ENTREVISTA: Stefany Serrão, bicampeã brasileira de motocross na categoria MXF

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Stefany Serrão comemora 20 anos nessa terça-feira, 15 de setembro – Crédito: Carol Sarto

 

A paulista Stefany Serrão, prestes a completar 20 anos de idade, conquistou o título de bicampeã brasileira de motocross na categoria MXF nesta temporada de 2015. De forma invicta e com os melhores tempos nas três etapas, ela confirmou o favoritismo e comemorou a hegemonia com sua equipe, a IMS Honda. No ano passado, a conquista veio em prova única, na final do campeonato, quando venceu a prova que contou com nove pilotos de todo país.

A categoria MXF é recente no calendário oficial do Brasileiro de Motocross, apesar de já existir em nível estadual há mais tempo. Incluída no calendário regular em 2012, quando foi vencida pela gaúcha Maiara Basso, a categoria ainda carece de uma representatividade maior e carinho maior pelos organizadores, mas caminha rumo ao desenvolvimento.

O ano de estreia de Stefany foi em 2013, quando a piloto ficou em segundo lugar, 14 pontos atrás da mineira Mariana Balbi, que é o grande expoente do esporte feminino no Brasil, com participações no WMA (o AMA Motocross feminino) e no Mundial MX, além de ser uma das grandes responsáveis pela categoria existir no cenário nacional.

Com empenho, dedicação e apoio de grandes marcas da indústria, como IMS Racing e Honda, Stefany vem se destacando nas últimas temporadas. Conquistou o título inédito no motocross feminino brasileiro de campeã latino-americana, em 2014, no México, e por conta disso foi convidada a correr a abertura do Mundial de Motocross 2015, no Catar.

Divertida, tranquila e focada nos objetivos, Stefany Serão conversou com o BRMX nessa sexta-feira, 11. Confira a entrevista!

 

BRMX: Vamos falar um pouco sobre a sua trajetória… Como você começou? Em quem você se inspirou?
Stefany Serrão: Minha família sempre foi envolvida com motos. Fomos assistir um Brasileiro em Jundiaí, São Paulo, em 2002, e eu vi algumas crianças andando de moto pelo box. Fiquei maluca, enchi o saco do meu pai até que, em agosto do mesmo ano, ele me deu uma PW50. Acho que eu nunca vou esquecer quando ele apareceu com aquela “motinha” num hotel fazenda que a gente estava. Bom, de lá pra cá, mesmo com um monte de fraturas e algumas cirurgias no currículo, eu nunca mais parei. Motocross é algo que está no meu sangue, minha maior paixão. E os pilotos que eu admiro muito são o Ricky Carmichael e o Rafael Ramos.

BRMX: Gostaria de fazer uma análise sobre a situação geral da categoria feminina. Há incentivo? Você se sente valorizada? Você gostou de correr o Brasileiro de Motocross separado das categorias Pró?
Stefany Serrão: Hoje em dia, a categoria feminina vem ganhando espaço. Eu gostei da divisão. Claro, preferiria que corrêssemos juntos com o Brasileiro Pró, más é melhor correr três etapas de um “segundo” campeonato do que apenas uma única etapa valendo o título (como em 2014). Além disso, eu não corro nenhum campeonato regional nem campeonatos de veloterra, ainda assim acompanho, vejo que cada vez mais os gates estão cheios nas categorias femininas. O incentivo ainda é pouco, acho que no país como um todo. A situação até para os profissionais é complicada. O nosso país atravessa uma forte crise, então o investimento está complicado. Agora, ainda assim tivemos o nosso campeonato sem nenhuma etapa adiada, com boas pistas, então acredito que em pequenos passos a categoria se desenvolve.

BRMX: O que você espera do motocross feminino no Brasil no futuro?
Stefany Serrão: Espero que continue caminhando, com mais garotas competindo. Vejo que tem muita menina andando de moto, mas poucas competindo. Eu acho que o campeonato deveria seguir junto com o Pró, com mais etapas, mesmo sabendo que é complicado. As meninas têm medo de ir a um Brasileiro e não conseguir andar na pista, mas só assim vamos evoluir. A Confederação deveria dar um apoio melhor.

BRMX: Quem são as meninas que devemos prestar atenção para o futuro?
Stefany Serrão: As Cazadini (Lays e Marcely) estão cada dia mais rápidas. A Lays, que ainda é uma criança, já vem mostrando que tem muita garra. Vai dar trabalho no futuro, com certeza.

BRMX: Vocês podem correr na categoria MX3 também. É uma boa? Qual a maior dificuldade que você enfrenta em correr contra os homens?
Stefany Serrão: Correr na MX3 é a coisa que mais me motiva. Eu adoro porque sempre corri com os meninos durante toda minha “formação” como piloto. Correr com os homens é diferente, um desafio a mais, não do tipo “vou lá ganhar deles independente do que eu tenha que fazer”, mas do tipo, “eu posso e eu consigo andar junto com esses caras”. Se adquire muita experiência correr com o Chumbinho, Roman Jelen, Duda Parise. Não é nada fácil, é preciso ralar muito se quiser acompanhar. Ainda que de longe, ainda, tô chegando! Hahahaha… Brincadeiras à parte, é muito bacana, eu me divirto muito em todas as corridas de MX3.

