ENTREVISTA: Balbi Junior comemora título no fim de 2015 e sonha com novas vitórias em 2016

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Balbi Junior encerrou a temporada com vitória na Copa Minas – Foto: Mau Haas / BRMX

 

Antonio Jorge Balbi Junior, 34 anos, acaba de se tornar campeão da categoria principal da Copa Minas Gerais de Motocross 2015, o campeonato regional mais apreciado pelos pilotos profissionais.

Encerra assim seu 18º ano de atleta profissional. Uma história recheada de grandes momentos, de feitos inéditos para o motocross brasileiro, de títulos importantes. E em 2016 quer mais. No próximo ano, seguirá competindo pela Pro Tork 2B Kawasaki Racing ao lado de sua irmã, Mariana, com ganas de vencer na MX1.

Atencioso e muito animado, o piloto respondeu algumas perguntas do BRMX antes do Natal. Confira o que essa lenda do esporte brasileiro tem a dizer!

 

BRMX: Como você avalia toda a temporada 2015?
Balbi Junior:
Avalio de forma bastante positiva, mas de maneira nenhuma foi um ano fácil. Tive muitos altos e baixos. Fazendo um resumo, lembro que na primeira etapa do Brasileiro sofri uma queda muito forte que acarretou algumas sequelas. Me machuquei, tive uma lesão na cervical, tive problemas no tornozelo e mesmo assim consegui completar a prova no dia, mas os problemas nas provas seguintes foram maiores. Essa lesão na cervical acabou me fazendo sofrer muito com o problema de arm pump. Foi um período difícil, perdi praticamente dois meses e meio só fazendo fisioterapia, não treinando. Até que no meio da temporada, as coisas começaram a se alinhar, eu me recuperei das lesões, voltei a me sentir bem fisicamente e aí comecei a subir novamente. Fiz uma excelente prova em Ibirité, quase venci na Copa Minas Gerais. Um pouco depois fui para Indaiatuba, na Copa Brasil e Brasileiro, fui muito bem, tinha chance de brigar pela vitória na primeira bateria, mas acabei estourando meu motor. Decidi ir correr nos Estados Unidos e chegando lá fui para a moto 2016, demorei um pouco para me adaptar, mas andei muito bem em Glen Helen. Então voltei para o Brasil e tive que correr de 2015, não estava confortável, mesmo assim fiz uma prova razoável em São José, e quando fui para moto 2016, que eu imaginava que daria um grande salto, eu acabei tendo que andar dois degraus para baixo, pra poder evoluir. A gente achava que tinha um bom acerto na moto, mas o acerto que a gente conseguiu nos Estados Unidos não funcionava no Brasil e aí eu realmente tive que começar do zero. A prova de Tapejara foi muito ruim, além da moto não estar legal, eu estava muito gripado, tomando antibiótico, mas aos poucos fui ficando mais confortável. Na final do Brasileiro, no Rio de Janeiro, comecei a reencontrar o Balbi novamente. Aquele cara que talvez estava em Indaiatuba, que estava em algumas provas da Copa Minas Gerais antes de ter trocado de moto, depois de ter superado as lesões. Liderei boa parte da segunda bateria e cheguei em segundo. Vim de trás, ultrapassei alguns pilotos. Senti que voltava a ganhar e estava andando no caminho certo, então me foquei muito para conquistar o campeonato na Copa Minas Gerais. E na última prova do ano, parece ter dado certo. Estava em boa forma física, a moto rendeu muito bem e o resultado foi excelente. Então, entre altos e baixos, eu acho meu ano foi igual aquela novela que tudo dá errado, um monte de coisa acontece, mas no fim tem um final feliz.

 

BRMX: O título da Copa Pro Tork Minas Gerais de Motocross 2015 lhe trouxe de volta a emoção das grandes conquistas?
Balbi Junior:
Sim, com certeza.
A prova estava lotada, com mais de 15 mil pessoas e não sei, me senti diferente nesse dia. Fiz o primeiro tempo no treino livre, novamente fiz a pole na última volta do treino cronometrado, entrei para a MX1, e daí eu e Jean colocamos fogo em Itabirito. A gente fez uma disputa bacana, mas vale ressaltar, muito limpa. Respeito muito o Jean e sinto que esse respeito é mútuo. Foi muito bacana disputar com ele, consegui superá-lo na MX1. Voltei para a última bateria do dia, na Superfinal, não larguei bem, e novamente eu e Jean tacamos fogo em Itabirito, porque fizemos um duelo a parte. O objetivo dele era me vencer e eu vencer ele. Era o que a gente precisava para ser campeão da principal categoria e levar o carro 0km para casa. Lutamos muito, eu via que tentava de tudo, fiz muita força, usei toda a energia que eu tinha, e quando eu dava uma sequência de boas voltas, e achava que abria alguma coisa, tinha aberto apenas meio segundo dele. De repente cometia um erro e ele estava na minha cola de novo. Foi bacana, eu consegui ultrapassar ele no início da prova e manter ele na cola até o final, vencendo o título. Foi uma emoção fantástica! Sinceramente, eu não me sentia tão bem, tão realizado há muito tempo na minha carreira. Já tem algum tempo que eu venho buscando vencer um título importante como foi esse da Copa Minas Gerais, onde todo mundo participou, o Campano só deixou de participar da última etapa porque ele não tinha mais chances, ou seja, eu e Jean protagonizamos e fomos os melhores no campeonato, vencemos quando era para vencer, e na final a gente conseguiu disputar. O Jean ficou com a melhor na MX1 e eu acabei levando a Superfinal. Não só eu, mas principalmente toda a minha equipe, a Pro Tork 2B Kawasaki Racing merecia encerrar esse ano de uma maneira positiva, já que trabalhamos tanto para isso.

