ENTREVISTA: Roman Jelen, o gringo gente fina, amigo do Cairoli, e cheio de boas intenções com o motocross brasileiro

||

romanjelen_copabrasil
Roman Jelen é campeão da Copa Brasil de Motocross 2015 na MX3 – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Roman Jelen, 37 anos, reprogramou toda a sua vida em 2015. Mudou de país, voltou a correr profissionalmente após dez anos e garantiu dois títulos na temporada passada, sendo campeão da categoria MX3 na Copa Brasil de Motocross e na Superliga Brasil de Motocross pela equipe IMS Racing.

Em 2006, quando encerrou a carreira profissional após correr cinco temporadas completas do Mundial de Motocross, o esloveno o fez por causa de um acidente sério sofrido em uma competição de Supercross, na qual quebrou o pulso em vários pedaços. A partir daí, Roman aproveitou toda a experiência que tinha no meio e abriu uma escola de motocross na Eslovênia, seu país natal – veja onde fica clicando aqui.

Agora, em ótima forma física, simpático e de bem com a vida, Roman Jelen topou conversar com o BRMX sobre toda a sua carreira e os planos para 2016. Confira!

 

Como você analisa a temporada 2015?
Roman Jelen: A temporada 2015 foi legal. Quando me mudei para o Brasil, não sabia o que iria acontecer, pois não vim com a intenção de correr. Com o meu amigo Mike (da IMS), tive a possibilidade de conhecer o Wellington Valadares, que me deu a possibilidade de correr para a IMS. Assim, depois de duas semanas que no Brasil, comecei a participar dos campeonatos. Conheci muitas pessoas, pilotos e fiz novos amigos, então acho que a temporada de 2015 foi muito boa! Ganhei competições, títulos, e permaneci no esporte que é minha paixão de uma vida inteira!

O que fez durante a pré-temporada para 2016?
Roman Jelen: Me preparei fisicamente, treinei de bicicleta e na academia, para ter uma boa condição física para temporada de 2016.

Quais são os planos para 2016?
Roman Jelen: Vou participar do Brasileiro de Motocross e da Copa Minas Gerais de Motocross (Roman respondeu antes da notícia do cancelamento da temporada da Copa Minas). Vou ajudar a equipe Honda se eles precisarem de alguma coisa e vou me dedicar a fazer a minha escola de motocross, porque penso que tenho muito a ensinar. É muito importante para todos os pilotos, amadores ou não, adquirir um bom feeling e saber como lidar com a moto para poder se divertir com segurança para evitar de se machucar.

O que fez você mudar para o Brasil?
Roman Jelen: A minha esposa é brasileira. Viemos muitas vezes aqui no Brasil de férias e no ano retrasado começamos a conversar – brincando, do nada – sobre mudar para cá. E depois o assunto ficou sério. Estudamos todas as possibilidades para nossa família ser feliz aqui e decidimos nos mudar. Um dos motivos principais que fez a gente decidir é o clima, sempre calor, muito favorável para a minha profissão. Lá na Europa é muito mais frio, a vida é mais estressada… Estou muito satisfeito dessa nossa escolha.

Quando o motocross surgiu na sua vida e como foi toda a trajetória?
Roman Jelen: Comecei a andar de moto com nove anos de idade. Fui cinco vezes campeão esloveno. Na minha carreira, corri com todas as motos, mas o importante para mim foi ter tido a sorte de ter um instrutor de motocross que me ensinou tudo o que eu precisava aprender para chegar ao Mundial de Motocross. Nem todos entendem o quanto é importante ter uma pessoa com experiência que ensine as técnicas para melhorar cada dia mais. Posso dizer que a coisa mais importante da minha carreira foi o meu instrutor, Jani Sitar. Ele veio da escola de Harry Everts, Jacky Vimond e Donnie Hansen. Sem ele, nunca teria alcançado o nível que alcancei. Até o ano 1997 participei dos campeonatos na Eslovênia e fui em algumas competições internacionais. No ano de 1998 e 1999, participei do Europeu de Motocross de 125cc e terminei os dois anos em quarto lugar. Naquela época era muito difícil para nós, da Eslovênia, entrar nos times porque não tínhamos internet e era difícil mostras as próprias capacidades aos chefes de times. Fui o primeiro a conseguir, pois um dia estava treinando em Mantova, na Itália, e o manager da KTM (do Team Cinti) me escolheu, e assim começou a minha carreira. A minha dificuldade foi que tive que passar da minha categoria 125cc dois-tempos para uma KTM 540cc quatro-tempos semioficial, e não foi fácil mesmo, porque as competições eram duas baterias de 40 minutos mais duas voltas.

