Entrevista: Jetro Salazar, campeão brasileiro de motocross 2016

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Jetro Salazar comemorando o título de 2016 – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Jetro Salazar, 25 anos, está prestes a voltar para o Brasil defender seu título de campeão brasileiro de motocross. O equatoriano que vive no Perú está em pré-temporada para seu principal objetivo do ano, ganhar corridas no Brasil.

Ainda em Lima, na capital peruana, ele conversou com o BRMX por telefone para contar como estão os preparativos e falar de sua recente participação no Mundial de Motocross, na Argentina.

Sempre muito bem humorado, sem fugir das perguntas, com o “papo reto”, Jetro contou detalhes interessantes. Confra!

 

BRMX: Jetro, como está a vida no Perú?
Jetro Salazar: A rotina tem bastante treino. Estamos treinando em uma pista a 70 Km de casa. Acordando às 6h para treinar com meu irmão Ian e meu pai.

BRMX: Pista boa de treino aí?
Jetro Salazar: É a pista que recebeu o Latino em 2014. Ela estava fechada, mas reabriram agora. É um areião, bem pesada, mas embaixo é dura, muito parecido com do Mundial da Argentina.

BRMX: Falando em Argentina, como foi lá?
Jetro Salazar: Foi muito legal. Fomos todo mundo (família). Ficamos três dias depois. Foi legal demais.

BRMX: Corrida pegada?
Jetro Salazar: Não me senti à vontade na pista. Fomos com um pneu que era diferente pro terreno, suspensão também não estava de acordo para aquele terreno, que é um terreno muito difícil. É areia por cima e duro por baixo. Fica difícil acertar a moto. Não me acertei, mas estava perto do Top 10.

BRMX: Conte um pouco da classificatória, que você conseguiu uma grande largada.
Jetro Salazar: Peguei um lugar que parecia legal, dava pra ver a curva, fazer uma boa largada se pulasse bem do gate. E, aí tem aquela placa de metal agora. É muito legal, a moto não escorrega nada, gruda mesmo. Aí, fiz uma largada boa pra caralho, saí em 6º ou 7º na curva, e na primeira curva pra direita, passei Bobryshev e Arnaud Tonus. Depois das costelas, estava em 5º, atrás do Cairoli. Daí ele foi e eu fiquei uma volta atrás do Horebeek. A primeira volta, acompanhei. Aí começaram a me passar. Em 10min, eu estava em 11º. Tentava acompanhar, mas a cabeça é foda… eles me passavam e eu já ficava pensado em quem ia vir. Sabe? Conheço os caras, então ficava esperando vir um forte e me passar. Mas quando o Anstie me passou, eu acompanhei mais de uma volta, e ninguém mais me passou. Febvre estava tentando, mas eu já andei com o Anstie em 2012, 2013, no Mundial do México. Eu sabia que ele não era muuuuito mais rápido. Mas aí caí, e entortou tudo. Não tinha como continuar.

BRMX: Se machucou?
Jetro Salazar: Bati o pulso e a perna. No domingo estava bom. Mas domingo é complicado, peguei o gate 31, muito pra fora, muito difícil fazer uma boa largada. Me joguei, caí, e na segunda bateria tentei fazer o melhor, mas acho que saí em 17º. Estava o Rui Gonçalves comigo, e atrás o Lupino. Pensei vou acompanhar. Chegamos no Butrón. Mas aos 25min me deu uma dor na lombar muito forte. Aquela pista é muito difícil. Não tem espaço pra descansar na pista. Aí, tirei a mão.

 

Jetro Salazar ganhou 4 baterias em 2016 – Fotógrafo: Mau Haas / BRMX

 

BRMX: E agora, se preparando para o Brasileiro, focado nisso?
Jetro Salazar: Sim. Não parei muito desde a final do Brasileiro do ano passado. Terminei e fui pra República Dominicana, depois tinha umas corridas aqui em Lima (Perú). Acho que tive só uns quatro finais de semana de folga. Estou com ritmo. Têm dias que fico cansado. Estou fazendo uma pré-temporada puxada, mas tranquilo. Tenho um programa de treinamento legal. Vou em um centro de treinamento físico aqui no Perú chamado VO2. Eles montam um programa específico para cada esportista, seja futebolista, surfista, golfista, maratonista. Estudam o esporte e montam o programa.