 

BRMX: Como você vê o crescimento da concorrência? Com Jean Ramos, Paulo Alberto, Carlos Campano…
Balbi Junior: Vejo com bons olhos, é muito bacana. Sempre fui um cara que nunca tive medo de desafio, tanto que depois de ter vencido três anos direto no Brasil, eu sentia que em 2003, 2004, não tinha mais concorrência. Sonhava em correr nos Estados Unidos, e foi o que fiz. Fui disputar o campeonato mais difícil do mundo. Então, acho muito legal poder estar correndo no Brasil com excelentes pilotos, os melhores do Brasil. O Campano, com destaque internacional, o Paulo Alberto também. É muito legal, o nível está muito alto e acho que é muito positivo para o campeonato. Acho apenas que falta um pouco a indústria, a mídia, aprender que as coisas mudaram e valorizar. Hoje em dia, para mim, um piloto que chega entre os cinco primeiros no Brasileiro na categoria MX1 tem que ser valorizado, tem que ter um bom salário, uma boa equipe. Infelizmente, o brasileiro ainda está “se pegando” que só o vencedor tem valor, e não é bem assim. Acho que hoje em dia, a categoria MX1 no Brasil, se o cara está entre os dez da categoria, ele é um puta piloto. Acabou que o ano foi muito legal. A prova de que foi super competitivo, é que cada um dos pilotos citados, levou um campeonato. O Jean levou a Superliga, o Paulo Alberto o Arena Cross, o Campano o Campeonato Brasileiro de Motocross e eu a Copa Minas Gerais. Então, é a prova e a certeza de que é muito disputada a temporada brasileira.

 

BRMX: Qual foi a melhor corrida de toda a temporada?
Balbi Junior: Não tem como dizer que não foi a final da Copa Minas Gerais em Itabirito. Foi um dia fantástico! Nem nos melhores dos meus sonhos eu imaginava isso. Consegui andar aquilo que não andava há muito tempo. Sinceramente, em algum momento eu até me surpreendi em ter conseguido bater de frente com o Jean e superar ele. Ele, que foi um cara que teve uma temporada fantástica, me tornei fã do Jean, em algumas participações vi ele andar muito e ser muito superior, quando venceu a Superliga ou até mesmo quando ele e o Campano andaram tão próximos ao Antonio Cairoli em São José, então fiquei muito feliz com esse resultado. Agora, a energia e o público mineiro me incentivaram muito. Eu vi pessoas vibrando de uma maneira que, sinceramente, é difícil de explicar, coisas que vi raras vezes no motocross. Nunca me senti tão querido, tão ovacionado por uma torcida, foi fantástico. E no final do dia, levar o carro 0km e ainda pedir a minha namorada em casamento, ela aceitar, foi um negócio que eu já vinha planejando há muito tempo. Queria fazer de uma maneira especial, na frente das pessoas, que são minha família, a família do motocross, mas eu queria que fosse com uma vitória. Essa aliança vinha guardada já no meu motorhome há algum tempo e essa vitória não vinha, e não podia ser mais especial. Foi um dia fantástico pra mim e um dos melhores momentos da vida e da minha carreira, com certeza.

 

BRMX: Quais são os planos para 2016?
Balbi Junior: Os planos para 2016 não mudam muito do que foi 2015. Já renovei com a Pro Tork, estamos muito próximos do acerto com a Kawasaki, é só questão de detalhe e contrato. Estamos buscando novos parceiros, mas a equipe continua muito semelhante. E, em paralelo, com a prioridade tão grande quanto a minha carreira como piloto, vou dar andamento a Balbi School, que já na primeira semana de janeiro começa com os trabalhos de pré-temporada. É algo que tenho me divertido muito e me realizado bastante como professor, como instrutor. É muito especial e tem me feito muito bem, estou muito feliz com os resultados que temos tido com o Balbi School.