 

jelen_mauhaas-1
Em sua primeira temporada no Brasil, Roman Jelen conquistou o título na Superliga – Crédito: Mau Haas / BRMX

 

Qual a maior conquista de toda sua carreira?
Roman Jelen: Os melhores anos da minha carreira foram o de 2002 e 2003 com a Honda Martin Racing Team. Nesse time, meu mecânico era o brasileiro Marcus Freitas, e os motores das motos eram preparados pelo mecânico Enrico Tommasin – que é o mesmo mecânico que hoje prepara as motos para os pilotos Honda Brasil. Em 2003, acabei o Mundial de Motocross (categoria MX Open) em sexto lugar. A corrida mais importante foi em Montevarchi, na Itália. Cheguei em terceiro lugar. Mesmo assim dou muito valor ao ano de 2002, quando acabei em sétimo lugar no Mundial na categoria 500cc, pois foi um ano difícil, com pilotos muito fortes como Stefan Everts, Joel Smets, Marnique Bervoets, Yves Demaria, Andrea Bartolini, Vico Garcia, Brian Jorgensen, e outros. Recentemente, em 2013, participei do WorldVet Race em Glen Helen, nos Estados Unidos, na classe 30+ Pró, e cheguei em terceiro lugar.

Qual a diferença da rotina que levava na Eslovenia e agora no Brasil? Muda alguma coisa? Nos treinos, preparação física, alimentação.
Roman Jelen: Mudou muito, pois nos últimos dez anos eu estava mais concentrado na minha escola de motocross. Treinei muito pouco com a moto, o meu objetivo era mais ensinar os jovens talentos e ajudar eles com contatos importantes. Nunca pensei em voltar a correr e participar de campeonatos como está acontecendo aqui no Brasil.

Você viveu o Mundial de Motocross durante quantos anos? Chegou a fazer uma temporada completa, participando de todas as etapas?
Roman Jelen: Sim. Participei cinco anos no Mundial de Motocross. Comecei no ano de 2000 como piloto da KTM e fiquei dois anos com essa equipe. Depois em 2002 e 2003 fiquei com o equipe Honda Martin Racing junto com o Cairoli (mas ele corria na classe 125cc). Essa equipe hoje continua a mesma Honda oficial, só não se chama mais Martin.

Você ainda tem contato com os pilotos do Mundial? Fala com algum deles frequentemente?
Roman Jelen: Sim, claro. Tenho contato com o Cairoli, mas em absoluto com quem tenho mais contatos é o piloto dinamarqueses Brian Jorgensen. Hoje em dia é muito mais fácil com as redes sociais, sempre rola um comentário nas foto, nos vídeos… Mas com Brian uma vez por ano nos encontramos na Suécia e fazemos um curso de motocross juntos.

 

Jelen_2003
Brian Jorgensen, Antonio Cairoli e Roman Jelen em 2003 – Crédito: Arquivo Pessoal

 

Já aprendeu a falar português?
Roman Jelen: Ainda estou aprendendo, devagar eu chego lá. Mas para as entrevistas, a minha esposa me ajuda (risos).

Como você avalia o motocross brasileiro? Em quais quesitos podemos evoluir?
Roman Jelen: Adoro o motocross brasileiro, tanto a organização como todos os pilotos são unidos. O nível da MX1 e da MX2 é muito elevado. Acho também importante o Arena Cross – mesmo alguns pilotos não gostando da pista pequena, é um bom treinamento para ter uma base de Supercross. A coisa que sinto mais falta aqui no Brasil são pistas de areia, porque acho que os pilotos precisam aprender essa técnica também. O que vocês precisa ser melhorado, com certeza, são os preços das motos. Esse esporte seria muito mais praticado e acessível a todos.