BRMX: Está treinando de Honda ou KTM (no Perú, Jetro tem patrocínio da KTM)?
Jetro Salazar: Estou andando de KTM desde a final do Brasileiro. Só no Mundial andei de Honda. Fui para Curitiba treinar para me acostumar com a moto antes do Mundial.

BRMX: Isso não atrapalha na sua preparação para as corridas no Brasil, que você vai andar de Honda?
Jetro Salazar: Atrapalha porque a ciclística é diferente. Mas na segunda-feira (dia 17) já vou para o Brasil e fico até o fim do ano só de Honda.

BRMX: Vocês, da Escuderia X, vão andar de Honda 2016. Confere?
Jetro Salazar: Sim, e isso tem o lado bom e o lado ruim. O bom é que vou andar com o mesmo preparo do motor do ano passado e já temos tudo acertado. Mas seria legal conhecer a moto 2017, que melhorou muito. Tudo tem prós e contras.

BRMX: Por você ser o atual campeão, sente mais pressão?
Jetro Salazar: Não muda nada. Temos que fazer o mesmo trabalho, mesmo planejamento. Pensar a cada corrida. Não sei quantas corridas vai ter, o que é complicado, não dá pra planejar direito.

BRMX: Vai andar com o número #1?
Jetro Salazar: O Brasileiro vou andar com o #1. O Arena com o #920. A equipe tem uma regra que tem que usar o número 9. Eu não gosto muito, mas é da equipe, eu aceito. Aqui (no Perú) uso o #60, mas #960 acho feio. Então vou de #920.

BRMX: A briga vai ser boa.
Jetro Salazar: Sim. Acho que Jean, Campano, Paulo, talvez o Hector, os Ratos, Matiss também está forte. Vai ser pegado. Legal para o público.

BRMX: Veremos pegas como o da final de 2016?
Jetro Salazar: Esse foi bom (com o campano), mas ninguém ultrapassou ninguém. A corrida foi boa, intensa, mas o melhor foi em Extrema, que eu larguei atrás dele e passei. Trindade foi a melhor corrida pra mim porque ganhei com folga, mas a de Extrema era o ponto chave para eu entrar na briga pelo campeonato. Foi aí que percebi que poderia ser campeão. Na primeira bateria, tomei uma pedrada, entrou muito areia no meu olho, tive que lavar, foi complicado. E depois ganhei do Campano largando atrás. Aí, em Morrinhos meti melhor volta, mas a moto não ligou na largada. Eu estava 17 pontos atrás. Mas fui buscar.

 

Fora das pistas

BRMX: Outra coisa interessante que está acontecendo nesta tua pré-temporada é o “A Fondo Peru” (podcast que fala de motocross). Como está sendo a experiência?
Jetro Salazar: O programa é do meu irmão e do Julian. Eles começaram. Quando eu vim, depois do Brasileiro, fui convidado, e fiquei. Tá bombando! Eu gosto muito dos sábados do AMA SX. Assistir e comentar. Tem muitos aqui que não falam em inglês, não entendem, e a gente pode ajudar. Eles ficam muito felizes. Tem muita gente do Brasil também.

BRMX: Além disso, o que você faz nas horas de folga?
Jetro Salazar: Gosto de ir ao cinema, mas nem tenho ido muito. Semana passada eu e a Astrid (namorada) fomos ver a Bela e a Fera… mas que lixo de filme. Quase fui embora. Uma merda de um musical. Pelo trailer não sabia que era um musical. Eu gosto mais de filmes de ação, matança, terrorismo (risos).

 

Jetro – Fotógrafo: Mau Haas / BRMX