 

BRMX: Há quantos anos a Balbi School existe? Como funcionam os cursos?
Balbi Junior: Balbi School existe há muito tempo. Meu pai é o grande fundador. Ele começou a dar cursos de motocross desde 1992, 1993, desde então a gente vem dando os cursos. Já temos vários alunos formados. O Swian Zanoni treinou muito com a gente, antes de se tornar o piloto que se tornou. Depois o o atual campeão brasileiro de Enduro, o cara de maior destaque na modalidade, o Rômulo Bottrel. Meu pai foi campeão com o Marronzinho. Basicamente, são dois tipos de curso. Os cursos de pré-temporada (de férias), num CT apropriado para isso, com hospedagem, alimentação, uma didática muito bacana, algo muito parecido com o que tenho para mim como pré-temporada, e temos também o Balbi School de fim de semana, que é um curso mais rápido. Acontece geralmente no sábado e no domingo e é itinerante e a gente tem rodado o Brasil inteiro. A Marina foi até para a Guatemala, e eu fiz um curso desses nos Estados Unidos.

 

BRMX: Você pretende ir para os Estados Unidos na pré-temporada ou durante o próximo ano?
Balbi Junior: Sim. Logo após o nosso período do mês de janeiro com o Balbi School de pré-temporada, em fevereiro eu vou para os Estados Unidos tentar ganhar um pouco mais em cima da motocicleta e também poder me dedicar um pouco na hora do piloto Balbi, ter um pouco de tranquilidade e trabalhar para poder vir forte novamente no ano de 2016.

 

BRMX: A rotina de treinos continua? Ou tem uma pausa até 2016?
Balbi Junior: Com certeza o trabalho continua, mas a motocicleta vai ficar parada até o dia 5 de janeiro, quando começamos o Balbi School. A temporada no Brasil acabou muito tarde esse ano, foi muito extensa. Então, eu com meus quase 35 anos, preciso de descanso. Sinto dor no meu corpo inteiro, preciso de uma pausa para recuperar as energias e começar o ano que vem com disposição e pronto para mais uma ano de guerra.

 

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Irmaõs Balbi no Mundial de Motocross – Crédito: Youthstream

 

BRMX: Como você consegue se manter competitivo sendo até dez anos mais velho que alguns de seus concorrentes?
Balbi Junior:
Acredito que é porque sempre procurei evoluir no esporte, sempre procurando aprender. Fiz vários cursos. A Mariana começou a trabalhar com o Ryan Hughes, eu segui ela, treinei com ele durante vários anos ao lado de Eli Tomac e ao lado dos melhores pilotos do mundo. Treinei bastante tempo com David Vuillemin, que foi um cara fantástico e muito experiente. Tive a oportunidade de trabalhar também com Jack Vimond, que foi várias vezes campeão mundial, com Sebastian Tortelli também. Então consegui muita experiência e a Mariana também. E o dever de casa não para nunca. O motocross é um esporte em constante evolução e infelizmente o que era bom ontem, hoje já não é mais e amanhã vai ser diferente. As técnicas mudam. Se assistirmos um vídeo de dez anos atrás, parece que está todo mundo andando devagar, ninguém dava scrub. Assisto todas as corridas, e faço com muito prazer, porque sou fã do esporte.

 

BRMX: Quais são os planos para os próximos cinco anos de carreira?
Balbi Junior: Difícil de responder, a gente tenta planejar mas aprendi que na vida, e principalmente no motocross, é difícil planejar. Cada vez mais coloco meus planos, minha vida, na mão de Deus. Sempre tive muita fé. Sempre acreditei, mas cada vez procuro estar mais próximo e colocar meus planos e minhas vontades nas mãos Dele, e esperar, porque sei que Ele vai trazer o que há de melhor para mim. Tenho vontade de continuar competindo. O que sempre digo, enquanto for competitivo, vou estar alinhando para correr. No momento em que não sentir mais prazer, não for competitivo, vou encerrar. Já bati vários recordes… nunca um piloto brasileiro conseguiu vencer durante tanto tempo em categorias profissionais, nem mesmo os pilotos que eu sou fã como o Milton Becker ou Jorge Negretti. A minha primeira vitória profissional foi em 1998 e bem, hoje estamos em 2015 e venci no último fim de semana com os melhores pilotos do país dentro da pista, então é algo que me deixa muito orgulhoso, muito feliz, mas sei que seria impossível se Deus não tivesse abençoando o nosso trabalho, se eu não tivesse ajuda da minha família e de todos os envolvidos. Enfim, os próximos cinco anos vou estar envolvido no motociclismo, Balbi School vai estar crescendo cada vez mais e a gente vai estar pilotando na MX1, quem sabe a MX3. São coisas que estão em constante mudança e evolução. A cada momento, a cada ano vamos ver a melhor decisão. Quero muito agradecer aos meus patrocinadores, Pro Tork, Kawasaki, Balbi School, MP3, RFix, Neyfa e Elementos do Corpo.