Qual a sua ligação com a IMS e Wellington Valadares?
Roman Jelen: Conheci o Wellington no ano passado através do meu amigo Mike. Vejo ele como um amigo que me ajudou muito quando vim morar no Brasil. Gosto muito da IMS como marca e como empresa, e adoro ficar com o pessoal da equipe. Penso que também posso trazer bastante coisas positivas a eles.

Como é o motocross na Eslovênia? Muito diferente do Brasil?
Roman Jelen: O motocross não é muito conhecido e popular na Eslovênia. Agora, com o ótimo trabalho que está fazendo o piloto do Mundial, Tim Gajser, esse esporte começa a ser muito mais respeitado no nosso país. As pistas da Eslovênia são mais ou menos parecidas com as do Brasil. Talvez não sejam muito técnicas, mas temos a sorte de morar perto da Itália. Com três ou quatro horas de carro você pode treinar em qualquer pista lá. Digamos que por ser um país tão pequeno, temos mais pistas do que a Áustria e a Suíça.

Quem você acha que ganha o Mundial deste ano? Por quê?
Roman Jelen: Sinceramente, acho que o Tim Gajser tem boas possibilidades de ganhar. Ele não tem medo de ninguém, é muito bem preparado fisicamente e psicologicamente, e está fazendo um ótimo trabalho com o pai dele – ainda mais que ele corre com Honda (risos) – mas não vamos esquecer também do Tony (Antonio Cairoli) e do Romain Febvre. O Febvre no ano passado foi consistente e tem velocidade. O Tony é sempre um talento natural, se ele não se machucar, pode ganhar facilmente.

Quantos anos você tem?
Roman Jelen: Sou idoso (risos). Tenho 37, chegando nos 38.

Você acha que pode ajudar o motocross brasileiro a melhorar? Como? O que você pretende fazer para ajuda neste aspecto?
Roman Jelen: Tudo depende. Posso ajudar sim, com certeza. Posso ajudar os pilotos com a minha experiência que adquiri em todos esses anos no nível Mundial e gostaria de ajudar as equipes também. Às vezes fica difícil por um problema econômico. Acho que as equipes precisam de materiais de alta qualidade para a preparação das motos e de profissionais qualificados, com experiência. Infelizmente custa caro e a importação fica difícil… Então o problema fundamental é o budget (orçamento).

Fale mais sobre a ideia de ter uma escola de motocross no Brasil?
Roman Jelen: O motocross é um esporte muito legal, mas ao mesmo tempo perigoso. Se você não tem uma base técnica muito boa, você pode se machucar muito feio. Às vezes tenho a impressão de que algumas pessoas pensam que seja suficiente ter coragem pra andar de moto, poucas pessoas dão valor à técnica no estilo e na segurança. Para quem estiver interessado, os contatos para minha escola de motocross são:

Facebook: Roman Jelen 912 MX School
Instagram: romanjelen912mxschool
E-mail: [email protected]
Whatsapp: ‭+55 (15) 99857-2633‬
Youtube: 912roman

O que você faz além do motocross? Você tem outra atividade?
Roman Jelen: O motocross é o meu único trabalho. Sempre foi a minha vida inteira e acho que sempre será! Gostaria de agradecer ao BRMX pela entrevista e todos os meus patrocinadores pelo apoio!

 

Jelen_2005
De Suzuki em 2005 – Crédito: Arquivo Pessoal

 

Jelen_2010
Treino na Espanha em 2010 – Crédito: Arquivo Pessoal

 

Jelen_1998
De Honda em 1998 – Crédito: Arquivo Pessoal

 

Jelen_Kawasaki
De Kawasaki – Crédito: Arquivo Pessoal

 

Jelen_1999
“A coisa mais importante da minha carreira foi o meu instrutor, Jani Sitar” – Crédito: Arquivo Pessoal

 

jelen_mauhaas
Na segunda etapa da Copa Brasil de Motocross, disputando com a lenda brasileira Milton “Chumbinho” Becker, que é 12 anos mais velho que Roman – Crédito: Mau Haas /BRMX