 

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Stefany Serrão – Crédito: Idário Café

 

BRMX: Como funciona a sua rotina? Você leva uma vida exclusivamente dedicada ao motocross ou tem alguma atividade paralela?
Stefany Serrão: Não, eu faço um monte de coisa, hahaha. Treino de moto de duas à três vezes por semana, e às vezes aos sábados. Além disso, curso o terceiro ano de Administração na PUC, também trabalho na empresa da minha família todos os dias à tarde. Por isso, minha rotina é um pouco complicada. Segunda-feira eu treino na academia com o meu personal pela manhã, quarta e sexta pedalo em uma academia especializada aqui em São Paulo, já as terças e quintas são um pouco mais puxadas, por conta do treinos de moto serem no interior, a uma distância de 100 km, mais ou menos, então eu preciso levantar cedo pra fugir do trânsito da cidade. Acordo às 6h, treino, almoço e vou para a empresa, depois vou pra faculdade e volto pra casa pelas 23h.

BRMX: Gostaria que você falasse da sua participação no Mundial, no Catar. Como foi estar lá? Você vai repetir a experiência em 2016?
Stefany Serrão: Foi absolutamente incrível, foi a realização de um sonho! Recebi o convite através da FIM Latin America. Eles me disseram que teriam um apoio para que a campeã do Latino-Americano de 2014 fosse representar o continente no Mundial, um apoio da QMMF (Federação de Motociclismo do Catar). Bom, já era uma honra enorme, então conseguimos uma CRF 250 zero pra competir lá, porém do ano de 2013. Fui com o meu cunhado, Jean Ramos. Chegamos ao Catar na quarta-feira, os treinos começaram na sexta, eu estava beeeem ansiosa. O Jean me ajudou muito, pois é um piloto que sabe o que o outro passa nesses momentos. Nos treinos, me sentia bem, mesmo sendo tudo diferente. No classificatório, estava em sétimo lugar, há uns dois segundos da quinta colocada. Quando fui abrir uma volta boa, caí e quebrei o punho de acelerador… aí começou a minha saga com Jean em busca de um punho… hahahaha. As pessoas não tem noção do que é sair procurando pelos boxes um punho, mas, com muito sacrifício nós achamos.

Sábado eu estava relativamente tranquila, pelo menos até a hora de alinhar no gate. Lembro de que alinhei a minha moto totalmente original, olhei pro lado e as meninas com motos de fábrica do meu lado e pensei “agora fodeu”… hahaha. Olhei para trás e o Jean me disse “se diverte X9, que vai dar tudo certo”. Nesse momento, eu coloquei na minha cabeça que eu tinha que fazer aquilo que eu sabia fazer e eu sempre tive comigo que toda vez que eu sair da pista sabendo que fiz tudo que eu podia, valeu a pena.

Na primeira bateria larguei em quinto e na segunda volta, quando fui ultrapassar a quarta, tomei um baita tombo. Passaram em cima de mim e só finalizei a prova. Na segunda bateria, estava com muita dor nas costas, mas não podia desistir, larguei bem e finalizei a prova com o décimo lugar.

Foi um dos finais de semana mais intensos da vida, e mais gratificantes também. Representei o meu país e meu continente com muito orgulho. Foi uma boa estreia, andei bem e só tenho que agradecer a FIM Latin America, que fez isso possível, e ao Jean, que segurou a barra e me ajudou muito! Mas, infelizmente por enquanto não tem nada certo para correr de novo em 2016. Vamos aguardar e ver.

BRMX: Por que você usa o número 29? Tem algum significado especial?
Stefany Serrão: Na verdade, nada muito especial não. Comecei com o #7, tinha um carinho enorme por esse número. Depois, por conta de ranking, tive que mudar. Em 2010 tive a oportunidade de voltar a usar mas preferi deixar eternizado com o Rudinick e o Marrom, que foi um grande ídolo meu. Aí pensei em alguns números, e cheguei no 29 sem muitos mistérios. Gostei dele, e mesmo depois de ser campeã ano passado quis continuar com ele e não o #1. Vou com o fiel #29 até o fim da minha carreira. Bacana é que até o Mundial eu fiz de #29.

BRMX: Por fim, fique à vontade para dizer algo mais, agradecer seus patrocinadores…
Stefany Serrão: Eu gostaria de agradecer à minha equipe, IMS Honda. Já estamos juntos há cinco anos e todo trabalho feito por nós está valendo a pena. Agradeço também a minha família, minhas amigas e meu treinador, sem vocês não teria chegado até aqui! #teamtefa