A vida dentro de um dos principais centros de treinamento de motocross dos Estados Unidos

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Pepê Bueno durante o Mini O’s no ano passado – Foto: Christian Munoz

 

Um dia antes de fraturar o pulso em um treino na Georgia, Estados Unidos, o paranaense Pepê Bueno contou ao BRMX como está sua vida de atleta no Millsaps Training Facility (MTF), onde ele acorda, exercita, almoça, treina, janta e dorme motocross pelo menos durante cinco dos sete dias de cada semana desde o dia 4 de janeiro.

Já se passaram mais de 45 dias sob um rígido regime de aprimoramento das técnicas de motocross. Todos têm hora para acordar, para se aquecer, para almoçar, para se exercitar e para treinar. Aos 16 anos, leva vida de um profissional do motocross. Viver para o esporte é a sua função, seu cargo.

– O dia aqui começa com academia às 7h, para fazer um aquecimento. Pedalo 15 minutos e faço alongamento. Tomo um café e às 9h devo estar na pista. Fico lá até as 13h e depois vou almoçar. Das 15h até as 17h tem academia outra vez, aí para fazer fortalecimento e aeróbico mesmo. Depois, só quero saber de jantar e dormir. É puxado – contou o piloto brasileiro no domingo à noite, dia 16, por telefone.

E no fim de semana, o que você faz?

– Se não tem corrida, aproveitamos para lavar as roupas, arrumar as coisas no motorhome, e às vezes ir até uma cidadezinha vizinha daqui para dar uma saída do MTF. Neste fim de semana fui até lá comprar uma bike pra dar umas pedaladas – revela.

Vivendo em um motorhome próprio junto com o amigo e mecânico Jonas Tulio, dentro do imenso centro de treinamento que leva o nome da família de Davi Milsaps, o brasileiro previa correr no próximo fim de semana a primeira classificatória de área para o Loretta Lynn 2014, a competição mais importante do ano, que acontece somente em agosto.

Por causa da queda nos treinamentos desta segunda-feira, 17, ele está fora de combate por, pelo menos, dois meses. Vai passar por cirurgia nesta quarta-feira, 19, e voltar ao Brasil para se recuperar.

 

Sítio de motocross

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Pistas do MTF

 

Localizado na cidade do Cairo, no estado da Georgia, o Millsaps Training Facility (MTF) recebe dois tipos de “alunos”, conforme explica Pepê.

– Tem uns 40 pilotos morando aqui, participando das mesmas coisas que eu. Tem venezuelano, mexicano, inglês, gente de vários países. E tem também uma galera no camping, que é uma turma que vem para passar menos tempo, cerca de sete semanas. Nesta turma, tem até um brasileiro, o Dan Kirchof, que é mais focado no velocross. Mas são treinos separados – explica.

No embalo de trazer um pouco mais desta experiência, Pepê conta que existem três professores, sendo que a mãe de Davi Millsaps é uma deles, mas que o astro da Rockstar Energy KTM dificilmente aparece no MTF.

– Quando cheguei aqui, só treinava largada, curva, freada. Só técnica. Cheguei a enjoar (risos). Agora estamos fazendo baterias de 30 minutos. Eles pegam uns dez do mesmo nível, alinham no gate e fazem baterias. E eles exigem que a gente mantenha o mesmo ritmo durante os 30 minutos. Tem que ser consistente – diz.

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Pepê Bueno

São muito rígidos? Severos?

– Se chegar atrasado na academia, ou qualquer coisa, é “mijada”. Eles são muito corretos, tem que ser tudo certo. Toda vez que entro na academia, tenho que me pesar, medir, ver a pressão, falar sobre o treino passado. Todos os dias! E tem também um questionário psicológico que deve ser preenchido no site todas as noites. Aí, no outro dia, eles fazem comentários a respeito antes de começar tudo outra vez – conta.

E como você faz com internet, televisão, estas coisas?

– Internet, pego a wi-fi deles no nosso motorhome. TV tem, mas a gente nem assiste.

Mas o AMA SX, como faz pra ver?

– Tem uma casa aqui que tem toda estrutura (Bunk House). Lá tem TV e a galera se reúne pra ver. Sábado passado, o Anthony Rodriguez, o Gavin Faith e o Paul Coates, que também treinam aqui, estrearam. A galera foi a loucura torcendo pelo Rodriguez, que chegou a andar em quarto – lembra.

Esses pilotos estão por aí direto?

– Sim, mas só treinam supercross agora. A gente encontra eles na academia. O Jordan Smith e o Dakota Alex, que são dois tops que estão subindo pro profissional agora, também estão sempre aqui – comenta.

 

Planos frustrados

A lesão sofrida nesta semana frustrou os planos de Pepê. Na sua agenda estavam previstas diversas competições nos próximos 30 dias, passando por Millcreek Spring Classic, Ricky Carmichael Daytona SX, Oak Hill e Freestone James Stewart Championship, além de uma possível participação na abertura do Brasileiro de Motocross, em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul.

– Infelizmente tive esta lesão. Agora é recuperar e voltar mais forte ainda – finaliza.

 

:: Video mostra um pouco da estrutura do MTF