrocínios. Estranho é que, somente na Honda estive por 14 vezes para conseguir convencer seus diretores a “trazê-la de volta”. Nas outras empresas não foi muito diferente. Sabe-se lá o que seria da nossa CBM caso eu não tivesse obtido êxito nessa viabilização. Afirmo que não foi nada fácil, mas consegui ter no mesmo campeonato algo inédito, que é ter Honda e Yamaha juntas. Os patrocinadores que não consegui viabilizar, têm para o próximo ano grande chances de estarem nos nossos campeonatos – lembra.

– Não sou e nunca fui centralizador. Prova disso é que montei as comissões técnicas das modalidades, que o próprio Marlon Olsen participou com direito a voz e voto – garante.

– Há poucos dias a Comissão Nacional de Motocross escolheu o piloto reserva para representar o Brasil no Motocross das Nações. Só tomamos a decisão final após eu ter escutado, por telefone, a opinião do senhor Reinaldo Selhorst, que nesse ato representava a ABPMX. Isso desmente de imediato a sua afirmação que não dou direito a manifestação da Comissão de Motocross – alega.

– Se você for analisar, ele (Marlon Olsen) está fazendo politicagem. Quer ser presidente da Federação Catarinense, como ele já tentou ser na eleição passada. Aliás, você sabia que ele já foi presidente da Federação Paranaense e teve que renunciar por causa de erros técnicos e administrativos. Ele não está pensando só no bem do esporte – finaliza.

Marlon Olsen, outra vez, contesta:

– Nunca renunciei ao meu mandato de presidente da Federação Paranaense de Motociclismo. Pelo contrário, fui o presidente de Federação mais novo da história da CBM, com 23 anos de idade, e juntamente com a diretoria da entidade, assumimos a mesma tendo que pagar as contas atrasadas para podermos começar a nos reunir e a trabalhar pelo motociclismo do Paraná, estado esse onde eu residi por 15 anos da minha vida, onde fui sete vezes campeão estadual de MX e SX, onde ainda possuo familiares e visito seguidamente, sempre de cabeça erguida e com as portas abertas em qualquer lugar que for – garante.

– Disputei com muito orgulho e ética, com o senhor Onílio Cidade, a eleição da FCM, no meu estado de nascimento e onde resido com a minha família, e jamais confundi comprometimento com o esporte, com a segurança dos pilotos, e com as suas instituições, com politicagem barata – afirma.

– E também nunca disse que a tarefa de fechar os patrocínios é fácil, e sim que tais patrocínios de uma forma ou de outra sempre se viabilizam, pois o motociclismo esportivo brasileiro conta com muitas empresas interessadas nos seus campeonatos, e que a forma de gestão da CBM é tão importante quanto se conseguir fechar tais patrocínios, que podem ser conseguidos de forma terceirizada ou com uma pessoa contratada para tal função.


Leia a carta que desencadeou a discussão, enviada por Marlon Olsen a Roberto Boettcher:

Caro Sr Roberto Boettcher,

Gostaria de informar o meu desligamento da Comissão Nacional de Motocross e Supercross da CBM – Confederação Brasileira de Motociclismo, devido a mesma ser hoje uma comissão meramente figurativa, não sendo consultada nem respeitada nas decisões relacionadas as modalidades em questão.

O meu desligamento também se deve ao fato de não concordar com a forma que o atual presidente da CBM vem administrando a entidade, visto que o mesmo não está cumprindo com o estatuto da mesma, pois não está executando as determinações votadas em suas Assembléias Gerais, repetindo o que antigos administradores da entidade sempre fizeram, achando que estavam a frente de uma empresa privada, e que não deviam satisfações a ninguém.

No meu entendimento, administrar a CBM vai muito além de conseguir patrocinios aos seus campeonatos, que de uma forma ou de outra sempre se viabilizaram.Administrar a CBM é administrar todo o motociclismo nacional, escutar todos os seus envolvidos e trabalhar de acordo com os interesses dos seus filiados e das determinações da Assembléia Geral da entidade, órgão máximo da CBM.

Sinceramente espero que os Presidentes das Federações Estaduais tomem as devidas providências para impedir a continuação de tais atitudes, pois o motociclismo brasileiro não merece ser administrado dessa forma, e tão pouco sofrer mais uma vez com os mandos, desmandos e irresponsabilidades dos seus presidentes.

“Quem é omisso em impedir irregularidades ou injustiças, se torna tão culpado quanto aqueles que as executam”, por isso peço o meu desligamento da referida comissão.

Sendo o que tinha para o momento, reitero os meus mais sinceros votos de respeito ao senhor e a sua história no motociclismo nacional.

Att

Marlon Olsen

* Texto atualizado às 11h55 desta sexta-feira, 13 de julho.